O sol nascia tímido por entre as janelas antigas, mas a luz pouco mudava o que sentiam por dentro. O quarto onde estavam era amplo, silencioso, mas carregado de um incômodo invisível — o tipo de peso que não vinha do corpo, e sim da alma.
Mirela, sentada na beira da cama, observava as próprias mãos trêmulas. Os braços ainda carregavam marcas roxas, cortes leves e o olhar perdido de quem tinha visto o pior lado da crueldade humana. O sequestro ainda parecia um pesadelo do qual ela não conseguia acordar.
Clara cruzava os braços, andando de um lado para o outro. Tentava disfarçar a dor nas pernas e a rigidez nos ombros, mas o que mais a incomodava era o silêncio da família.
— “Mirela... nós duas estamos machucadas. Ficamos horas naquele lugar... horas.” — disse, num tom contido de revolta. — “E só os seus pais estão aqui conosco. Sua mãe não desgrudou de você. Mas... e os outros?”
Mirela balançou a cabeça, ainda confusa.
— “Eu... eu não consigo acreditar. A tia Ana e o tio Augusto foram