Capítulo 4
Sage

Eu caminhava em direção à casa da alcateia quase saltitando. Era o dia da seleção para Ômega-Chefe, e eu planejava colocar meu nome na lista antes que as inscrições fechassem naquela manhã. Eu sabia que podia vencer. Cassius ia ver meu valor, eu tinha certeza disso.

Entrei apressada na cozinha, larguei minha bolsa e amarrei o avental na cintura. A sala estava vazia, mas olhei por cima do ombro, em direção à porta, só pra ter certeza de que ninguém tava vendo. Escrevi meu nome na lista de candidatas o mais rápido que pude e já tava enfiando a caneta no bolso de volta quando o grito agudo de Daphne me fez pular.

— O que você pensa que tá fazendo? — Exigiu ela.

— N-nada. Só me preparando pra trabalhar. — Olhei pro relógio pra confirmar a hora. Ainda tava cedo.

— Pois você não é necessária aqui. Vai fazer alguma coisa lá fora, onde não vai atrapalhar!

Saí da cozinha quase pulando de alegria. Eu adorava trabalhar no jardim. Lá fora era bonito e tranquilo. Mas não demorou pra eu perceber que tinha caído numa armadilha. O problema me esperava logo do lado de fora da porta dos fundos.

— Aonde você pensa que vai, sua vadia sem loba? — Uma das amigas de Daphne me cutucou no peito, enquanto o grupinho dela ria atrás. Tentei desviar, mas ela acompanhou meu movimento, bloqueando minha passagem. — Achou mesmo que a gente ia deixar um lixo como você participar do concurso? Que piada! Como se um pedaço inútil de merda como você pudesse chefiar alguma coisa!

Ela me empurrou com força no ombro, me fazendo cambalear. Antes que eu recuperasse o equilíbrio, ela puxou o braço pra trás e me acertou no nariz. Ouvi um estalo horrível e minha cabeça girou com o impacto, o sangue escorrendo das narinas até o queixo.

Caí pra trás, bati a cabeça no concreto e o mundo rodou. Antes que minha visão voltasse, um golpe atingiu meu estômago, arrancando o ar dos meus pulmões.

Elas começaram a me chutar, uma de cada vez, sem piedade. Um dos chutes acertou minhas costelas e ouvi o estalo ao mesmo tempo em que uma dor cortante, quente e branca me atravessou o corpo.

Pontos escuros dançaram diante dos meus olhos, a consciência se esvaindo rápido enquanto eu tentava desesperadamente puxar ar. As vozes delas ficaram distantes, abafadas, até tudo sumir numa escuridão silenciosa e quase acolhedora.

— Não encostem em mim! — Gritei, acordando assustada e me arrastando pra longe das mãos frias que me tocavam.

— Shh! Tá tudo bem, docinho. Sou só eu. — A voz grave do meu estranho bonito me acalmou na hora. — Fica quieta pra eu terminar de limpar seus ferimentos.

À medida que o susto ia passando, a dor voltava com força total. Soltei um gemido quando a costela quebrada mandou um choque ardente pelo meu lado. Logo depois veio a ardência do que quer que ele estivesse passando no corte acima da minha sobrancelha.

— Como eu vim parar aqui? — Olhei ao redor e percebi que estava deitada na caminha que ele vinha usando a semana inteira.

— Eu tava dando uma volta quando vi um grupo de lobas jogando seu corpo inconsciente pra fora da fronteira. Mas calma! — Ele levantou a mão quando abri a boca pra dar uma bronca. — Elas não me viram. Mas, por sorte, eu vi elas.

Ele levantou minha blusa e revelou uma mancha roxa já escurecendo sobre minhas costelas. Rasgou um pedaço do lençol e o enrolou firme ao redor da minha cintura. Doeu como o inferno, mas depois que a dor inicial passou, consegui respirar um pouco melhor.

— Ai, não! A seleção pra Ômega-Chefe! Que horas são? — Soltei de repente, lembrando.

— Você não tá em condições de participar de um concurso ridículo pra entreter aquele Alfa idiota. — Rosnou. — Se o filhinho do Alfa precisa de um concurso chamativo pra decidir, em vez de reconhecer o quanto você trabalha todos os dias, então ele merece qualquer patricinha inútil que acabar escolhendo.

— Isso é importante pra mim. Pode mudar minha vida. — Fiz bico. — Eu seria respeitada... não só a rejeitada da alcateia.

Os olhos dele suavizaram ao me ouvir, e o rosto ganhou um traço de compreensão.

— Então é melhor você se apressar.

Abri um sorriso radiante e escorreguei pra fora da cama, gemendo com a dor que atravessou meu corpo. Me recompus o melhor que pude e segui de volta pra casa da alcateia no ritmo que meus ferimentos permitiam. É claro que cheguei atrasada, mas a expressão no rosto da Daphne quando me viu entrar fez tudo valer a pena.

— Sage! O que aconteceu com você? — Cassius perguntou, a voz cheia de preocupação.

Daphne me lançou um olhar estreito, prometendo o inferno se eu ousasse contar a verdade. Mas não havia espaço pra medo na minha cabeça naquele momento. Cassius estava esperando uma resposta.

— Desculpa pelo atraso. — Encarei ele, ignorando os sussurros ao meu redor. — Eu queria participar do concurso, mas eu... eu sofri um acidente.

Ele atravessou a sala até mim e examinou meu rosto e meus braços machucados, estalando a língua e balançando a cabeça.

— Não tem tempo suficiente pra você completar todas as tarefas, e também não seria justo escolher você no lugar das outras que fizeram tudo. Além disso, você parece meio desastrada demais pra um cargo tão importante.

Meu rosto desabou com a sentença dele.

— Mas... — Ele ergueu meu queixo, me fazendo olhar pra ele. — Eu reparei no seu talento na cozinha. Suas sobremesas são deliciosas. Que tal ser nossa nova chef de confeitaria?

— Sério? Obrigada! — Fiquei na ponta dos pés e dei um beijo na bochecha dele antes que pudesse me conter.

Ouvi alguém rosnar atrás de mim e minhas bochechas queimaram de vergonha, mas o sorriso de lobo de Cassius já voltou.

— De nada, passarinha.

Assim que pude, voltei correndo pra casa, ansiosa pra contar a novidade pro meu novo amigo. Entrei pela porta como um furacão e as palavras saíram todas de uma vez, minha empolgação transbordando. Achei que ele fosse ficar feliz por mim, mas em vez disso, me lançou um olhar sério.

— Isso não parece estranho pra você? Por que o filho do Alfa faria algo tão legal por alguém que é rejeitada pela alcateia?

Estremeci com o tom desprezível dele, mas engoli a dor e, pela primeira vez, decidi me defender.

— Eu tenho valor! Só porque você e o resto dessa alcateia não conseguem enxergar isso, não quer dizer que ele também não consiga! — Disparei, com arrogância.

Um rosnado frustrado subiu do peito dele.

— Só tô avisando pra você tomar cuidado. Alfas são conhecidos por usar ômegas e depois descartar. Não deixa ele te enfeitiçar com palavras bonitas só pra levar você pra cama dele.

Se minhas bochechas já estavam vermelhas antes, agora estavam em chamas. Mas minha raiva era tão grande quanto a humilhação.

— Talvez quem devia tomar cuidado seja você! Eu falei pra você não sair por aí. Vai acabar matando nós dois!

Virei nos calcanhares e saí pisando duro, levada por toda indignação que sentia. Fui direto pro único cômodo da casa com uma porta: o banheiro. E bati ela na cara idiota dele com toda força que pude.
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