— Rodei isso aqui tudo e nem sombra dela, Julia. Até eu tô ficando preocupado. — Matthew disse, olhando ao redor.
— Ela não é de fazer isso... — Julia respondeu, a preocupação crescendo em sua voz.— Está ficando tarde, você precisa colocar gelo nesse pé. Vamos levar você para casa.— E a Lin? Eu não posso voltar para casa sem ela, minha tia vai surtar! — o desespero crescia em seu tom.Matthew e Otto não sabiam o que fazer. O parque estava esvaziando cada vez mais, e a garota sentada à frente deles precisava cuidar do pé machucado. No entanto, sua preocupação com a amiga só aumentava.— Se você aguenta andar, a gente pode dar mais uma volta, prestando mais atenção. O que acha? — perguntou Otto— Vamos fazer isso. — Julia respondeu, já tirando a bota do pé.— Agora, se a gente não encontrar ela, vamos todos para casa. Combinado?— Combinado.Julia estava determinada a encontrar a amiga. Toparia qualqueJulia continuava nos braços de Otto quando a polícia chegou. Sentada no chão, imóvel, apoiava a cabeça no braço dele, que a envolvia como um escudo. O corpo tremia em meio aos soluços, mas ela não se movia.— A gente precisa sair daqui, Julia — Otto murmurou, a voz baixa, quase um sussurro.Ele esperou uma resposta. Nada. Não sabia como fazê-la levantar, como tirá-la dali. Então permaneceu ao lado dela, imóvel, sentindo o peso daquele silêncio.Matthew, afastado, conversava com os policiais. Pediu que avisassem seus pais e também os de Otto e Julia. Com a voz firme, relatou tudo o que haviam feito naquela noite. O policial ouvia atentamente, anotando cada detalhe.O som distante de sirenes rompeu o silêncio. Pouco depois, uma ambulância chegou, acompanhada por duas viaturas.Os profissionais conseguiram retirar Julia do local. Ela estava completamente inerte, muda, deixando-se conduzir sem resistência. Mas, mesmo assim, seus olhos só proc
— Patrícia... Pelo que Otto contou, Julia vai precisar de ajuda — disse Grace, cabisbaixa após ouvir tudo.— Vai sim. E se quiser, posso te ajudar — respondeu Patrícia com gentileza.— Eu nem sei por onde começar...— Uma coisa de cada vez, Grace. Não precisa resolver tudo agora.Patrícia segurou a mão gelada de Grace e, nesse instante, ouviu sua barriga roncar.— Quando a Julia sair, vamos comer algo. Ela deve estar faminta... e você também — disse Patrícia com um sorriso.— Não precisa, não quero incomodar.— Imagina, não é incômodo nenhum.Apesar da noite difícil, a presença de Patrícia e Otto trazia uma sensação de leveza. Aos poucos, Grace foi se permitindo relaxar, e o peso que carregava parecia menos sufocante.Julia saiu da sala atordoada, completamente perdida nas imagens que se fixaram em sua mente. Estava exausta, o rosto ainda mais pálido, os olhos inchados de tanto chorar.Otto foi
Na casa dos Green, o cenário era de extrema tristeza.Julia se largou no sofá e voltou a chorar. Grace sentou-se ao lado dela, colocando os pés da filha em seu colo. Nada foi dito. O silêncio era cortado apenas pelos soluços de Julia, até que ela foi vencida pelo cansaço.Grace não dormiu, tampouco saiu de perto da filha. Além de ser impossível pregar os olhos com a mente fervendo, ela aguardava o retorno da irmã. Não sabia como recebê-la, o que dizer ou o que esperar.Cansada de esperar, e com a luz da manhã começando a invadir a casa, Grace finalmente se levantou. Sentia-se impotente, sufocada pelo peso da dor, mas a única coisa que conseguiu fazer com convicção foi acender uma vela para Santa Maria, Mãe de Deus.Permaneceu ali, em silêncio, as mãos trêmulas entrelaçadas em oração. Implorava à santa que trouxesse conforto para sua filha, que aliviasse aquela dor sufocante. E, num desespero mudo, tentava barganhar com o divino—como se sua fé pudesse reverter o destino, como se houves
Matthew se viu obrigado a seguir sua mãe. Ela sempre conseguia o que queria.Ele a acompanhava, transmitindo uma falsa calma, mas por dentro estava mergulhado em ira. Sabia que seu amigo passaria mais tempo com a mulher que ele desejava.“ Amanhã... Amanhã você vai vê-la. Amanhã você vai ficar ao lado dela…”Repetia esse pensamento, tentando se acalmar.— Já cansei de dizer à Patrícia que nem tudo é da nossa conta, principalmente quando pode prejudicar nossos filhos. Mas ela nunca aprende — disse Nancy, impaciente.— Mãe, você tem ideia do que aconteceu hoje? — Matthew a interrompeu, firme.— Eu sei que preciso proteger meu filho.— Pelo amor de Deus! Uma colega da faculdade foi assassinada brutalmente! A amiga dela encontrou o corpo e está em choque! — a voz de Matthew aumentava a cada palavra. — Eu estou bem, Otto está bem... Mas Julia e a família dela não estão!Ele respirou
