Rose
Chego em casa com o corpo tremendo, sentindo uma turbulência de emoções. “Como pude ser tão irresponsável?” ecoa em minha mente. “Ele tem alguém... E ela é um doce.” Perguntas e desabafos pairam no ar. “Como isso pôde acontecer?” Sou uma pilha de nervos. Me jogo na cama, e as lágrimas começam a cair, enquanto me lembro do quanto fui tola por me entregar a um desconhecido, sem saber de suas obrigações. As lágrimas escorrem pelo meu rosto até que a exaustão me leva ao sono. Sou acordada pelos cutucões insistentes de Max. — Vamos, dorminhoca! Levanta! Me conta como foi! — diz Maxine, balançando-me como uma criança choramingando por doces. Levanto a cabeça e olho para ela, sentindo meu rosto inchado de tanto chorar. Ela me observa com espanto, os olhos arregalados. — Ok, mocinha! O que aconteceu? Por que essa cara de pão? — pergunta, enquanto a abraço e desabo em mais lágrimas. — Max, eu sou horrível! — balbucio entre soluços, enquanto ela acaricia meu cabelo, tentando me acalmar. — Como assim, Rose? — questiona, confusa. — O homem com quem... transei naquela noite é comprometido!!! — exclamo, entre lágrimas. Decidimos nos mudar para a sala, e assim começo a contar tudo a ela. — Daniel Rossi? — Max repete, como se estivesse tentando recordar. — Esse nome não me é estranho! Ela começa a andar de um lado para o outro, pensativa. De repente, para e me observa com um brilho de determinação nos olhos. — Vou buscar meu notebook! Assim, conseguimos pesquisar e descobrir quem ele é! — dispara, antes de sair voando em direção ao quarto. Nesse momento, a campainha toca. Levanto do sofá e vou atender. — Oh meu Deus! — grito, cheia de animação. — Mamãe, papai, tia Lauren e tio Jhon! — abraço meus pais e os de Maxine, convidando-os para entrar. Fazia cinco anos que não víamos nossos familiares. — Era a pizza, Rose? — pergunta Max, voltando para a sala. Assim que vê seus pais, corre em direção a eles, pulando de alegria. A noite chega em um piscar de olhos, e nossos pais ficam conosco, prontos para viajar para a África no dia seguinte. O telefone da casa toca, e Max atende, enquanto nossas mães preparam o jantar. — Alô! ... Sim... Sim... — Ela me observa intensamente enquanto fala. — Sou amiga dela... Oh, claro, claro... Vou avisar sim, muito obrigada, senhora... Ok, tchau! — Desliga o telefone e, em um ato surpreendente, começa a dançar. — Adivinha quem é a nova editora/escritora da Editora Rossi? — Oh meu Deus! — gritamos em uníssono, rodopiando felizes pelo apartamento, fazendo nossos pais rirem de nossas reações entusiasmadas. — Bem, vamos brindar a essa nova conquista! — meu pai diz, levantando o copo de uísque. — Calma, Max... Mas o... — Uma coisa de cada vez, Rose! Primeiro o seu emprego, depois vemos o que fazemos! — Ela me silencia com o dedo nos lábios e balança a cabeça, decidida. Então, me puxa até a mesa, serve dois copos de vinho e brindamos. A noite passa rapidamente, e eu mal consigo pregar os olhos. Minha ansiedade está me consumindo, mas a esperança de um novo dia começa a brilhar no horizonte. Levanto-me e me preparo para o meu primeiro dia de trabalho, enquanto minha mãe prepara o café. – Bom dia! Você está linda, meu amor! – exclama ela da cozinha. Estou vestindo uma camisa branca de botões, uma saia lápis preta que chega até o joelho e meus saltos pretos. – Obrigada, mamãe – respondo, dando-lhe um beijo no rosto. – Que horas é o voo de vocês? – Às 14:00. Não se preocupe, a Maxine vai nos levar ao aeroporto. Eu te aviso quando embarcarmos. – Ela coloca uma xícara de café à minha frente. Na verdade, não consigo comer nada; meu estômago está embrulhado. Despeço-me da minha mãe, pego