Otávio
Acordei com a luz suave do meu quarto invadindo a sala. Meus ombros estavam doloridos e o sofá definitivamente não era confortável para um homem do meu tamanho. Me espreguicei devagar, ouvindo meus ossos estalarem em protesto, e levei alguns segundos até lembrar por que, afinal, eu havia dormido ali.
Lúcia.
A imagem dela surgiu com clareza na minha mente. Ela, usando minha camisa vinho como se fosse um vestido. O olhar dela com desejo, o medo do escuro, o modo como pediu para a luz permanecer acesa. Meu coração apertou.
Ela estava dormindo no meu quarto, sozinha, sob os mesmos lençóis em que tantas vezes eu me deitei tentando esquecer a solidão. E agora, aquele espaço era um abrigo para alguém que precisava de paz mais do que eu jamais poderia imaginar. E um pensamento preocupante me atravessou: ela é a primeira mulher que deita na minha cama. E eu digo em sentido literal. Absolutamente nenhuma mulher além de minha mãe havia entrado em meu apartamento.
Levantei do sofá