Dentro do escritório, Edward serviu dois copos de whisky. Os dois se sentaram, e antes que o silêncio se tornasse incômodo, Matthew quebrou a tensão:— Ela não está bem — murmurou, a cabeça baixa, a voz carregada de peso.Edward franziu a testa.— O que aconteceu? Ela chegou aqui completamente descontrolada.Matthew soltou um suspiro, esfregando a mão na nuca.— Colocou na cabeça que eu acho a Patrícia melhor que ela.Edward inclinou-se para frente, o olhar sério.— Ela disse isso?— Sim.Edward passou a mão pelo rosto, pensativo.— Matt, me conta essa história direito.Matthew contou sobre a morte da amiga, sobre como a noite tinha sido longa, carregada de medo e tristeza.— Certo, mas e você e sua mãe? — Edward interrompeu, percebendo que Matthew enrolava, contando a história mais devagar do que o necessário.Matthew passou a mão pelo rosto, exausto.— Ela
— Otto? — chamou Patrícia, tocando de leve no ombro do filho. — Filho, acorda.Ele resmungou, os olhos ainda pesados de sono.— Hã? O que foi, mãe?Patrícia sentou-se na beira da cama e puxou o lençol devagar, revelando o rosto dele. Otto piscou algumas vezes antes de encará-la.— Precisamos ir ver a família da Julia e levá-la à clínica.— Estou tão cansado…— Eu sei, todos estamos. — ela passou a mão nos cabelos dele com carinho. — Mas vamos, quanto antes resolvermos isso, melhor.Patrícia se levantou e saiu do quarto. Otto não demorou a segui-la e, logo, os dois estavam prontos para sair de casa. No caminho, passaram na padaria, compraram café e algumas rosquinhas antes de seguirem para a casa onde Julia morava.Ao descerem do carro, notaram uma movimentação incomum na casa. Ficaram observando por alguns instantes, até que Grace os avistou e se aproximou com um sorriso forçado.— Vocês realmente vieram. — Grace disse, surpresa.— E trouxemos café e rosquinhas. Espero ter acertado no
A torção no tornozelo obrigou Julia a usar uma bota ortopédica. Ela detestou a ideia assim que o médico a mencionou, mas não havia alternativa. O incômodo físico era o menor dos problemas — o que mais a incomodava era a sensação de fragilidade.— Promete que vai cuidar direitinho desse pé? — perguntou Patrícia, com um tom meigo, mas firme, como quem cuida de alguém há anos.— Prometo, não se preocupe. — Julia tentou sorrir, mas havia um traço de cansaço em sua expressão.Patrícia assentiu, já se afastando para concluir os encaminhamentos.— Já mandei separar os remédios — disse, voltando-se para Otto. — Pegue na recepção e leve-a para casa. Nada de esforço por hoje.— Pode deixar. — Otto respondeu com um aceno leve, mas sem muito entusiasmo.Otto deu um beijo na mãe, segurou a mão de Julia e os dois saíram da sala, deixando Patrícia no consultório para que pudesse voltar ao trabalho. Passaram na recepção, pegaram os remédios que já estavam separados e foram embora.Ao se aproximarem d
Na manhã seguinte, ele fez o que havia prometido: buscou Julia e foram juntos à faculdade. No trajeto, foi carinhoso e gentil — acariciou o rosto dela, suas mãos, e pousou a mão em sua perna de forma suave.Ao estacionar o carro, inclinou-se em sua direção e lhe deu um beijo. Ela correspondeu. O beijo foi esquentando, e logo ele desceu a mão, acariciando seus seios, sua barriga—E acordou.Foi um sonho. Real, intenso, mas apenas um sonho. Ainda deitado na cama, Matthew cedeu novamente aos desejos que se tornavam cada vez mais fortes."Ela nunca vai me querer desse jeito... Mas eu posso fazer ela querer.”Estava certo do que queria — e não pretendia desistir tão cedo.Vestiu-se às pressas e saiu de casa com o coração acelerado.Dirigiu como se cada segundo fosse precioso. A ideia de não conseguir um momento a sós com Julia o deixava inquieto.Ao chegar à porta da casa, ele buzinou. Julia saiu com pressa.— Nã