Naquela tarde, o frio parecia observar mais do que gelar. O vento vinha baixo, arrastando o cheiro da ponte, do rio e da madeira úmida — como se tentasse trazer memórias que ninguém pediu. A casa inteira estava inquieta, mas não com medo: estava… atenta.
Helena caminhava pelo corredor que dava para o pátio interno. De tempos em tempos, parava e tocava as paredes, como se pudesse sentir com os dedos aquilo que o vento carregava. A sensação era sempre a mesma: as pedras estavam acordadas. Não apenas despertas — acordadas como quem lembra de algo que passou tempo demais tentando esquecer.
E isso a assustava mais do que qualquer ameaça.
Ela encontrou Kael já no pátio, observado por cinco lobos. Eles haviam se deitado em semicírculo aos pés do Alfa, formando quase um ritual involuntário. Kael permanecia de pé no centro, os olhos fixos na porta que conectava o jardim à ala antiga.
O silêncio dele estava diferente.
— Os uivos mudaram — Helena comentou, aproximando-se.
Kael virou o rosto para