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Capítulo 3 — Chama Proibida

O grande salão de reuniões da Rurik Motors exalava imponência. As janelas de vidro, que iam do chão ao teto, ofereciam uma vista privilegiada da cidade de Moscou, enquanto a mesa oval de madeira escura dominava o centro da sala. O couro preto das cadeiras, o brilho discreto dos metais e a ausência de qualquer excesso decorativo denunciavam o nível de exigência ali dentro.

Susan sentiu o peso do ambiente assim que cruzou a porta.

Respirou fundo, ajustou os óculos com um gesto discreto e apertou a prancheta contra o peito. Seu primeiro dia já começaria com uma reunião envolvendo as principais mentes da empresa. E Dmitry Rurik.

Ela nunca o havia visto pessoalmente, mas todos sabiam quem ele era. O homem por trás do império. Um nome que carregava autoridade e mistério com a mesma facilidade com que vestia seus ternos caros.

Caminhou até o lugar reservado a ela, ciente dos olhares que a seguiam. Estava acostumada à atenção – às vezes curiosa, às vezes julgadora. Mas naquela sala, esperava que olhassem além do corpo e enxergassem sua competência. Era isso que importava.

Poucos minutos depois, as portas duplas se abriram. E o ar mudou.

Dmitry entrou.

Era como se o ambiente se contraísse à sua volta, curvando-se à presença que dominava sem esforço. Alto, os ombros largos sustentando um terno escuro impecável, os cabelos brancos contrastando com a pele pálida e os olhos… os olhos eram uma sentença.

Azuis. Intensos. Penetrantes.

Susan prendeu a respiração sem perceber quando ele passou por trás de sua cadeira. O perfume amadeirado, envolvente e masculino, invadiu seu espaço, despertando algo que ela não soube nomear.

E então, ele a olhou.

Por um instante, apenas isso: olhos nos olhos.

Mas foi o suficiente.

Dmitry parou. O passo seguinte foi retardado por uma fração de segundo. Internamente, o Lycan estremeceu.

Aquele cheiro.

Doce e quente. Natural. Nenhum perfume conseguia mascarar. Era ela.

Seu olhar mergulhou nela como uma lâmina precisa, cortando a superfície e indo fundo — mais fundo do que devia. Observou os cabelos ruivos presos com precisão, as lentes dos óculos emoldurando os olhos verdes e atentos. As sardas suaves, a pele clara... E então, por um segundo, o olhar dele desceu, capturando as curvas delineadas sob o blazer justo.

A Fera se ergueu.

O Lycan, contido por anos de disciplina, de rituais de autocontrole, agora se debatia dentro dele. Como um animal acorrentado que, ao reconhecer o cheiro de sua fêmea, exige liberdade. Exige posse.

Dmitry desviou o olhar com esforço.

— Vamos começar. — Sua voz saiu grave, mais baixa do que o habitual.

A reunião teve início, mas ele não ouvia.

A voz do chefe de marketing se tornava um zumbido indistinto enquanto o cheiro dela preenchia seus sentidos, mais vívido a cada respiração. Era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido, restando apenas ela naquela sala — e ele, lutando contra si mesmo.

“Ela é diferente.”

O Lycan sussurrava, rosnava, impaciente.

"Ela é nossa. Agora. Reclame-a."

Dmitry mantinha a mandíbula cerrada. Suas mãos estavam pousadas sobre a mesa, imóveis, mas seus sentidos estavam à flor da pele. A fera queria saltar. Queria tocá-la. Prová-la. Marcar cada pedaço daquela pele delicada com seus dentes, com sua essência.

"Não."

Mas era uma negação fraca. Instável.

Seus olhos se voltaram para ela novamente. Susan não percebeu de imediato, estava anotando algo, o cenho levemente franzido. E Dmitry a devorava com o olhar.

Curiosidade. Desejo. Instinto.

— Susan. — Sua voz cortou a sala como uma lâmina.

