O ar estava denso, pesado como um cobertor molhado. O silêncio na mansão era ensurdecedor, quebrado apenas pelo tique-taque incessante do relógio na sala de jantar – um relógio que parecia zombar da nossa imobilidade, cada segundo uma eternidade. Eu podia sentir o cheiro de medo, impregnado nas paredes, misturado com o aroma enjoativo de flores murchas que adornavam os vasos. A mansão, antes um símbolo de opulência, agora era uma prisão dourada.Anibal e Chloe estavam trancados em seus quartos, duas ilhas de silêncio em meio ao turbilhão de angústia. Eles não falavam, apenas observavam, esperando. Esperando o quê? Eu também não sabia. Talvez a morte. Talvez a salvação.Angela, chorava baixinho, soluços abafados que rasgavam o silêncio. Meu filho, Richard, tentava acalmá-la, repetindo frases vazias, sem sentido, como um mantra desesperado: __"Vai ficar tudo bem, Angela. Vai ficar tudo bem." Mas eu sabia que não estava bem. Nada estava bem.Encontrei Nicolas em seu escritório, falando
Fitei firme Richard, meu filho. Ele estava abatido, a sombra dos últimos dias cravada em seu rosto. O peso da situação era palpável, pairando entre nós como uma névoa tóxica. “Sente-se, filho”, pedi, minha voz mais suave do que eu pretendia. Ele obedeceu, as mãos grandes e calejadas repousando pesadamente sobre os joelhos. ___“Então, filho, o que queria?” A pergunta saiu rouca, carregada de uma apreensão que eu tentava esconder. __“Primeiramente, me desculpar, pai. Sei que sou o culpado por toda essa desgraça.” A confissão saiu em um sussurro, quase inaudível. __“Se culpar não vai mudar nada, Richard. Temos que procurar consertar o estrago.” A verdade era que uma parte de mim já havia se conformado com a possibilidade de não haver conserto. _“E se não tiver mais jeito, pai?” A pergunta, carregada de desespero, me atingiu como um soco no estômago. __“Para tudo tem jeito, filho. Acredite.” Minhas palavras soaram mais como um mantra para mim mesmo do que uma promessa a ele. Ri
O clima pesado da reunião na cosa Nostra ainda ecoava na minha cabeça, um peso insuportável no peito. A guerra com a bravta era inevitável. Richard, meu filho, estava em jogo, tudo por causa do seu envolvimento dele com Ângela. Nikolai queria sua cabeça em uma bandeja de prata .Aquele acordo, ou melhor, a falta de acordo, me assombrava. Não havia escapatória. A negociação foi uma farsa, uma última, desesperada tentativa de evitar o inevitável.__"Nicolas, o que aconteceu?" Amy perguntou, a voz carregada de preocupação. Ângela andava de um lado para o outro, os olhos cheios de lágrimas.__"Foi uma reunião... difícil," respondi, suspirando. "Com a Cosa Nostra. Para... selar uma aliança. Contra a bravta."___ Não tem como evitar essa guerra? ___"O envolvimento de Richard... com a noiva de Nikolai," expliquei, a voz rouca. "Foi um erro terrível. Ele quer a cabeça de nosso filho.Amy ficou pálida e começou a falar .___ Temos que tirar Richard daqui, mandar-lo para o mais longe pos
A guerra começou. Nos encontramos em um local abandonado nos arredores da cidade, um antigo cemitério clandestino da máfia. Nikolai chegou com um grande número de homens, assim como eu. Ficamos frente a frente, a quinhentos metros de distância. Nikolai apontou para Richard, que estava ao meu lado, gritando para todos ouvirem: "No final dessa guerra, quero a cabeça desse loiro! O mundo será meu!" E o ataque começou.Foi um confronto brutal, corpo a corpo, tiros por todos os lados. Eu me mantinha protegido pela massa de meus homens, mas meu foco era único: Richard. Ele lutava ao meu lado e ao lado de Aníbal. Minha prioridade era protegê-lo, garantir sua segurança. Eu havia dito a todos, no início: "A missão não é me proteger, é proteger meu filho. Eu morro antes dele. Ele vai ser pai, e tem que sair vivo daqui." Aquela era minha determinação, minha promessa. Eu faria tudo por ele, assim como um dia ele faria por seu próprio filho.Richard, apesar da inexperiência em confront
