05 - Luna Marcondes

Luna Marcondes

Hoje é o dia da tourada e estou muito empolgada com a festa, todos na cidade se empenham muito para ser divertida, muitas pessoas vêm de fora só para assistir às pessoas correndo dos touros pelas ruas da cidade e os levando em direção A Plaza de Toros.

Eu, particularmente, não gosto muito, não pela morte dos animais, mas por que é extremamente perigoso para os toureiros, no ano passado dois foram mortos pelos chifres.

— Luna, você ainda não desceu? Daqui a pouco seu pai manda te levar pelas saias, todos já estão prontos... — Henriqueta entra no meu quarto interrompendo meus pensamentos.

Apresso para terminar de me arrumar, hoje coloquei um vestido branco com listras azuis e um pequeno chapéu, após ficar pronta descemos para a sala onde realmente todos estavam a nossa espera.

— Finalmente, agora podemos ir, meu pai ou não teremos bons lugares para sentarmos. — Tomás fala, irritado com a minha demora.

— Tomás, deixe de ser inconveniente, a sua irmã estava se arrumando. — Meu pai repreende meu irmão, que apenas baixa a cabeça e espera dessa vez calado.

— Marília, acredito que esteja tudo preparado para podermos sair. — Meu pai pergunta para minha mãe.

Já pegando em sua mão e passando por seu braço, ela apenas concorda com a cabeça.

Marcos se aproxima de mim e pega minha mão que também passa pelo seu braço e me leva para fora, já minha amiga Henriqueta vai com seus pais e nos encontraremos lá.

— Meninos vocês podem ir com o Felipe que logo chegaremos lá e tentaremos achar vocês nas arquibancadas, tentem sentar no mesmo lugar que no ano passado. — Meu pai comunica aos meus irmãos.

Estranho a decisão do meu pai e ele me olha para me explicar.

— Vamos à casa do Conde, você irá com António, então tente sorrir um pouco, por favor minha menina. — Meu pai diz com carinho.

Minha mãe anda preocupada com minhas emoções, que estão muito negativas ultimamente, talvez seja por isso essa mudança de planos, já que iriamos todos juntos, como a todos os anos.

— Tudo bem, mamãe, tentarei rir um pouco, prometo que farei o meu melhor. — Digo deixando um sorriso aparecer.

Ainda, mas agora que António me fez a proposta para podermos nos conhecer ou pelo menos tentarmos ser amigos.

Meus pais e meu irmão me olham com amor, sei que eles querem o melhor para mim, sei que eles esperam que consiga me relacionar de alguma forma com António Venturini.

Subimos na charrete que minha escolheu para nos levar hoje, a distância até a casa do Conde não era tão longa, então não demoramos a chegar na grande casa. Para a minha surpresa, assim que paramos na frente à casa do Conde Venturini podíamos ver António falando com alguns empregados.

Assim que desço da charrete percebo que quando me ver seu rosto se ilumina, abaixo meu olhar estranhando a sua felicidade.

Fico com vergonha com o olhar que António me lança, mantenho a cabeça baixa e fecho meu guarda-sol, ficando apenas com meu chapéu me protegendo do sol que começava a esquentar.

Minha mãe se põe ao meu lado enquanto António se aproxima de mim com um sorriso em seu rosto, observo a pequena reverência ao me cumprimentar.

— Faço muito gosto em rever a senhorita novamente, esperava nos ver apenas a noite. — Sinto meu rosto mais quente, vejo que ele mantêm seus olhos fixos em mim.

— Meu pai tem interesse que mantenhamos uma boa relação e como teremos uma festa hoje, nada melhor que termos um pouco mais de aproximação, não acha? — Digo em um tom baixo.

Ele estreita os olhos e me encara, até meu pai chamar nossa atenção.

— Vocês estão prontos para sairmos? Se demorarmos muito, não ficaremos em um bom lugar para assistir. — O meu pai diz.

— Vamos todos e ficamos no espaço que sempre fico todos os anos, será bom para que todos os rapazes vejam que a sua filha está comprometida com meu filho. — O Conde surge na entrada da casa.

Meu futuro sogro se aproxima e estende a mão para minha mão para cumprimentá-la e logo depois para mim, sorrio quando ele dá três tapinhas em minha mão e sorri.

— Desculpa Luna, às vezes meu pai é um pouco inconveniente e acaba falando demais. — Ele beija minha mão e passa pelo seu braço.

