Otávio
Desci do elevador sem esperar ninguém. Era um daqueles dias em que o ar parecia mais pesado do que deveria — ou talvez fosse minha própria cabeça. O trabalho se acumulava, as reuniões da semana pareciam todas inúteis, e até mesmo Isabela havia me cansado com seu discurso interminável sobre “posicionamento de marca”.
Foi então que a vi.
Lúcia estava parada na recepção. Sozinha. As mãos agarradas à alça da mochila com força demais, os olhos marejados, quase avermelhados. A expressão que ela tentava esconder dizia tudo.
Ela tinha medo.
Não o tipo de receio que se tem de um chefe. Nem a tensão que costumava carregar ao me ver por perto. Aquilo era mais profundo. Instintivo. Um medo que vinha do osso.
Um alerta interno se acendeu em mim.
— Lúcia? — chamei, ao me aproximar. — O que aconteceu?
Ela tentou sorrir, mas o lábio inferior tremeu, como se segurasse um choro antigo e doloroso.
— Nada — respondeu baixo. — Só... sono. Talvez tenha sido a rotina diferente de hoje que me deixou m