ALGUMAS HORAS ANTES DE DRAITON ACORDAR
Melissa Menezes Um homaraço. Facilmente eu trocaria os mil euros e a presença do velho barrigudo com quem tenho compromisso hoje, se o tal Draiton me pagasse ao menos a metade. Com ele, acho que gozaria de verdade. Que homem lindo! Corpo atlético, olhar sedutor, barba bem-feita… fazia tempo que eu não me sentia assim. Faço tanto sexo por obrigação que, para eu realmente sentir tesão e vontade, o cara tem que ser muito acima da média. E o Draiton era exatamente isso. Tomei o último gole do drink que pedi, após comer minha salada. Fui para parte externa, tragar um cigarro, faria mil coisas só para tardar esse encontro. Apaguei o cigarro com raiva do destino e entrei no carro, resignada, rumo ao outro hotel onde o velho me esperava. No caminho, pela orla, algo me chamou a atenção. Três mulheres arrastavam um homem que tentava se desvencilhar, mas estava completamente desorientado, cambaleando e caindo ao chão. Eu não me meto nesse tipo de coisa, pois posso sofrer consequências, mas dessa vez, reconheci o homem. Draiton! Meu coração disparou. Joguei o carro de qualquer maneira na calçada, atravessei a ciclovia sem nem olhar e fui correndo na direção deles, gritando: — POLÍCIA!… Ei, o que vocês estão fazendo? Meu escândalo chamou a atenção de quem passava e, por sorte, havia uma viatura da guarda municipal por perto. Eles correram e conseguiram interceptar as mulheres, recuperando os pertences de Draiton. Um dos guardas veio até a mim, ajudando a socorrer o homem desorientado. — Você é o quê dele? — perguntou o guarda, avaliando minha pressa. — Sou… amiga! — respondi sem hesitar. — Me ajuda a levar ele pro hotel, por favor. Não vou roubar nada, pode ficar tranquilo. Estou no Rosa Rojo, vamos até lá e o pessoal pode confirmar que moro lá há alguns meses. O homem finalmente acreditou e me ajudou. Pelo estado dele, acredito que não tenha bebido muito do maldito “Boa Noite, Cinderela”. Apesar de desorientado, ainda conseguia se arrastar. O guarda foi atencioso, entrou comigo até o quarto e me ajudou a colocá-lo no banheiro antes de ir embora. Draiton não conseguia ficar em pé sozinho. Precisava de apoio dos dois lados. Acabei sentando-o no sanitário, tirei suas roupas sem cerimônia e liguei a ducha higiênica. A água fria caiu sobre ele, e eu esperava que isso ajudasse a tirar aquele estado quase letárgico. Com esforço, arrastei seu corpo pesado até a cama depois de secá-lo às pressas com uma toalha. Assim que deitou, apagou completamente. Peguei o celular, mandei mensagem para o cliente inventando um imprevisto e avisei que não poderia atendê-lo naquela noite. Depois, fui eu quem entrou no banheiro, tirei a areia do corpo e, exausta, acabei deitando ao lado de Draiton. (...) Acordei tarde, mas diante da droga que ele havia ingerido, Draiton continuava apagado, mesmo já sendo quase duas da tarde. Antes de levantar, não resisti em admirar aquele corpo Atlético definido, ele dormia de bruços e cada músculo me deixou louca. Há muito tempo uma homem não me deixava assim. Era melhor eu ir para o banheiro tomar um má ducha, ou acabaria fazendo uma besteira. Tomei banho, me arrumei para descer e almoçar. Quando saí do banheiro, ele estava acordado, ainda desorientado, tentando juntar os pedaços da memória. Expliquei tudo, e aos poucos ele foi lembrando, mas a última coisa clara era a companhia das duas mulheres. — Você devia ir à delegacia e prestar queixa. — sugeri. — Nossa… muito obrigado. — murmurou com sinceridade. — Não pode dar essa bobeira aqui no Brasil. Vi que você é turista por vários detalhes, mas fala tão bem português que até achei que conhecia o lugar. — Tenho algumas cidadanias, uma delas é brasileira. Não sou turista, mas vivi mais tempo na Itália do que aqui. Como vocês dizem… eu dei mole. Em Copacabana, na Barra, na Lapa, fico em alerta, mas aqui em Búzios achei que estava tranquilo. Mais uma vez, obrigado. — Pode parar de me agradecer. — peguei o telefone e mostrei a ele. — Ontem eu tinha um programa de mil euros e não fui porque precisei cuidar de você. Então, não é nada mais justo que me pague ao menos quinhentos euros. — Você tá me cobrando por ter salvo a minha vida? — perguntou, incrédulo. — Não. Eu poderia ter deixado você morrer na calçada, mas não fiz isso. Só estou cobrando o dinheiro que perdi pra cuidar de você. Não é nada injusto. Aliás, nem pedi o valor integral, deixei como bônus, já que me livrei de uma noite insalubre com o Manuel, aquele porco que detesta tomar banho. Eu só quero os quinhentos euros. Ele sorriu de canto, divertido. — Você é bem direta. — E prática. Mas, se quiser pagar mil euros, tem mais doze horas comigo. — Preciso da minha roupa, da minha carteira e do meu telefone. — ignorou minha última frase. Entreguei tudo, e ele, tentava se enrolar no lençol, para ir ao banheiro. — Pra que isso? — provoquei. — Não há nada aí que eu já não tenha visto. Quem você acha que tirou sua roupa? Ele fez uma careta engraçada, como quem admitia minha ousadia. Levantou-se nu, e eu não perdi a chance de apreciar: músculos alinhados mais uma vez, costas largas, a bunda dura e redonda. Que homem da porra! Meia hora depois, saiu do banho, já vestido, e veio direto até mim. — Me passa a chave Pix. — pediu. — Esse sistema de transferência do Brasil é maravilhoso. Tomara que implementem logo na Europa. — Eu acho maravilhoso também. — respondi com um sorriso malicioso. Passei a chave e, em segundos, recebi a notificação: dez mil reais. Muito mais que mil euros. — Vinte e quatro horas comigo? — provoquei. — Qual foi a parte que não entendeu? Eu não pago por sexo. Isso aí é pelo que você fez por mim ontem. Mais uma vez, obrigado. — É celibatário? Voto de castidade? Religioso fervoroso? Porquê gay você não é. — Não tem nada a ver com isso. Tem a ver com prazer, com tesão. Se eu tiver que pagar uma mulher, prefiro comprar uma boneca inflável. Eu gosto de sentir, de fazer minha parceira gemer, a perna tremer e a boceta pulsar. As palavras dele me atravessaram como um choque. Fiquei excitada só de ouvi-lo, coisa que não acontecia há muito tempo. — Sem fingir? — retruquei, arqueando a sobrancelha. — Eu finjo bem. Você nem perceberia. — Não estou interessado. — Tudo bem. — suspirei, entregando um cartão. — Se mudar de ideia, eu moro aqui no hotel. Ele pegou, observando o símbolo da balança no cartão. — Esse símbolo é um disfarce? — perguntou. — Não. Sou estudante de Direito. — Você é uma jovem intrigante Melissa. Bom, Foi um prazer te conhecer. Saiu do quarto. E eu, de certa forma, agradeci a Deus por ele não querer programa comigo. Não seria nada bom me apaixonar por um cliente. Mas, senhor, que homem!