as chaves do carro e minha bolsa antes de sair. Ao chegar na editora, Michele, a secretária da senhorita Suzany, nos recebe, a mim e aos outros dois candidatos selecionados, Jorge e Natália, que são adoráveis. Desde o início, nos damos muito bem, o que me deixa animada. Michele nos apresenta as instalações da editora, onde cada um terá seu próprio escritório e secretaria. Meu escritório não é muito grande, mas tem um charme rústico, com uma grande janela e uma mesa de madeira envernizada, além de duas poltronas na frente. Assim que entro na sala, ligo o computador e me acomodo na cadeira. Minha secretária, Amanda, traz alguns manuscritos para eu avaliar e a empolgação só aumenta. — Senhorita Millar, sou Amanda, sua secretária. É um prazer conhecê-la. Espero que façamos um ótimo trabalho juntas! — ela diz com um sorriso, transmitindo uma energia contagiante. — O prazer é meu, Amanda, mas por favor, me chame de Rose, ok? — respondo, sorrindo de volta. A manhã passa rapidamente e, ao sairmos para o almoço, eu, Jorge, Natália e Amanda decidimos ir a um restaurante próximo da editora. O almoço transcorreu de forma agradável, entre risos e conversas, enquanto nos conhecíamos um pouco melhor. Ao retornar para a editora, fui chamada para a sala da Senhora Suzany. — Olá, Rosalie! Está gostando do trabalho? — perguntou ela, concentrada em alguns documentos espalhados à sua frente. — Claro, Senhora! Estou adorando! Muito obrigada pela oportunidade! — respondi, transbordando entusiasmo. — Oh, por favor, Rosalie, me chame de Suzy. “Senhora” faz eu me sentir velha — disse ela, rindo e balançando a cabeça. — Bom, preciso de um favor. Poderia entregar estes documentos para o meu irmão na empresa Rossi? — Olhei pela janela e notei sua secretária ao telefone, então voltei minha atenção para Suzany. — Ah, a Michele está sobrecarregada de trabalho, e esses documentos são muito importantes. Confio em você, pois sei da sua responsabilidade — continuou ela, não sem que eu sentisse um leve ar de mistério na situação. Mesmo assim, peguei o envelope. — Claro, Senhora... quer dizer, Suzy. — Saí da sala, peguei minha bolsa e avisei Amanda que voltaria em um instante. Cheguei à Rossi em menos de dez minutos. O prédio era majestoso e luxuoso; o piso da recepção brilhava com mármore branco, as paredes ornamentadas com arabescos dourados refletiam a luz em muitos espelhos. Aproximando-me do balcão, fui recebida por uma mulher loira de sorriso radiante. — Boa tarde! Como posso ajudar? — seu sorriso era tão envolvente que me deixou um pouco tímida. — Boa tarde! Estou aqui para entregar alguns documentos para o irmão da senhora Suzany Rossi. Sou Rosalie Millar — disse, na esperança de que não me impedisse por não saber o nome do irmão. — Sim, sim! Aqui está seu crachá. O andar do senhor Rossi é o 22° — ela me entregou o crachá de visitante e, agradecendo, segui em direção ao elevador. Apertando o botão do andar, uma sensação de ansiedade começou a se formar no meu estômago. E se o Daniel estivesse aqui? “Não, não! Pare de pensar nisso. Entregue os documentos ao Sr. Rossi e saia o mais rápido possível!” ordenei a mim mesma em pensamento. Quando o elevador parou no andar indicado, saí e caminhei até a recepção dos escritórios, que seguia o mesmo estilo do piso inferior, mas de forma mais compacta. Dirigi-me ao balcão onde, ao contrário da simpática moça anterior, uma ruiva de semblante fechado me aguardava. — Boa tarde, sou Rosalie... — não consegui terminar a frase. — Sua entrada já foi autorizada. O escritório do Sr. Rossi é à direita — ela apontou para o lado. Agradeci com um gesto de cabeça e segui em direção ao