O caminho de volta foi um silêncio que doía. Tentei puxar assunto com o Math duas, três vezes; ele pediu pra deixarmos a conversa pra depois. Aceitei, mas as palavras engasgaram no peito. A cabeça fervia: o que a Cíntia descrevera mais cedo — Misa enfrentando o pai, Antony admitindo o que não diz em público — reordenava minha história como se alguém tivesse mexido nas peças do tabuleiro sem me avisar. E se muita coisa que eu vivi com o Misa não tivesse sido só sobre nós dois, e sim sobre um jogo sujo armado pelo pai dele?
Quando viramos na rua dos meus pais, a cidade pareceu segurar a respiração. Havia luzes vermelhas e azuis refletindo nos vidros das casas, duas viaturas da polícia paradas rente à calçada, uma ambulância com a traseira aberta, o portão automático escancarado. O carro do meu pai estacionado atravessado na entrada. Parei de pensar; só fiquei com medo.
— O que tá acontecendo? — minha voz saiu fina, já soltando o cinto.
— Me chama de “Math”, por favor — ele retrucou, ner