Ela ergueu o rosto, surpresa por ser chamada. O nome em sua boca soou pessoal demais. Íntimo.

— Sim, senhor?

Ele se inclinou levemente, sem tirar os olhos dela.

— Você trabalhou na Semyon Motors, correto?

— Sim. — Ela respondeu com firmeza, mesmo sentindo o coração disparar. — Fui assessora de publicidade por três anos.

Dmitry assentiu lentamente. O tom de voz era neutro, mas seus olhos… Seus olhos gritavam.

— E o que você acha da nossa abordagem de marketing?

A pergunta pegou a sala desprevenida. O chefe de marketing silenciou, sem saber se devia continuar. Mas Dmitry não lhe deu atenção. Toda sua energia estava voltada para Susan.

Ela umedeceu os lábios, consciente de cada olhar, mas ainda mais consciente daquele. O dele.

— A campanha foi bem executada, os números comprovam isso. — Começou com cautela. — Mas acredito que a comunicação visual poderia ser mais ousada. Especialmente nas redes sociais. O público mais jovem busca algo menos institucional, mais emocional.

Dmitry a ouviu em silêncio, cada palavra dela entrando como um comando direto em sua pele.

— Você acredita que devemos ser mais... Acessíveis?

— Acessíveis não é a palavra. — Ela manteve o olhar. — Mas autênticos. Uma marca forte precisa criar conexões emocionais. Não basta vender. É preciso fazer sentir.

O Lycan vibrou dentro dele.

"Ela entende. Ela vê além."

Por um instante, ele não era mais Dmitry, o CEO frio e calculista. Era apenas um predador enfeitiçado pelo cheiro da sua fêmea.

Ele sorriu. Apenas um traço discreto no canto da boca, mas que fez seu rosto esculpido parecer mais perigoso. Intrigado. Fascinado.

— Vamos conversar mais sobre isso depois. — Disse, com a voz mais baixa do que o necessário.

Susan assentiu. Mas seu coração acelerou, como se já soubesse que aquele depois não seria apenas uma conversa profissional.

A reunião seguiu, mas para Dmitry, nada mais fazia sentido. Tudo era ruído. Tudo era espera.

Aquela mulher havia entrado em sua vida com uma presença que desafiava razão, status, e até a maldita maldição que carregava no sangue.

E agora, o Lycan dentro dele não queria apenas observá-la.

Queria marcá-la.

E ele, por mais que tentasse negar, queria também.

***

Quando recebeu a notícia de que havia sido contratada, Susan deu pulos de alegria no corredor do pequeno apartamento que dividia com as amigas. Mas agora, diante dele, a euforia cedia espaço a algo mais incômodo. Um receio sutil, difícil de nomear, mas impossível de ignorar. Ela estava chamando atenção. Mais do que pretendia. E isso não era exatamente bom. Não diante de um Lycan, considerando o que ela era.

A sala de reuniões foi se esvaziando aos poucos. O arrastar de cadeiras e o farfalhar de papéis enchiam o ambiente de sons breves, quase apressados. Dmitry permanecia sentado à cabeceira da mesa de vidro, postura impecável, o olhar fixo. Os dedos longos deslizavam, sem pressa, pelo apoio da poltrona de couro. Seus olhos azuis, tão frios quanto a cidade além das janelas, seguiam os gestos de Susan com atenção indevida.

Ela recolhia o bloco de anotações, ajustava os óculos com um gesto distraído e prendia uma mecha rebelde de cabelo atrás da orelha. A luz da sala realçava os reflexos acobreados dos fios, o contraste com a pele clara e as sardas delicadas. Mas não era só isso.

Não era só a aparência.

Era algo mais. Algo que o incomodava por ser... Familiar.

— Senhorita Grigorieva, fique mais um momento. — Sua voz ecoou firme. Não havia gentileza, mas tampouco soou rude.

Susan parou, surpresa, a mão ainda sobre o caderno. Endireitou a postura, sem esconder a hesitação que cruzou por seus olhos.

— Claro, senhor Rurik.

