Capítulo 5
Sage

— Sage! Por favor, sai daí, docinho. É importante! — Ouvi ele me chamar do outro lado da porta.

— Me deixa em paz! — Rebati.

Ainda tava brava com ele pelos comentários desrespeitosos de mais cedo. Mesmo que minhas pernas ficassem bambas toda vez que ele me chamasse de "docinho", insinuar que eu deixaria o Cassius ou qualquer Alfa me usar como brinquedo sexual foi demais.

Talvez eu não tivesse tanta experiência, mas eu lia romances. Eu sabia o que era cafajeste. E Cassius não era um deles. Achar que eu era burra a ponto de não notar a diferença... era ofensivo!

— Por favor! — Ele agora arranhava a porta, a voz mais próxima, num tom quase suplicante. — Desculpa se eu feri seus sentimentos. Não era minha intenção. Mas a gente realmente precisa conversar.

Abri a porta só um pouco, o suficiente pra espiar por uma fresta. Ele tava bem ali do outro lado, me encarando com aqueles olhos de ardósia, emoções indecifráveis girando neles. Comecei a respirar em pequenas golfadas. Por que ficar tão perto dele me deixava tão... quente? Tive que me controlar pra não abanar o rosto.

— Aí está você, docinho — Murmurou, com aquela voz grave e aveludada que mexia comigo por dentro. Mas o que ele disse em seguida apagou o calor que começava a crescer.

— Acho que temos um problema.

— Ouvi um barulho lá fora, fui até a janela e vi uma mulher correndo em direção à floresta. Só deu pra ver de costas, mas ela tinha cabelo preto comprido. Acho que ela pode ter ouvido a gente conversar... ou até me visto. Posso estar enganado, mas as roupas dela eram boas demais pra serem de alguém daqui. E não consigo pensar num motivo pra alguém do círculo interno vir tão longe se não estivesse procurando por alguma coisa.

— Ai, não! Se ela contar pra alguém, eles vão vir atrás da gente. Ninguém pode encontrar você aqui! — Comecei a andar de um lado pro outro, a voz subindo sem controle. — O que a gente faz?

— Volta pra casa da alcateia e finge que nada aconteceu. Só volta pro trabalho como se fosse mais um dia qualquer — Sugeriu. — Não se preocupa comigo, eu sei me cuidar.

— Tá bom! Eu vou agora! — Falei, já correndo em direção à porta.

Mas ele segurou meu pulso e me puxou de volta com tanta força que bati contra o peito dele, ricocheteando como se tivesse dado de cara numa parede.

— Se cuida, docinho. — Alertou ele, olhando nos meus olhos enquanto beijava o dorso da minha mão.

Logo em seguida, pareceu voltar a si e largou minha mão como se ela tivesse queimado. Não tive tempo de pensar no que aquilo queria dizer, saí correndo pela porta pra começar minha missão.

Já tava quase chegando na casa da alcateia quando sirenes começaram a soar por todos os lados. Guerreiros uniformizados invadiram o pátio e se espalharam por toda parte. Me escondi atrás de uma árvore, ouvindo o general gritar ordens.

— Renegados invadiram a fronteira! Quero todo mundo em alerta. Tentem capturar eles com vida!

Me virei em pânico e corri de volta pelo caminho por onde vim, desviando dos guardas que surgiam de todos os lados. As pessoas saíam de casa com armas nas mãos, a alcateia inteira em estado de guerra. Meu corpo doía e eu mal conseguia respirar, mas não parei.

Eu não podia deixar que encontrassem meu novo amigo. Por nós dois.

Alaric

— O que tá acontecendo? — Pulei de pé quando minha pequena salvadora entrou pela porta como um furacão.

Alguns dos ferimentos dela tinham voltado a sangrar, as casquinhas arrebentadas. Ela mal tinha começado a se recuperar e claramente se forçou além do que o corpo machucado aguentava.

— Renegados! — Disse ela, ofegando. — Invadiram a fronteira. Os guardas estão vasculhando cada centímetro do território de Blackthorn atrás dos intrusos. Você precisa sair daqui antes que encontrem você!

— Por favor! Se acharem você aqui, vão matar. Eu morreria se alguma coisa acontecesse com você. Você é meu primeiro amigo de verdade e eu não posso perder você!

Ela se jogou nos meus braços e eu acariciei as costas dela, sem muito jeito, tentando acalmar. Não tava nem um pouco assustado com o que o Alfa dessa alcateia ou os guardas poderiam tentar fazer comigo. Mas também não tava pronto pra revelar quem eu era, nem por que tava ali. Então, o melhor era ir embora antes que isso se tornasse necessário.

O problema era que deixar ela pra trás não me parecia certo. Um Alfa deve cuidar da própria alcateia, não importa quem ela seja. E esse Alfa, claramente, tava fazendo um trabalho de merda.

Ela se agarrou em mim e eu a envolvi com mais força, tomando cuidado pra não pressionar as costelas quebradas, torcendo pra que aquele abraço fosse o suficiente pra ela se sentir segura e me soltar. Mas, em vez disso, seus punhos se fecharam na minha camisa e ela chorou contra o meu peito. Aquilo derreteu, ainda que por um instante, o gelo que envolvia meu coração de pedra.

Eu não entendia por que me sentia tão atraído por ela, nem por que era tão difícil ir embora, mas eu sabia que precisava.

— Você vai ficar bem, docinho — Reassegurei. — Se cuida, tá? Fica em segurança.

— Eu vou tentar — Respondeu ela, se afastando só o bastante pra me dar um sorriso tímido. Mas logo franziu o nariz e o sorriso sumiu. — Você sentiu isso? Que cheiro é esse? Parece... elétrico. Tipo o ar antes de uma tempestade.

Merda. Só percebi que deixei minha aura escapar quando vi os olhos dela perderem o foco, com aquele olhar distante. Pra uma ômega jovem como ela... ainda por cima sem loba, aquilo devia ser avassalador. Recolhi os meus feromônios antes que ficasse demais pra ela aguentar. Afastei os braços e dei um passo pra trás. Não sabia por que perdi o controle, mas não podia correr o risco de acontecer de novo.

— Não senti nada. — Menti. — É melhor você ir agora, voltar pra sede da alcateia. Lá é mais seguro. Se tiverem lobos renegados rondando a floresta, você não devia estar sozinha aqui.

Ela hesitou por um instante, depois assentiu com relutância. Fiquei parado, observando enquanto ela se afastava, tentando entender o que havia naquela garota miúda, com feições delicadas e olhos violetas tão incomuns, que me chamava daquele jeito.

Meus sentimentos sempre ficaram trancados. Eu nunca perdia o controle. Mas hoje... perdi. Com ela.

Afastei os pensamentos e voltei pra dentro. No fim das contas, isso não mudava nada. Provavelmente eu nunca mais veria ela de novo. Peguei o que restava da minha jaqueta rasgada e atravessei a fronteira da Blackthorn, de volta pra casa.
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