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No dia seguinte, Úrsula caminhava pelo shopping com a calma ensaiada de quem tinha todo o tempo do mundo. Seus saltos soavam firmes no piso brilhante, e os olhos percorriam vitrines de joalherias e grifes sem verdadeiro interesse. Apenas não queria ficar em casa. O tédio do novo estilo de vida a consumia, revelando algo que para si já era óbvio: sem promiscuidade e jogou de sedução, sua vida não tinha propósito algum. Uma mulher vazia.

O toque agudo do celular quebrou sua bolha de autocrítica. Olhou o visor e o coração se apertou: Michelangelo. A irritação veio antes da voz. Atendeu já com a respiração pesada.

— O que você quer agora? — disse, sem rodeios.

Do outro lado, a voz dele soou preguiçosa, mas carregada de veneno. Pedia dinheiro. De novo. Era a terceira vez só naquela semana. Úrsula fechou os olhos, o maxilar duro, enquanto ouvia. Ele não precisava de nada. Já tinha mais do que suficiente. Mas sabia qual botão apertar. Sabia que ela não conseguia
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