Alguns funcionários se entreolharam antes de sair, como se soubessem que havia algo estranho ali. Quando a porta enfim se fechou e o silêncio caiu sobre a sala, Dmitry levantou-se com calma. Suas mãos foram aos bolsos da calça escura enquanto caminhava até a ampla janela.

As luzes de Moscou piscavam lá fora, indiferentes à inquietação que crescia dentro dele.

Ele a sentia.

O cheiro dela.

A pulsação acelerada.

A tensão contida em cada músculo.

Susan permaneceu de pé, próxima à cadeira onde estivera, segurando o bloco contra o corpo como se aquilo fosse um escudo. A tentativa de manter a postura profissional era evidente. Admirável. Quase comovente.

— Sobre a campanha. — Dmitry começou, sem se virar. Sua voz estava controlada, neutra. — Você trouxe observações interessantes hoje. Gostaria de ouvir mais... Entender sua visão com clareza.

"Mentiroso." A voz do Lycan soou baixa, irônica, arrastando-se em sua mente como fumaça. "Você só quer ver se ela sente. Se a conexão é real. Admita, você quer que ela reaja."

Ele ignorou. Ou tentou.

Virou-se devagar, e seu olhar encontrou o dela.

Susan não recuou. Havia algo medo, sim, mas também determinação.

— Acredito que a Rurik Motors possui uma identidade forte baseada em tradição e excelência, senhor Rurik. — Ela começou, com mais firmeza do que ele esperava. — Mas vejo espaço para explorar a emoção por trás disso. A experiência de dirigir um carro da Rurik... A liberdade, o poder. Não é só sobre o produto. É sobre como ele faz a pessoa se sentir.

"Ela vê mais do que aparência. Mais do que status." O Lycan sussurrou. "Ela entende."

Dmitry se aproximou devagar. Apenas um passo. Pequeno o suficiente para não parecer uma ameaça. Lento o bastante para observar o impacto. E viu: os dedos dela apertaram o bloco com mais força, o peito subiu em uma respiração contida, e seus olhos vacilaram por um instante antes de voltar a encará-lo.

— Emoção, então. — Ele repetiu. A palavra pareceu estranha em sua boca. — E como sugere que transmitamos isso?

— Campanhas narrativas. — Ela respondeu, com um leve brilho no olhar. — Histórias que mostrem pessoas reais vivendo momentos inesquecíveis com os carros. Não apenas imagens bonitas e frases de impacto. Mas conexões. Experiências. Verdade.

Dmitry a observou em silêncio por alguns segundos. E, pela primeira vez em anos, sentiu o controle escorregar. Não por completo, mas o suficiente para incomodar.

Ela não se curvava. Não tremia. E mesmo que estivesse nervosa, não o olhava como um monstro ou como um homem a ser bajulado.

"Ela é diferente." O Lycan murmurou, quase como reverência. "Ela é nossa."

A respiração de Dmitry pesou. Ele inspirou fundo, buscando estabilidade. Não. Não podia ser. Não tão cedo. Não com ela.

— Essa proposta será avaliada. — Disse, enfim. A voz firme, de volta ao tom profissional. Mas havia uma sombra nos olhos. Um ponto cego crescendo no centro da razão.

Susan franziu o cenho, talvez percebendo a mudança repentina.

— Senhor Rurik...?

Ele piscou, desviando o olhar por um instante.

— Dmitry. — Corrigiu, sem pensar.

Ela arregalou um pouco os olhos.

— Perdão?

— Quando estivermos discutindo ideias... me chame pelo nome. — Ele a fitou de novo. — Sem necessidade de formalidades aqui dentro.

Susan hesitou.

— Tudo bem... Dmitry.

Houve um silêncio tenso após aquilo. A forma como seu nome saiu dos lábios dela... Era errada. Perigosa. Porque agora, não era só o cheiro, nem só o som da voz ou a firmeza nos argumentos.

Era ela.

E o instinto começava a gritar, mesmo que ele se recusasse a escutar.

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