Fiquei apenas alguns dias internado, recebendo a visita de Amy ,minha esposa. Ela estava preocupada, mas a alegria de me ver vivo era palpável – uma grande dádiva. Não apenas eu estava vivo, mas Richard também. Eu havia cumprido minha promessa de protegê-lo e, no fim, ele havia se salvado e me salvado também, mostrando que não era mais apenas uma criança dependente, mas um homem.O clima em casa era de paz. Fui recebido com flores, alegria e uma sensação reconfortante de união familiar. Richard e Ângela eram inseparáveis; ela estava no quinto mês de gravidez, radiante, e ele, ansioso para ser pai. Chloe e Aníbal haviam feito as pazes com Richard, e estavam animados com a chegada do primeiro neto. Tudo estava bem, nossa família unida e feliz – exatamente o que eu sempre quis.Almoçamos no jardim, um almoço especial. Foi durante esse almoço que contei a Amy minha decisão, uma decisão que ela não recebeu bem. Eu havia decidido me entregar à polícia. Queria ser um homem novo, livre
A fumaça esbranquiçada do meu Narguilé, preenche o meu quarto, enquanto observo com deleite as chamas dançando insinuantes e sedutoras, elas parecem me chamar para dançar uma dança perigosa, letal. Passo alguns minutos dominado pelo leve torpor e na minha mente conturbada, lembranças difusas do passado. Recordo de coisas das quais gostaria de esquecer, a imagem vívida e detestável de Alicia, presente neste momento.Ela era a mulher que infelizmente me trouxe ao mundo, apenas isto porque a mesma nunca desempenhou papel de mãe ela uma viciada em drogas e se prostituir para pagar seu vício, ela me odiava e fazia questão de demonstrar isto diariamente me queimando com o seu cigarro. O cheiro forte de maconha me causando náuseas, me afogando diversas vezes na banheira durante o banho, também me lembro de um dos seus inúmeros amantes me espancando no meu quarto, enquanto ela transava com outro no quarto ao lado.Só aos sete anos que me livrei desse inferno, quando o conselho tutelar me tiro
Apesar de viver em um bairro perigoso, jamais imaginei que algum dia estaria diante de uma situação como a que agora estou. Observo apavorada o homem sentado numa poça de sangue, o seu próprio sangue, ele ainda está acordado, porém, sua respiração está bastante irregular, sua pele pálida como cera. Minha vontade é de sair correndo daquele beco sujo e deixá-lo lá, porém, minha consciência não me permite tal atitude covarde, ele é um ser humano e não posso simplesmente dar as costas e ir embora e deixá-lo ali para morrer. Que ser humano seria se fizesse isto?Tiro o celular da bolsa e digito uma mensagem de texto no WhatsApp, enviando para minha amiga que divide apartamento comigo, ela é minha última esperança no momento, felizmente a resposta veio rápida, curta e direta.__"Estou indo!"Notei que o ferimento do homem estava sangrando muito, logo tomei uma atitude extrema, retirei a sua camisa social azul claro e, embolando-a, coloco-a sobre seu ferimento. Fico segurando até que min
O tempo passou rápido demais, já até se passaram um mês e uns dias desde aquele dia e, o homem não retornou e nem mesmo sabíamos se havia dado tudo certo na cirurgia. Ou se tinha morrido, ou, qualquer outra coisa. Tinha até sonhado com ele umas duas vezes e acordado exaltada, ensopada de suor. Ele era um ingrato, podia muito bem ter enviado um cartãozinho dizendo que estava bem, mas nada nem uma mísera informação, os ricos são todos iguais, só nos enxergam nos momentos que precisam.Como trabalhava apenas à noite, durante o dia não tinha nada que fazer, então me dedicava a tarefas domésticas e a cuidar de minhas plantinhas. Neste momento mesmo eu estava na varanda molhando as orquídeas e aspirando o perfume doce provindo das flores, estes eram um dos raros momentos em que eu ficava feliz.Terminando essa tarefa, fui para a cozinha preparar o almoço que compunha de arroz branco, strogonoff e batata palha, comida que eu sabia fazer muito bem, além ser a preferida de Dafne. Poucos minuto