Fica Comigo

Clara

O ar noturno estava doce, carregado do cheiro de canela e açúcar queimado das barraquinhas. As luzes coloridas penduradas entre as tendas criavam um efeito mágico, e pela primeira vez em meses, eu me senti... leve.

A última semana na Ferraz tinha sido um turbilhão. Reuniões intermináveis, olhares atravessados dos colegas que ainda me viam como a "substituta da Teresa", e a constante sensação de que, a qualquer momento, eu iria falhar. Mas nada, absolutamente nada, tinha sido tão torturante quanto evitar ele.

Theo Ferraz.

O herdeiro que parecia ter prazer em surgir nos lugares mais inesperados, sempre com aquele sorriso torto e os olhos claros que me desnudava sem tocar.

Por isso, quando Laís, a recepcionista de vinte e um anos que sempre tinha um sorriso fácil e histórias irreverentes, me convidou para a Festa da Colheita, um evento tradicional da cidade com shows e barracas gastronômicas, eu aceitei antes mesmo de pensar.

Precisava sair daquela bolha de tensão.

— Você tem que experimentar o brigadeiro de café! — Laís puxou meu braço, seus dedos com unhas pintadas de rosa-choque apertando meu pulso. — É literalmente a melhor coisa do mundo!

Ela era um furacão de energia, com seus cachos negros balançando a cada movimento e um brilho nos olhos que parecia nunca se apagar. Diferente de mim, que ainda segurava meu copo de suco como se fosse um salva-vidas.

— Está bem! — ri, deixando-me levar.

Entramos na tenda dos doces, um espaço aconchegante decorado com toalhas xadrez e potes de vidro cheios de guloseimas. Laís enfiou um brigadeiro na minha boca antes que eu pudesse protestar, e o sabor intenso do café e chocolate derreteu na minha língua, quase me fazendo gemer.

— NÃO É INCRÍVEL?! — ela gritou, como se tivéssemos descoberto o segredo da vida.

Eu estava prestes a concordar quando senti algo estranho. Uma presença. Algo que fez os pelos do meu braço se arrepiarem antes mesmo de meu cérebro processar.

— Oh. Meu. Deus. — Laís parou de mastigar, os olhos arregalados como pratas. — Theo Ferraz acabou de chegar.

Meu coração parou.

Depois disparou, violento, como se quisesse fugir do meu peito.

Não olhe. Não olhe. Não…

Olhei.

E lá estava ele.

Theo Ferraz, em carne e osso, na entrada da tenda como se fosse uma miragem.

Vestia uma camisa preta quase colada em seu corpo e, como sempre, as mangas estavam arregaçadas até os antebraços, mostrando as veias salientes que eu lembrava demais de ter imaginado contra minha pele em noites de insônia.

E o pior?

Ele já estava me encarando.

Seus olhos claros, ainda mais dourados sob as luzes quentes, encontraram os meus com uma intensidade que me fez engolir seco.

Laís assobiou baixo.

— Ou ele te deve dinheiro, ou você já ficou com ele.

— Nenhum dos dois! — respondi rápido demais, minhas bochechas queimando.

Theo deu um passo para dentro da tenda, seguido por dois amigos, homens altos e bem-vestidos que riram de algo que ele disse. Mas ele não desviava o olhar de mim.

— Clara. — Meu nome na boca dele era um pecado. Baixo, rouco, como se só nós dois pudéssemos ouvir. — Não sabia que você era fã de doces.

— Não sabia que você era fã de festas populares. — retruquei, tentando manter a voz estável.

Ele sorriu, lento, e meu estômago deu um giro perigoso.

— Tem muita coisa que você não sabe sobre mim.

Laís, percebendo a tensão, mordeu o lábio e sussurrou:

— Vou buscar mais brigadeiros. Você... se vira aqui.

Antes que eu pudesse protestar, ela desapareceu entre as pessoas, deixando-me sozinha com ele.

Theo fechou a distância entre nós em três passos largos. O cheiro dele logo invadiu meus sentidos.

— Você sumiu essa semana. — Ele murmurou, pegando um bombom da mesa ao meu lado sem desviar os olhos dos meus.

— Trabalhei. — Mentira. Eu fugi. De nós.

— Hm. — Ele levou o doce à boca, os lábios se fechando em volta dele de um jeito que não deveria ser tão sensual. — Pensei que talvez estivesse com medo.

— De você? — Soltei uma risada curta, tentando soar mais confiante do que me sentia. — Não sou covarde.

Theo sorriu, lento, como um predador diante da presa.

— Então, prove.

Antes que eu pudesse responder, ele pegou minha mão, seus dedos entrelaçando-se nos meus com uma firmeza que me tirou o fôlego.

— Vem comigo.

Não era um pedido. Era um desafio.

— Onde? — Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria.

Ele não respondeu. Apenas puxou-me para fora da tenda, seu corpo quente protegendo-me da multidão enquanto nos afastamos das luzes, dos sons, da festa. Cada passo era mais escuro, mais silencioso, mais nosso.

Meu coração batia tão forte que eu temia que ele pudesse ouvir.

Paramos atrás de uma grande árvore decorada com luzinhas fracas, longe de tudo e de todos. A música da festa era só um eco distante agora, o único som claro era a nossa respiração acelerada.

Theo virou-se para mim, seus olhos brilhando na penumbra.

— Por que trouxe-me aqui? — perguntei, tentando manter a voz firme.

Ele não respondeu com palavras.

Em vez disso, ergueu uma mão e tocou meu rosto, seus dedos deslizando suavemente pela minha pele até se perderem no meu cabelo. Seu olhar fixou-se nos meus lábios, e eu senti o mundo desmoronar ao meu redor.

— Você sabe por quê.

E então ele se inclinou, devagar, como se me desse tempo para fugir.

Mas eu não fugi.

Quando seus lábios finalmente encontraram os meus, foi como se algo dentro de mim explodisse. Seu beijo era quente, insistente, perfeito. Suas mãos apertaram meu cinto, puxando-me contra ele, e eu me perdi naquele toque, no sabor doce do café que ainda estava em sua boca, no jeito que seu corpo se encaixava no meu como se fôssemos feitos um para o outro.

Não havia festa. Não havia Ferraz Holdings. Não havia regras.

Só existiam nós.

E, naquele momento, eu não queria mais nada.

Estávamos sozinhos. Invisíveis.

Não havia mais palavras. Só o calor urgente da boca dele contra a minha, as mãos em minha cintura, o corpo pressionando o meu contra a árvore. Beijava como quem precisava, como quem tinha esperado demais.

Respondi no mesmo ritmo.

Minhas mãos escorregaram pelo seu peito, sentindo cada músculo sob a camisa fina. Seus dedos cravaram em minha cintura e depois deslizaram pelas minhas costas, puxando-me para mais perto. Tudo em mim gritava que aquilo era errado. Que era perigoso.

Mas tudo o que eu queria era mais.

Theo se afastou por um segundo, os olhos brilhando de desejo e algo mais… vulnerável.

— Eu não vou te tratar como as outras, Clara. — disse ele, a voz rouca. — Não vou brincar com você. Mas eu preciso saber… você quer isso?

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