escritório. Entrei em uma pequena sala onde estava a secretária do Sr. Rossi, uma senhora que parecia à beira de um colapso enquanto chutava a impressora. — Droga, essa máquina estúpida! — exclamou, colocando as mãos na cintura e olhando para o teto. — Olá! Tudo bem? — disse, de maneira calma. — Oh, meu Deus! Não vi você aí — a senhora respondeu, rapidamente se recompondo. — Está precisando de ajuda com a impressora? — sugeri, apontando para a máquina rebelde. — Essas tecnologias estão me enlouquecendo! Está na hora de me aposentar — ela riu da própria frustração. — Deixe-me mostrar como funciona — ofereci, e, ao ajudá-la, vi seu rosto iluminar-se de animação. — Mas quem você é mesmo? — perguntou, pegando os papéis que saíam da impressora. — Chamo-me Rosalie, trabalho na editora Rossi. A senhora Suzany me enviou para entregar estes documentos ao irmão dela — expliquei, entregando os papéis. — Ah, sim! Você poderia deixá-los em cima da mesa do Sr. Rossi? Ele está fora para uma reunião, e preciso levar esses documentos à contabilidade — disse, apressadamente. — Claro, tudo bem. Viro-me para a grande porta de madeira e a empurro. Ao entrar, sou recebida por uma sala inteiramente branca, adornada com estofados e cadeiras de couro, e uma mesa de vidro meticulosamente arrumada. Caminho até a mesa e deixo o envelope com os documentos sobre ela. Percebo que há um porta-retrato em cima da mesa. Minha curiosidade supera meu medo e desejo descobrir quem é o irmão da Senhora Suzany. Quando pego o porta-retrato nas mãos, ouço a porta se abrindo. Viro-me rapidamente e me deparo com quem eu menos queria encontrar: Daniel. — Ora, ora, veja quem está aqui, minha pequena — ele diz, com um tom intimidador. "Minha"?! Que idiota, quem ele pensa que é? — Desculpe, senhor, já estou saindo. Com licença. — Ao tentar passar, ele bloqueia meu caminho. "Idiota, idiota," repito em minha mente. — Por que tanta pressa, pequena? Tentando fugir de novo? — ele diz, aproximando-se. Dou um passo para trás, mas ele continua se aproximando, até que eu bato a bunda na mesa, me sentindo encurralada. — Não sei do que o senhor está falando! — digo, nervosa. — Qual é, Rose? Vai fingir que não se lembra? — Ele me pega pela cintura e me coloca sentada em cima da mesa, posicionando-se entre minhas pernas, fazendo minha saia subir e revelando mais pele do que eu gostaria. Sinto meu corpo esquentar. — Já disse que não me lembro do senhor! — olho firmemente em seus olhos. — Ah, essa boquinha... Deixe-me refrescar sua memória — ele me beija com urgência. Acabo cedendo, a razão se esvaindo conforme o beijo se intensifica e a mão dele encontra meu seio, massageando suavemente. "O que estou fazendo?" "Não!" penso comigo mesma. "Rosalie Millar, você não é uma traidora!" Me reprimindo, empurro-o e, em um impulso, acerto um tapa em seu rosto. Meu coração está descompassado enquanto desço da mesa e ajeito minha saia, caminhando até ele. — Olha aqui, seu idiota egocêntrico, não sou uma qualquer. Odeio homens como você! — digo com firmeza, penetrando em seus olhos. — O que achou? Que uma noite de sexo me faria pensar em você? Ha! — meu sangue ferve. — Você não é grande coisa! Deveria ter vergonha do que está fazendo, seu traidor. A Senhora Suzany é uma mulher maravilhosa, bonita e doce; traí-la assim é desumano! — Após as palavras saírem em um turbilhão, saio em direção à porta, mas me viro novamente para encará-lo. — E mais uma coisa: finja que nunca nos conhecemos. Nunca mais dirija a palavra a mim. Saio e bato a porta com força. Meu coração está martelando enquanto desço e sigo para o estacionamento. Ao entrar no carro, deixo as lágrimas caírem.