Dominic Willians
Eu nunca fui fã de surpresas. Principalmente aquelas que envolviam o passado.
A mulher sentada à minha frente girava lentamente a taça de vinho entre os dedos, observando o rubi líquido com um sorriso leve, quase irônico. Era como se o tempo não tivesse passado para ela. O mesmo cabelo castanho caindo em ondas suaves pelos ombros, a mesma postura elegante, a mesma maneira de me encarar com aqueles olhos acinzentados cheios de segredos — como se soubesse algo que eu não.
A única diferença era que agora eu sabia mais.
Ela havia sumido da minha vida há vinte anos. Um desaparecimento frio, sem carta, sem mensagem, sem qualquer explicação. Numa manhã, ela acordou, se arrumou para ir ao mercado e nunca mais voltou. Me deixou sozinho com um filho pequeno e uma dor que demorou anos para parar de sangrar.
Eu deveria estar com raiva. E estava. Mas naquele momento, sentado diante dela, tudo o que eu conseguia sentir era um desconforto gelado percorrendo minha espinha. Porque ni