Mesmo envergonhada, fico esperando meu pai terminar a sua conversa com o Conde para podermos sair. Quando finalmente ele se dá por satisfeito em falar sobre a colheita, nos preparamos para voltar para charrete.

Arrumo meu chapéu que bagunçou devido o vento. António pede minha mão para podermos ir para a charrete, vamos em direção a Plaza de toros sozinhos e meus pais vão com o Conde, já meu irmão Marcos vai com um dos cavalos do Conde.

António senta ao meu lado e não deixo de notar que recebemos vários olhares por onde passamos. Tanto mulheres como vários homens, me encolho ao lado de meu futuro noivo que parece não ficar satisfeito com os diversos olhares que recebemos.

— Percebi que seu irmão está de cara amarrada por qual motivo ele está assim? — António pergunta sem pudor algum.

— Bom... não sei se posso contar ao senhor sobre isso... — Ele me interrompe.

Inclino a cabeça de lado pensando se devo contar ou não o motivo de Marcos está tão pensativo, a ponto de estar irritado.

— Estaremos casados em pouco tempo Luna, então não me trate de senhor ou alguma dessas reverências, para você sou apenas seu António ou qualquer nome que deseja me chamar, não precisamos de formalidades. — Concordo com a cabeça.

Fazemos o percurso até o nosso destino conversando, percebo que António é um bom rapaz, é muito educado e galanteador, tento ao máximo manter uma conversa com ele sem virar um tomate a cada uma das suas perguntas.

— Luna o que deseja que seja feita nos vinhedos em Luz de la Luna? — António pergunta.

Ele me perguntou mesmo o que acho?

— Não entendi, António, está pedindo minha opinião? — Ele concordou com a cabeça.

— Seremos um casal, mas os vinhedos são seus e tem que me dizer o que deseja que eu faça, administraremos juntos e a faremos prosperar, exceto se não quiser se envolver com nada disso. — Olho para ele o admirando ainda mais.

Nunca que um homem perguntaria a uma mulher o que deseja que seja feito com o seu dote. Por isso estou tão surpresa com a sua pergunta e mais ainda a sua proposta.

— Fico encantada em saber que espera a minha opinião sobre os vinhedos. — Digo lhe olhando no rosto. — Espero que ela prospere, que cresça e principalmente que o nosso vinho seja conhecido em outras cidades.

— Mas não menos importante, quero aumentar os valores pagos para cada um dos nossos trabalhadores. — Vejo o seu olhar ficar confuso com o que digo.

— Trabalhadores? Pensei que o senhor Marcondes tivesse escravos! — Nego com a cabeça sorrindo.

— Não temos escravos há vários anos, deve ter pelo menos uns cinco anos que meu pai os libertou, os que trabalhavam na fazenda ele passou a pagar pelos seus serviços. — O vejo rir e fico tranquila com a sua reação.

— Não tenho interesse em ter escravos e se vocês já têm pessoas que trabalham para vocês, melhor ainda. — Minha vontade é de abraçá-lo.

— Tenho vontade de te abraçar e agradecer por manter os nossos trabalhadores todos lá, muito obrigado mesmo António. — Digo sendo sincera.

Observo quando ele põe as rédeas da charrete embaixo de seu pé e se vira na minha direção e sou surpreendida por um abraço apertado, a vontade de me esconder com vergonha é grande.

Nunca fui abraçada por outro homem que não fosse da família. Fico sem reação enquanto os seus braços fortes me apertam.

— Desculpa por ser um pouco atrevido, não farei mais isso. — Sinto que estou vermelha. — Você é linda Luna e fica mais linda com esse rubor, espero mesmo que possamos construir uma relação.

Ele diz deslizando um dedo por minha bochecha, criando uma trilha de calor por onde toca em minha pele. Consigo encontrar a minha voz que havia pedindo no momento que ele me abraçou.

— Obrigada pelo elogio e não se preocupe, irei me esforçar também. — Digo a ele e tento lhe dar um sorriso amigável.

Chegamos onde acontecerá a tourada, António me ajuda a descer da carruagem, segura em minha mão e passa por seu braço. Posso ser nova, mas não sou boba, sei que ele está me exibindo e vejo que ele faz isso com orgulho.

Havíamos parado um pouco mais longe de nossos pais, caminhamos devagar enquanto ele me conta sobre alguns planos que tem para a fazenda. Alcançamos nossos pais e passamos a caminhar na frente deles.

