A Leoa e o Magnata

 A Leoa e o Magnata 

O silêncio reinava no saguão da torre executiva da Bianchi Tech, quebrado apenas pelo som ritmado dos saltos pretos de Helena cruzando o mármore.

 O olhar dela era cortante, firme como aço temperado. 

Vestia um terno escuro sob medida, o cabelo preso num coque impecável e um coldre discreto escondido sob o paletó.

 Ao seu lado, a diretora da Athena, uma mulher de fala firme e sua amiga Silva Noronha, conduzia a missão com a formalidade de quem entregava uma relíquia.

— Ele não é fácil! Disse Silvia, quase como um aviso. 

—Já queimamos duas agentes só esse mês. 

—Ou ele acha que pode mandar nelas, ou ele simplesmente ignora os protocolos.

Helena apenas assentiu.

— Não estou aqui para bajular cliente. 

—Estou aqui para manter ele vivo.

Patrícia sorriu de lado.

— É por isso que você é a Leoa.

As portas de vidro fosco do último andar se abriram, revelando a antessala do CEO. 

Helena parou diante de um painel de segurança. Passou seu crachá. 

Digital. 

Retina. 

Tudo aprovado.

Quando a porta principal se abriu, ela sentiu o ar mudar.

 Era um espaço amplo, de design minimalista, com janelas que ofereciam uma vista panorâmica da cidade.

 E no centro, de costas para elas, estava ele. 

Leonardo Bianchi.

Alto, atlético, olhos verdes como um mar revolto.

Vestia uma camisa social dobrada nos antebraços e calça escura.

 O relógio caro no pulso contrastava com o copo de uísque na mão.

 Ao girar lentamente, seus olhos pousaram nela como se estivesse a avaliando.

— Silvia, o que é isso? Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

— Sua nova segurança. Helena Costa.

Leonardo soltou um suspiro impaciente, caminhando até eles com passos decididos.

— Já disse que não preciso de babá.

— Não sou babá.  A voz de Helena cortou o ar como navalha. 

— Sou a única coisa entre você e uma bala na sua cabeça.

Leonardo parou. Mediu-a de cima a baixo. Por um instante, seus olhos de um verde profundo e analítico buscaram uma brecha, um ponto fraco. Mas tudo que encontrou foi uma parede intransponível.

— Ex-militar, não é? Ele comentou. 

— Tem cara de quem acorda às cinco da manhã e limpa armas por prazer.

Helena manteve-se impassível.

— Tenho cara de quem já enterrou amigos. 

—E não pretende enterrar mais ninguém sob minha responsabilidade.

Patrícia pigarreou, desconfortável com a tensão.

— Helena estará com você 24h. Inclusive em eventos, viagens e deslocamentos. 

—Já está tudo assinado. 

— Ela entregou um tablet a Leonardo. 

— E, por favor, tente não assustá-la. Ou será o contrário dessa vez!

— Tente não se apegar.  Leonardo respondeu, pegando o tablet. 

— Nenhuma das anteriores durou mais que uma semana.

Helena encarou-o por um segundo longo.

— Eu não vou!  Eu permaneço até o alvo ser neutralizado. Disse ela. 

— Ou até você cooperar com sua própria segurança.

Leonardo sorriu. Um sorriso cínico, bonito e provocador.

— E se eu for o problema?

— Então vamos ter um problema. Ela respondeu.

No carro blindado, Helena sentava-se no banco da frente, monitorando tudo.

 Leonardo, atrás, digitava furiosamente no celular.

— Você sempre é tão… 

Ele começou, tentando encontrar a palavra.

—Obstinada?

— Disciplinada. Treinada. E viva. 

—Essas são as três palavras que você deveria valorizar em alguém da minha função.

— Você tem filho, não tem?

A pergunta veio como um tiro. Helena desviou o olhar pelo espelho retrovisor.

— Isso não é da sua conta.

— Claro que é. Você vai me acompanhar até em reuniões particulares. 

—Preciso saber se está emocionalmente disponível ou se vai sair correndo se receber uma ligação do colégio.

Ela girou o pescoço devagar, o suficiente para encará-lo.

— Meu filho é prioridade. Mas não interfere no meu trabalho. 

—Se você for ferido, é porque ignorou meus alertas.

— Não porque fui buscar meu filho na escola.

Leonardo franziu o cenho.

— E o pai dele?

Helena virou de frente de novo.

— Morto. Na guerra. Como muitos homens corajosos.

Silêncio. Um raro silêncio entre eles.

Leonardo se recostou, mais sério. 

Observou Helena com olhos mais atentos. 

Talvez pela primeira vez, algo parecido com respeito surgiu em seu semblante.

— Deve ter sido difícil.

— Ainda é. Todos os dias. 

—Mas isso me torna melhor no que faço.

Mais tarde, no prédio onde Leonardo morava. 

Uma casa  triplex com segurança própria.

 Helena caminhava pelos cômodos com olhos de predadora. 

Checava rotas de fuga, avaliava pontos cegos, revisava o protocolo de vigilância.

Leonardo a seguia com um copo de vinho.

— Você age como se estivesse numa zona de guerra.

— Quando se trata da sua vida, estamos.

— Você realmente acha que alguém quer me matar?

Ela parou e o encarou.

— Leonardo, você controla uma das maiores carteiras de dados financeiros da América Latina. 

—Já recebeu quatro ameaças nas últimas seis semanas. 

—Seus dois concorrentes sofreram ataques cibernéticos e físicos. 

—E você insiste em agir como um adolescente mimado.

Leonardo deu um passo à frente, agora sério.

— Não sou um menino mimado. 

—Construi tudo isso com as mãos. 

—Com risco. 

—Com coragem.

— Ótimo. Agora use essa coragem para seguir os protocolos que podem te manter vivo.

Por um momento, estavam próximos demais. O ar entre eles carregado. 

Helena não desviou o olhar. Nem ele. E então, inesperadamente, ele disse:

— Você me lembra alguém.

— Espero que seja alguém vivo.

— Era minha mãe. Militar. Dura como pedra. 

—Mas leal até o fim.

Helena suavizou o olhar por um segundo.

— Obrigada. Isso é um elogio, eu acho.

— É. E eu não dou muitos.

Horas depois, já no pequeno anexo, Helena se ajoelhava diante do filho, Gabriel. 

O menino, de cabelos cacheados e olhos vivos, pulava em seus braços com alegria.

— Mamãe! Você voltou cedo!

— Hoje eu quis te dar um beijo antes de dormir.

Gabriel segurou o rosto dela com as duas mãos.

— Você parece cansada. Te deram trabalho?

Ela sorriu, abraçando-o apertado.

— Mais do que eu esperava, filhote. Mas eu aguento. 

—Sempre aguento.

Lá fora, um trovão ecoou. E dentro de Helena, algo diferente começava a se agitar. 

Um pressentimento. 

Um risco novo. 

Uma missão que não seria como as outras.

Porque proteger Leonardo Bianchi não era apenas uma tarefa.

Era entrar num território onde nem mesmo a Leoa havia ousado antes: 

O território do coração.

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