Capítulo 5
— Aquela não é a Thalassa Thompson?

— Não pode ser! A interesseira que se casou com Kris Thompson por dinheiro?

— É ela mesma. E dizem que ela também traiu e roubou dele durante todo o casamento.

— Sim, eu ouvi falar disso. Pobre homem. Ele se casou com ela apesar de sua posição social inferior, e ela o traiu dessa forma. Mas ela não tinha sido presa?

— As duas, calem a boca agora mesmo! Quantas vezes preciso lembrar que é proibido fofocar sobre nossos pacientes, principalmente na frente deles?

Thalassa abriu os olhos lentamente, mas os fechou quase de imediato quando as luzes fortes os atingiram. Piscando algumas vezes para se ajustar à claridade, finalmente os abriu novamente e viu três mulheres ao seu redor. Elas usavam uniformes de saúde. Duas pareciam enfermeiras, e a terceira, uma médica.

— Ela acordou. — Observou uma das enfermeiras, e todas voltaram a atenção para Thalassa.

— Finalmente. — Disse a que parecia ser a médica, esboçando um pequeno sorriso em direção a Thalassa. — Como você está se sentindo, querida?

Apoiando a mão no leito, Thalassa se sentou lentamente, gemendo com o esforço. Ela sentiu uma dor surda no abdômen, o que a fez franzir o rosto, confusa.

— O que aconteceu? Por que estou aqui?

A última coisa de que se lembrava era de sair da mansão dos Miller após assinar os papéis do divórcio. Como ela tinha acabado no hospital?

— Meu Deus, ela nem lembra do que aconteceu. Quero só ver como ela vai reagir à notícia. — Cochichou uma das enfermeiras para a outra, mas o suficiente para que Thalassa ouvisse.

A médica lançou um olhar repreensivo às enfermeiras, e Thalassa perguntou:

— Do que elas estão falando?

A médica mordeu o lábio antes de responder:

— Ontem à noite, uma mulher te encontrou caída em uma poça de sangue na rua e chamou o resgate. Você foi trazida às pressas para este hospital.

Instantaneamente, os horrores da noite anterior invadiram a mente de Thalassa: ela caminhando na rua, sendo agarrada e empurrada para um beco, o agressor chutando seu abdômen repetidamente, apesar de todos os apelos para que tivesse piedade.

A médica continuou falando:

— Esperamos que você não se importe, mas como já sabíamos quem você era, o hospital tomou a liberdade de enviar uma mensagem para o escritório do seu marido. Infelizmente, não recebemos nenhuma resposta.

— O Kris não veio? — Perguntou Thalassa, com medo de fazer a pergunta que realmente a atormentava, mas que sabia que precisava fazer.

Ela respirou fundo, os lábios tremendo e os olhos lacrimejando.

— Doutora, como está meu bebê? Por favor, me diga que meu bebê está bem. Por favor, me diga que ele está seguro.

A médica não respondeu de imediato, mas o olhar pesaroso em seu rosto deu a resposta antes mesmo de ela começar a falar.

— Sra. Miller, os impactos no seu abdômen foram muito fortes, e como a sua gravidez estava apenas com dois meses, não foi possível resistir. Quando você chegou ao hospital, já havia perdido muito sangue, e salvar a sua vida foi a prioridade. Lamento informar que não conseguimos salvar a gravidez.

— Não... — Sussurrou Thalassa, enquanto uma lágrima escorregava por sua bochecha. Depois outra. E mais outra.

— Sentimos muito por sua perda. — Disse a médica. — Sabemos que pode querer um momento para si, mas, devido à natureza do ataque, tivemos que informar a polícia. Eles virão em breve para colher seu depoimento. Mais uma vez, sinto muito.

Dizendo isso, a médica e as enfermeiras saíram do quarto. Thalassa lentamente se deitou novamente, enquanto mais lágrimas escorriam por seu rosto. Ela se encolheu em posição fetal, ignorando a dor no abdômen. Mas nenhuma dor física poderia se comparar à dor em seu coração.

Alguns minutos depois, houve uma batida na porta antes que dois policiais entrassem no quarto.

— Sra. Miller, sabemos que a senhora está passando por muita coisa, mas, para que possamos ajudar a levar o responsável por isso à justiça, precisamos do seu depoimento. — Disse um deles.

Thalassa sentou-se lentamente, o olhar perdido.

— A senhora conseguiu ver quem fez isso? — Perguntou o policial, com a caneta pronta em seu bloco de notas.

Ela balançou a cabeça.

— Não, ele usava uma máscara que cobria todo o rosto.

