04 - António Venturini

António Venturini

Depois do susto com os cavalos aproveito a oportunidade e vou até o bordel onde a minha Carmen está. Preciso tentar me desculpar pela minha ausência nos últimos dias.

Deixo um dos cavalos no estábulo e saio escondido para que ninguém me veja, ou meu pai ficará muito aborrecido com a minha atitude, mas preciso ir.

Vou pelo outro caminho que normalmente não uso e chego lá sem muita demora, entro pela porta dos fundos, para não ser visto pelos outros homens que frequentam o lugar e levem a informação ao conde.

— Boa noite, senhor António, venho sentido a sua falta e principalmente da ajuda para Carmen, acho que terei que colocar ela para trabalhar novamente. — Que mulher asquerosa, penso.

— Não falto com os pagamentos para as despesas da Carmen, não entendo por que está me cobrando? — Digo começando me irritar.

A vejo se afastar de mim com um sorriso debochado no rosto.

— Toda semana o dinheiro é entregue a senhora, agora se quiser ser esperta esse não é o melhor caminho. — Digo ao limpar o meu casaco.

Se conseguir colocar em prática meus planos, conseguirei tirá-la desse lugar depois da tourada. Venho guardado dinheiro e poderemos viver um tempo tranquilo em algum lugar que agrade a minha Carmen.

Nunca tive medo de trabalhar com a terra e farei com gosto, com tanto que a Carmen esteja ao meu lado, me apoiando e me dando força a cada novo dia.

Volto a minha atenção para a dona do bordel que ainda estava a minha frente, observo sua cara de raiva, sorrio quando ela vira suas costas para mim. Apenas reviro os olhos e sigo o caminho até onde fica o quarto da Carmen.

Paro em frente ao último quarto do longo corredor, um lenço vermelho estava na porta, informando que a mulher que estava dentro estava indisponível. Sorrio ao tocar na tranca da porta, entro no quarto sem fazer barulho e a vejo deitada em sua cama.

— Pensei que não estivesse com saudades de mim, mi amor. — Fecho a porta.

Sou recebido por minha espanhola de cabelos escuros e encaracolados, usando apenas um vestido simples por cima de suas roupas íntimas. A vejo sair da cama e correr em minha direção seguro em sua cintura, lhe dando impulso para se acomodar em mim.

Suas mãos entram em meus cabelos, não suporto a saudade e a beijo cheio de desejo, o mesmo que somente a minha Carmem consegue fazer quando me tem entre seus braços.

— Estava com saudades, António, o que houve por que não tem aparecido aqui? — Pergunta assim que cesso o nosso beijo.

Solto o seu corpo e deixo que seus pés toquem no chão. Olho com carinho para a mulher que estava em minha frente, faço um carinho em sua bochecha e retiro uma mecha de seu cabelo que ofuscava o seu lindo rosto.

— Venha mi amor, precisamos conversar sobre o que está acontecido em minha casa. — Digo sentindo tristeza pela minha realidade.

A puxo para a poltrona, próximo a grande janela do quarto, nos dando a vista para rua, podia ver a movimentação do centro da cidade ao longe.

Sento na poltrona sentindo um desconforto enorme no meu peito, por saber que a farei infeliz, que irei magoá-la por contar a verdade sobre a minha sina. Sorrio para ela e a puxo para sentar em meu colo.

— Pronto, agora que estou no melhor lugar possível, me diga cariño o que tem acontecido. — Me pergunta.

Passo meus dedos por seu rosto e fico indeciso em como contar a Carmem o que está acontecendo, principalmente por não saber como ela vai reagir ao saber que terei que me casar com outra mulher.

Olho para o busto que amo, que me enlouquece sempre que toco, sinto o meu peito se partir por saber que estarei magoando a mulher que amo, a que desejo fazer minha esposa.

— Não mentirei para você, mas preciso que entenda o que está acontecendo. — Digo segurando em seu queixo.

Percebo o seu olhar mudar, deixando o seu lindo rosto confuso e preocupado, mas não posso mais postergar o assunto.

— Meu pai firmou um compromisso com o meu nome... — Digo sustentando o seu olhar.

— Para o meu casamento, ele escolheu uma família do interior, o pai da moça é dono do maior vinhedo da Espanha. — Digo calmamente.

— Juro que não quis aceitar, negue o compromisso por dias... — Conto a verdade.

— Então comecei a dizer a ele que tudo bem, que aceitarei esse casamento, fiz isso para poder sair de casa e vir te ver. — Vejo o quanto ela não acredita no que digo.

— Como tem coragem de vir até meu quarto para me dizer que está para se casar com outra mulher, a dona do bordel tinha razão... — Carmem sai do meu colo e começa a andar de um lado para o outro.

Levanto da poltrona e tento me aproximar para tentar acalá-la, mas a cada tentativa ela me empurrava para longe dela, começava a me arrepender de contar a verdade sobre o casamento.

— Não quero mais a sua presença aqui António, acredito que esteja aqui escondido de seu pai como um covarde que é. — Ela diz com os olhos furiosos em minha direção.

— Carmem, se acalme... — Tento conversar com ela.