Vejo que a Henriqueta chega e estava com um vestido amarelo floral, com seu chapéu e guarda-sol, meu irmão se aproxima da minha amiga então toma a sua mão passando por seu braço, logo os pais dela vem logo atrás.

— António, meu irmão e minha amiga pode ficar conosco? — Pergunto temerosa, não tenho certeza das opiniões abolicionistas do Conde.

— Claro, querida, vou chamá-los. — E quando ele olha para a Henriqueta ele se surpreende e mesmo assim os convida. — Seus pais aceitaram o relacionamento deles?

Não me ofendo com a pergunta, mas tenho ciência que todos farão essas perguntas e julgarão Henriqueta e Marcos.

— Todos já tínhamos aceitado, menos eles mesmo, que achavam que ela não seria digna para entrar na família. — Digo olhando para a minha amiga com carinho.

— Em nossa família, pessoas são pessoas, não importa se são brancos, negros ou vermelhos, você entenderá quando ver os pagamentos na vinícola. — Falo um pouco mais baixo para não chamar atenção das pessoas que se aproximavam.

António continua me guiando para a arquibancada para assistirmos à tourada.

— Querida, não me importo, mas será que eles estão preparados para todo o falatório que começará a surgir agora que ele assumirá um relacionamento com a moça? — Realmente não pensei nisso. — Espero que eles aguentem tudo que será dito.

António diz e sei que não foi por maldade, mas é a realidade da nossa sociedade tão maldosa.

Finalmente chegamos e encontramos meus irmãos que se reúnem conosco, a festa começa com algumas dançarinas de flamenco e castanholas, aprendi um pouco de flamenco, mas nada tão caliente dessa forma.

— Filho? Olhe aquele touro, acho que ele não cairá, o que me diz? — O Conde pergunta para António.

Enquanto eles olham para o espetáculo que acontece lá embaixo, me aproximo e reparo que o touro manca, então não demorará muito para que caia.

— O touro cairá, basta o toureiro olhar que ele está machucado. — O Conde me olha e põe cinco moedas de ouro na pequena mureta com um sorriso desafiador.

— Se tiver certa, as moedas são suas. — Meu futuro sogro diz se divertindo.

Olho para minha mãe que nada diz, então olho para o António que se alegra com meu olhar.

— O Conde é seu sogro querida, divirta-se aproveitando o que ele te oferece. — Ele beija minha mão e pede licença.

— Providenciarei bebidas todos, deseja alguma coisa minha jovem Luna? — Ele me pergunta todo atencioso.

— Apenas um suco de uva. — Ele se afasta.

E todos voltamos a atenção para a tourada, apenas meu sogro, digo o Conde que segue os passos do filho no meio da multidão.

Me alegro ao perceber que estava certa.

— Olha só Marcondes, você criou uma filha muito observadora, espero que saiba usar muito bem esse seu dom. — Ele fala e beija minha testa.

— Sempre que precisar minha nora colocarei meu filho no lugar que ele tem que estar, não se preocupe, sempre protegerei você. — Ele diz e sinto que suas palavras tem muitos significados.

Não entendo as palavras do Conde e vejo meus pais se olhando e isso não passará assim tão fácil. Principalmente para a minha mãe.

— Conde podemos ir ali conversar com aqueles investidores por alguns instantes. — Meu pai chama o Conde para acompanhá-lo

Eles saem e minha mãe vai junto, António chega com as nossas bebidas e com ele vem alguns outros jovens.

— Sua irmã está linda Felipe, quem sabe não peça ao meu pai para poder cortejá-la. — A cara do António muda drasticamente.

— Desculpa senhores, mas a senhorita Luna é minha noiva, nossa festa de noivado é essa noite. — António fica ao meu lado e me entrega o suco de uva.

Não deixo de perceber que ele se torna um tanto possessivo nesse momento, já que ele se incomoda com a pergunta de um dos amigos do meu irmão Felipe. Noto que António olha aos arredores procurando algo.

— Querida, cadê nossos pais? — Aponto para a direção para onde foram.

Noto que António olha na direção, mas logo volta a prestar atenção no espetáculo que acontecia na tourada, saboreio o suco que ele trouxe para mim que estava uma delícia.

Meus irmãos se aproximam assim como Henriqueta que sorrio por estar ao lado de Marcos, estávamos todos prestando tanta atenção no que ocorria que não prestamos atenção em nada ao nosso redor.

— António? — Viramos e vejo uma linda mulher com um vestido de flamenco com o cabelo amarrado com uma rosa-vermelha.

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