— Sra. Miller, isso pertence à senhora? — Perguntou o outro policial, enquanto o primeiro se afastava.

Foi então que Thalassa percebeu que ele segurava a bolsa que ela carregava na noite anterior.

Ela assentiu.

— Sim.

O primeiro policial franziu o cenho, pensativo.

— Bom, descobrimos que o agressor não roubou nada, o que significa que esse ataque foi intencional. A senhora tem alguma ideia de quem poderia ter feito isso ou o motivo?

— Não... — Começou Thalassa, mas de repente as possibilidades começaram a se formar em sua mente.

Ela se lembrou das palavras que o agressor disse quando implorou para que ele não a machucasse por estar grávida:

— “Fui enviado para te dar um recado: da próxima vez, não se meta onde não é chamada.”

A realização foi como um golpe. Alguém havia enviado aquele homem para machucá-la! Mas quem?

As únicas pessoas próximas a ela que a fizeram sentir que não pertencia ao mundo delas eram sua sogra, Linda Miller, e os outros membros da família.

De repente, Thalassa se lembrou das palavras que Linda havia sussurrado antes de ela sair da casa:

— “Você realmente acha que vai conseguir ter esse bastardo que está tentando passar como meu neto?”

O coração de Thalassa afundou. Não podia ser, certo? Sua sogra não poderia ter enviado alguém para atacá-la e matar o próprio neto, certo?

Mas então ela também lembrou como Karen a traiu tão cruelmente. Ficou claro que Karen estava de conluio com Linda. Será que foi Karen quem enviou aquele homem? Ou as duas trabalharam juntas para destruí-la?

— Sra. Miller, a senhora não respondeu à minha pergunta. — Disse o policial, tirando-a de seus pensamentos.

Ela respirou fundo antes de responder:

— Não, eu não tenho ideia de quem poderia ter feito isso ou por quê.

O policial estreitou os olhos, desconfiado.

— Tem certeza, senhora?

Thalassa assentiu rigidamente.

— Sim, tenho certeza.

De que adiantaria contar à polícia o que suspeitava? Não serviria de nada. A família Miller era a mais poderosa de Valtemar. Eles praticamente governavam a cidade. Mesmo que tentasse denunciar Linda ou Karen, Linda usaria sua influência para que o caso fosse arquivado ou até mesmo virado contra ela.

— Certo. Vamos sair agora, mas talvez entremos em contato novamente caso precisemos de mais informações. — Disse o policial. — Aqui estão seus pertences.

Depois de entregar sua bolsa e celular, eles se retiraram. Thalassa ligou o celular imediatamente, aliviada ao perceber que a bateria não havia acabado.

Ela precisava contar a Kris o que havia acontecido com o bebê deles. Procurando o número dele, ela discou. O telefone tocou até cair na caixa postal. Tentou novamente, mas aconteceu a mesma coisa, então decidiu enviar uma mensagem.

[Amor, fui atacada ontem à noite na rua e estou no hospital agora. Infelizmente, nosso bebê não sobreviveu. Por favor, venha me ver. Eu preciso de você.]

Com certeza ele responderia. Não importava o que pensasse dela, ainda assim era o filho deles de quem ela estava falando.

Apesar da esperança, ela ficou surpresa quando a resposta chegou quase imediatamente. Assim que viu a notificação, apertou para ler, mas, ao terminar, desejou não ter lido.

Kris: [E o que quer que eu faça? Resolva. Não me importo.]

Thalassa sentiu como se um balde de água gelada tivesse sido jogado sobre ela. Ela releu a mensagem várias vezes, na esperança de ter lido errado. Mas não.

Era exatamente isso que Kris havia respondido.

A dor que atravessou seu peito foi tão imensa que ela arquejou, levando a mão ao coração. Parecia que ele ia sair dali. Talvez fosse melhor, assim ela não sentiria tanto.

“Resolva. Não me importo.”

Como ele podia ser tão cruel com ela num momento em que ela mais precisava dele?

Quando finalmente se cansou de chorar, ficou deitada, olhando para o teto sem enxergar nada. Alguns minutos depois, a porta se abriu, e a médica entrou novamente.

— Thalassa, enviamos outra mensagem para o escritório do seu marido, mas ainda não tivemos resposta. Precisamos que alguém preencha a documentação necessária. O que fazemos?

— Não entrem mais em contato com ele. — Respondeu Thalassa, com a voz fria.

— Desculpe?

Thalassa se sentou devagar, limpando as lágrimas antes de dizer friamente:

— Eu disse para não entrarem mais em contato com ele. Eu mesma farei tudo.

Ela estava farta. Não derramaria mais uma lágrima sequer por Kris Miller.
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