— Nunca que deveria ter sido só sua, deveria ter tido o prazer de conhecer outros homens e não estaria passando por essa situação agora com você. — Ela grita em minha direção.

Cada palavra que ela falava, era como se um punhal entrasse em meu peito, me dediquei a essa mulher, tentei achar soluções para que pudéssemos ficar juntos em alguma cidade.

— Carmem, por favor se acalme, podemos continuar juntos, cuidarei de suas necessidades... — Sinto o impacto em meu rosto.

Não esperava que fosse ter essa reação, seguro em seus braços para conter a sua fúria, mas para o meu desgosto vejo o seu rosto endurecer e tomar uma postura que não conhecia.

Trabalharia na lavoura se fosse o caso, não deixaria que ela passasse necessidade, mas pelo visto não é isso que Carmem tinha em mente.

— Não serei a sua amante, é isso que quer de mim, que fique aqui esperando noite após noite? — Ela diz com o queixo erguido.

Solto os seus braços percebendo que ela de certo modo está certa, que se vou me casar com a filha dos Marcondes, Carmem nunca deixaria de ser minha amante.

— Obrigado por seus serviços senhorita, passar bem. — Digo de coração partido.

Sou surpreendido quando ela vem em minha direção com suas mãos em punhos, tentando me acertar.

— Você é como qualquer outro homem, só me usou, nunca teve a intenção de realmente me tirar daqui... seu covarde... frouxo...

Viro de costa para ela, não deixarei que ela humilhe a minha dignidade, pego algumas moedas e ponho em cima da cama dela.

Sairei desse quarto deixando para trás os diversos planos que desejava ter com aquela mulher, pego o meu casaco e caminho na direção a saída do quarto onde fiz diversos planos.

Onde acreditei que faria dessa mulher a minha esposa, que estaria ao seu lado segurando a sua mão enquanto ela traria os nossos filhos ao mundo. A amaria até o meu fim, a ouço gritar furiosa atrás de mim.

— Não quero sua esmola... — A ouço dizer, sinto as moedas batendo em minhas costas.

Saio pelo mesmo lugar que entrei, com um aperto no peito, deixando a mulher que amo para trás para enfrentar um casamento sem amor e muito menos carinho entre mim e a futura noiva.

O bordel fica para trás, sem olhar para o que deixei. Começo a sentir a mágoa que estava se formando dentro de mim. Seguro as lágrimas que estavam se formando, não preciso que alguém me veja sofrendo por uma das garotas do bordel.

Sigo caminho até a casa do meu tio que mora aqui na cidade, preciso pensar um pouco e não posso chegar em casa com o sofrimento em meu rosto ou meu pai desconfiará.

De longe já podia ver a casa do meu tio, a casa de dois pisos com colunas altas e vitrais iluminados, algo que fez para agradar a sua esposa. Seu casamento também foi um arranjo e vejo o quanto meu tio Pedro estava feliz com a sua Cecília.

Ele estava em frente a sua casa, conversando com alguns criados em sua varanda, provavelmente algo sobre a sua participação nas colheitas de uvas para o meu pai.

— Oi, meu tio, tudo bem? — Falo assim que passo pelos portões.

— Olha quem me dá a honra de sua visita, o que te trouxe aqui na minha casa a essa hora António? — Ele pergunta com um sorriso.

Meu tio me puxa para um abraço e solto uma respiração pesada, tenho certeza que meu tio percebe que não estou bem.

— O que houve para estar aqui uma hora dessas, não acredito que ainda vê aquela mulher, meu sobrinho, já te disse que ela não serve para você. — Ele diz assim que os seus criados se afastam.

— Sim, fui lá para conversamos, precisava me explicar, dizer o que meu pai fez, mas não esperava a reação dela. — Confesso a minha atitude para o meu tio.

Sentei no pé da escada cabisbaixo, sinto quando meu tio passou o braço pelo meu ombro tentando me dar algum conforto com a situação.

— Meu sobrinho, não fique assim, aquela mulher nunca vai te trazer felicidade, sempre disse isso a você...

— Aquela mulher só serviria por uma noite e não para a vida toda, se dê a chance conhecer a jovem Luna, sua tia se encantou por ela. — Viro em sua direção chocado.

Impressionante como todos da minha família já a conhecem, menos o mais interessado, olho para meu tio não acreditando no que ele me disse.

— Não acredito que vocês já a conhecem! — Fico olhando para as pessoas que passam na rua em frente à casa do meu tio.

— Menino só a conhecemos, porque ela foi a sua casa esses dias e coincidiu que tivesse ido para saber se precisavam de ajuda para amanhã... — Ele começa a dizer.

Meu tio Pedro continua falando sobre a Luna e todas as suas qualidades, sua beleza e isso só me aguça a minha curiosidade.

Já é hora de ir para casa, me despeço e saio da sua propriedade, vou em direção a minha casa enfrentar a raiva do meu pai.

Porém, assim que chego em minha casa, sorrio ao perceber a agradável surpresa que me aguardava em nossa sala. Era a mesma moça que meu cavalo se assustou e depois ela fugiu de mim, a família Marcondes estava toda ali, ao seu lado, então percebo que ela é a minha pretendente.

