●Aneliese Moore●
O relógio na parede, no canto da sala, marca 23h10.
Observo Alexander tentar calçar os sapatos enquanto permaneço encostada no sofá, braço cruzados e um meio sorriso no rosto. Meus olhos seguem cada movimento dele — o modo distraído como ajeita o cadarço, o cabelo caindo levemente sobre a testa, a expressão calma demais pra quem acabou de me roubar o ar algumas horas atrás.
Ele parece alheio ao meu olhar, ou talvez apenas finge que não percebe.
Nas horas que se seguiram ao beijo, conversamos como se o tempo não tivesse pressa. O café esfriou, o bolo de cenoura quase acabou, e em algum ponto da madrugada ele me fez rir mais do que eu gostaria de admitir. Falamos sobre família, sobre a vida, sobre tudo aquilo que se diz quando o silêncio começa a ser íntimo demais.
Em meio às risadas, ele perguntou o motivo de a minha família estar tão empenhada em me arrumar um namorado. Eu quis dizer a verdade — que eles acham que sou uma causa perdida, uma alma solitária fadada a mo