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Sophie Bailey
A exaustão tem sido minha sombra. É final de um dia de trabalho na lanchonete, e o cheiro de fritura parece ter se impregnado na minha pele. Trabalho como garçonete desde que me entendo por gente, mas de uns anos para cá, essa labuta mal paga se tornou uma corrida contra o tempo. Por ter perdido meus pais muito cedo, fui criada por minha avó, a Vó Eliza, que é a minha rocha. Infelizmente, a saúde dela tem ido por água abaixo. Ao chegar em casa, a primeira coisa que faço é ir até o quarto. Mas antes que eu possa sequer chegar à porta, sou interceptada por Mia, a enfermeira que contratei. — Não precisa, senhorita Bailey. — Mia me informa, com a voz baixa. — Eu a mediquei agora há pouco e ela dormiu em seguida. — Como ela está, Mia? — pergunto, com o coração acelerado. Sinto a pontada da apreensão só de olhar para o rosto da enfermeira. — Por favor, não esconda nada de mim... — minha voz soa um fio de aflição. Mia respira fundo, e a verdade cai sobre mim como um bloco de gelo: — A tosse dela está piorando diariamente, Sophie. Se não conseguirmos um tratamento mais eficaz, com urgência... pode ser que ela não resista por muito tempo. Murcho os ombros. Descobrimos recentemente um câncer em seus pulmões devido ao vício pelo cigarro, e o tratamento é caríssimo. Os medicamentos são uma fortuna. Sendo garçonete, jamais conseguiria pagar todas as despesas e nos manter com comida na mesa. — Não sei mais o que fazer... — profiro, a cabeça baixa, sentindo as lágrimas subirem, mas Anne surge e me puxa para a sala. — Amiga, não podemos desistir, eu não vou permitir isso. Iremos arranjar uma solução. — Anne, minha melhor amiga, é a personificação da ação. — Cadê seu notebook? Em meio à minha frustração e raiva, por não conseguir nada com meu diploma em Tecnologia da Informação, Anne me força a agir. Enquanto ela prepara algo para comermos na cozinha, eu me afundo na tela do computador, vasculhando o inferno das vagas de emprego. Minha mente divaga, e eu me pego pensando no Max, na dança e no dinheiro fácil que ele falava anos atrás, quando estávamos juntos na escola de dança... Balanço a cabeça com força. Não. O caminho é o terno. O caminho é o escritório. Eu repito para mim mesma. De repente, Anne surge na sala, os olhos brilhando. — Amiga, corre aqui! — grita, e eu dou um pulo. — Desculpa, amiga. Mas acho que encontrei o trabalho perfeito para você. Olha isso! Sento ao lado dela e pego o notebook. O anúncio é para Secretária Pessoal do CEO em uma empresa de tecnologia de elite: Mason Corp. O salário? Suficiente para me tirar do buraco. — É uma excelente oportunidade, mas... não sei se sirvo para isso. — confesso. — Como não, Soh? Você é perfeita! Vai iniciar como secretária, mas essa chance é única! Pensa no tratamento da Vó Eliza! — Anne me força a encarar o monitor novamente. Eu engulo em seco, sinto-me uma fraude, mas a vida da Vó Eliza é o meu único foco. — Tudo bem, eu irei. — digo com determinação, e enviamos o formulário preenchido. (...) Dias depois… Já se passou uma semana, e eu já tinha perdido a esperança. Eu, uma pobretona, sem experiência corporativa de verdade, pensando em trabalhar no Mason Corp... chega a ser cômico! Enquanto limpo as mesas da lanchonete, sou tirada dos meus devaneios por Anne, que corre em minha direção, ofegante. — Amigaaaaa! Seu celular! — Calma, respira. O que houve? — Ligação! É da Mason Corp. Querem falar com você! — Ela me entrega o aparelho, e suas mãos tremem. Meus olhos estão arregalados. É real. — Atende logo, garota! — Anne grita. Coloco o celular no ouvido, tentando controlar a voz. — Alô. — Olá, senhorita Bailey. Sou Harper, diretora de Recursos Humanos da Mason Corp. A senhorita se candidatou à vaga de secretária, ainda tem interesse? — Claro! — respondo, mais alto do que planejei. — Desculpa, é que estou precisando muito desse emprego. A mulher ri. — Tudo bem, eu entendo. A senhorita poderia comparecer à nossa empresa amanhã às oito, para uma entrevista? — Posso, sim. — Tento conter o entusiasmo, mas a vontade de gritar é enorme. — Ok! Aguardamos sua presença amanhã, até mais. — Obrigada. — agradeço e encerro a ligação. — E aí? — Anne nem espera que eu fale. Eu a encaro, faço um pequeno suspense, e ela pede, impaciente: — Fala logo, caralho! — Eu consegui, amiga! Tenho uma entrevista amanhã! — seguro as mãos dela e começamos a pular. Sorte que não tem ninguém no estabelecimento. — Adeus pobreza, adeus vida miserável! — Anne fala, divertida. — Mas não se empolga muito, ainda não tem nada certo. — comento, e ela bufa. — Para de ser pessimista, é claro que você vai conseguir. Temos que sair para comemorar! — Comemorar o quê? É só uma entrevista. — Justamente isso, querida. Nem uma mísera entrevista você estava conseguindo. Esse é um grande passo! — Ela me convence. — Aonde iremos? — Àquele barzinho que inaugurou recentemente e estou louca para ir. — Ficou louca? Aquele lugar só é frequentado por gente rica e poderosa, me recuso a isso. — bato o pé. — Não se recusa a nada! Nós merecemos esse luxo uma vez na vida, e a senhorita vai, sim! Fomos interrompidas pela carranca de Emma, que nos manda de volta ao trabalho. No fim do expediente, Anne me arrasta. Antes de sairmos, aviso a Mia que chegarei tarde. No táxi, sei que não posso me dar ao luxo de gastar, mas Anne pisca para mim, garantindo que "já pensou em tudo". Chegamos ao bar. Assim que entro, sinto a atmosfera de luxo e poder. Os homens de terno parecem ter saído de filmes caríssimos, e eu me sinto subitamente exposta. — Amiga, teremos que vender um rim ou lavar os pratos para pagar o que consumirmos. — sussurro, chocada com o menu, mas Anne me puxa para a mesa. — Relaxa, eu já pensei em tudo. Dois martinis, por favor. — ela pede ao garçom, sem hesitar. Eu tento me concentrar na conversa, mas, de repente, meu olhar é fisgado. Um homem de terno perfeitamente alinhado, alto e de presença imponente, passa pela porta. Ele está acompanhado, mas seu mistério é magnético. E, como se soubesse que estava sendo observado, ele olha diretamente em minha direção, fazendo nossos olhares se encontrarem. Um calafrio elétrico percorre minha pele, e meu coração dispara. Meu corpo aquece instantaneamente, e eu sinto uma atração poderosa e proibida.






