Acordo com o terceiro alarme tocando como se fosse um soco no meu peito. Não durmo bem há dias. As olheiras começam a se fixar no meu rosto como tatuagens mal feitas, e a primeira coisa que penso é: nada dele ainda. Nenhuma mensagem. Nenhuma desculpa esfarrapada. Nenhum sumiço charmoso. Só... sumiço.
Levanto como quem está fugindo de si mesma. Corro pro banheiro, escovo os dentes, lavo o rosto e dou comida pro Bono, que mia alto, impaciente. Troco sua caixa de areia, tentando ignorar o nó que se formou na minha garganta desde que ele desapareceu. Já faz semanas. E eu não fui atrás. Pela primeira vez, não fui. Talvez por orgulho. Talvez por medo da resposta. Ou da falta dela.
Enquanto como dois donuts de pistache — meu ritual de autocuidado mais doce — com chá gelado, tento me convencer de que isso não me afeta tanto assim. Visto um vestido preto de alcinhas com um casaco cinza leve e calço um scarpin preto. Olho meu reflexo rápido no espelho da sala. Estou linda. Ou pelo menos parecen