A jovem que não tive a oportunidade de me desculpar estava linda na sala, ela faz uma pequena reverência e força um sorriso. Pego em sua mão e a levo aos meus lábios, deixando um beijo terno.

Sinto um cheiro de jasmim e me encanto realmente com a sua delicadeza, finalmente conseguimos ficar a sós um pouco e faço a proposta para ela.

— Aceito sua proposta António, mas fique ciente que se você me magoar eu não terei medo de pedir para voltar para casa e que meus irmãos lhe deem uma surra. — Começo a rir.

Tenho ouvido essa mesma ameaça, desde que meu pai me informou que me casaria com ela.

— Qual a graça? — Ela pergunta com as suas sobrancelhas franzidas.

Luna tem um rosto delicado, cabelos claros, seus lábios são finos e tem a postura de uma dama, é possível ver de longe que ela foi muito bem-educada.

— Sua família toda já me fez essa ameaça, quando ouvi você falando pareceu mais suave e gostei realmente de ouvir de você, não planejo magoar você. — Digo fazendo um leve carinho em sua mão.

Não tenho motivos para magoá-la e nem merece ser magoada.

— Ninguém tem intenção de magoar outra pessoa, apenas acontece. — Ela diz com certa tristeza.

Percebo o quanto está triste, fico curioso para saber o motivo, não consigo entender porque ela esteja assim tão triste.

— Que tal pedir permissão para podermos nos conhecer melhor até o casamento, posso ir para a vinícola trabalhar lá enquanto esperamos o dia do casamento, não quero ver você triste no dia do nosso enlace. — Digo lhe olhando nos olhos.

Espero que ela se anime um pouco com a ideia que estou propondo, afinal será o meu casamento, não desejo que minha noiva esteja triste enquanto o padre conduz a cerimônia do nosso casamento.

— Aceito. — Ela responde.

— Pedirei ao meu pai para que ele permita a sua corte, adorarei poder me casar com você, nem que seja lhe conhecendo um pouquinho. — Ela fala sem tirar seus olhos dos meus.

Crio coragem e me permito tocar em seu rosto, a maciez de sua pele me faz lembrar um pêssego.

Sei que ela é totalmente diferente da Carmen, me decepcionei com a mulher que amo, mas deixarei a que a Luna me conheça e quem sabe com a convivência o nosso amor nasça e frutifique.

Conversamos durante algum tempo até que o jovem Miguel começou a andar pelo jardim e prestamos atenção nele, conversamos sobre algumas coisas, mas me surpreendi com o seu pedido.

— Por favor cuide bem do vinhedo, eu amo aquele lugar e espero que consiga fazer que prospere. — Ela diz com tanto carinho sobre a sua casa.

Sempre gostei de trabalhar com os negócios da família, tenho certeza que não a decepcionarei assim cuidando de sua casa.

— Não se preocupe, faremos o seu vinhedo e a minha vinícola prosperarem. — Me comprometo com a minha noiva.

Terminamos de conversar quando o irmão mais velho apareceu dizendo que estão indo embora, pego sua mão e passo pelo meu braço, faço um pequeno carinho observando as suas reações ao meu toque, voltamos para a sala e converso com os nossos pais.

— Gostaria de pedir permissão ao senhor Marcondes para poder cortejar a senhorita Luna. — Peço ao pai de Luna.

— Pai gostaria de assumir meu lugar na vinícola e assim poderei nos conhecer melhor, acredito que seria melhor para a senhorita Luna, creio que ela ficaria mais feliz. — Dou um sorriso para minha noiva que ganha um rubor em suas bochechas.

— Bom, não vejo por que não, Luna sempre estará acompanhada e tenho certeza que não irá desonrar minha filha. — Minha futura sogra fala.

— Você pode ir assim que a festa de noivado terminar. — Meu pai fala empolgado.

E assim a família Marcondes saem da nossa casa, meu pai espera todos saírem e me b**e com sua bengala.

— Onde você se enfiou o resto da tarde, filho ingrato, como me faz mentir para a família da sua noiva? — Meu pai b**e sem para em mim, nem sei como ele consegue se manter em pé.

— Pare de me bater e eu conto. — Ele começa a caminhar para a sala se apoiando com a bengala.

— Fui ao bordel e terminei qualquer vínculo com a Carmem, ela ficou enfurecida e me expulsou do quarto, de lá fui para a casa do meu tio. — Falo a verdade para meu pai.

Vejo o seu olhar de pesar, suspiro e fico triste ao notar que ele sempre teve razão.

— É o certo a fazer meu filho, aquela mulher jamais seria uma mulher adequada para você, sem saber que ela poderia estar usando você apenas para que a tirasse daquele lugar, mulheres assim são espertas. — Ele se aproxima e passa o braço pelo meu ombro. — Não se preocupe, você conhecerá realmente o amor nos braços da Luna, apenas abra seu coração e esqueça daquela mulher.

Meu pai tem razão, me darei essa oportunidade de conhecer minha futura esposa.

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