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CAPÍTULO 4 — O PRIMEIRO CIÚME QUE ELE NUNCA ADMITIRIA

A manhã começou com uma calma aparente, mas havia algo diferente no ar — como se a mansão estivesse observando cada passo meu para entender se eu realmente pertencia àquela rotina. Lorenzo já estava na sala de brinquedos, sentado no chão, concentrado em uma folha grande de papel. Ele segurava um giz azul e desenhava ondas com uma precisão que parecia vir de outro mundo. Quando me aproximei, ele ergueu os olhos apenas por um instante, suficiente para me reconhecer, antes de empurrar outro giz na minha direção, um verde-claro. Um convite silencioso.

— Posso ajudar a fazer o céu? — perguntei, tomando o giz com cuidado. — Mas aviso que ele pode não ficar tão bonito quanto o seu mar.

Lorenzo observou o primeiro desenho torto que fiz, e um sorriso leve apareceu no canto de sua boca. Era um sorriso pequeno, contido, mas sincero — e, vindo dele, tinha um peso que eu não conseguiria medir.

— Viu só? — comentei, apontando para minha nuvem esquisita. — É tudo estratégia para você perceber o quanto é talentoso.

Ele soltou um riso curto e quase imperceptível, mas cheio de luz. Era impossível não sorrir de volta.

Foi nesse momento que Lucas apareceu na porta. O segurança era simpático, sempre disposto a conversar, e tinha uma expressão fácil de gostar. Ele olhou para o desenho e cruzou os braços exageradamente, fingindo seriedade.

— Isso é um céu ou um pato em apuros? — provocou.

Eu ri imediatamente. Lorenzo também, em uma risadinha tímida. Lucas sempre conseguia tornar o ambiente mais leve.

— Olha, eu diria que é arte contemporânea — respondi. — Mas aceito sugestões.

Ele se aproximou alguns passos, inclinando-se para observar melhor.

— Eu sugiro não deixar isso exposto em museus. Pelo bem da humanidade.

Eu estava prestes a retrucar quando senti algo mudar no ambiente. Não foi um som específico — foi a ausência dele. Como se o ar tivesse ficado mais pesado, mais comprimido, como se o espaço estivesse se reorganizando para acomodar uma presença.

E então, sem qualquer aviso, Dante estava ali.

Parado na porta, observando a cena com uma expressão indecifrável. Seu olhar varreu o ambiente com precisão: Lorenzo rindo, Lucas relaxado demais ao meu lado, eu sentada perto demais do segurança. Tudo isso foi registrado em poucos segundos. E o que se formou no rosto de Dante não foi surpresa — foi desaprovação gelada.

— Lucas — chamou, com a voz baixa e firme que carregava autoridade natural —, não é hora de conversar.

O segurança endireitou a postura no mesmo instante.

— Eu só estava—

— O seu trabalho não inclui permanecer em áreas internas quando não é solicitado — interrompeu Dante, sem elevar o tom, mas deixando claro que o assunto estava encerrado. — Ainda mais quando está… distraído.

A pausa antes da última palavra era nítida, carregada e nada acidental. Lucas abriu a boca para responder, mas pensou melhor. Apenas assentiu e deu alguns passos para trás.

— Sim, senhor — murmurou, antes de sair.

Fiquei olhando para Dante, tentando processar o que acabara de acontecer.

— Ele não estava incomodando — declarei com calma, embora meu coração estivesse acelerado.

Dante direcionou o olhar para mim. Havia firmeza ali, mas também algo que eu não conseguia nomear.

— Discordo — respondeu.

— Por quê? — perguntei, cruzando os braços.

Ele deu dois passos na minha direção. Dois passos suficientes para tudo parecer diferente. Sua presença preenchia o cômodo inteiro.

— Porque Lorenzo não precisa de pessoas desconhecidas ao redor dele sem motivo — disse com segurança.

— Lucas trabalha aqui — retruquei.

— Não muda o fato — respondeu, sem piscar.

Sabia muito bem que aquilo não era sobre Lorenzo. Era sobre a proximidade de Lucas comigo. Sobre a naturalidade com que eu ri. Sobre o fato de que, pela primeira vez, ele me encontrou confortável demais ao lado de outro homem.

A percepção iluminou algo dentro de mim.

— Sinceramente, parece mais que o incômodo não era pelo Lorenzo — falei com coragem inesperada.

O músculo na mandíbula dele se contraiu no mesmo instante. Um movimento pequeno, mas revelador. Ele respirou fundo, como quem controla impulsos antes de falar.

— Conversas desnecessárias atrapalham a rotina — afirmou, tentando recuperar o tom neutro. — E distrações podem ser problemáticas.

— Nós não estávamos flertando — respondi, clara e objetiva.

Ele ficou em silêncio. Apenas me encarou por um segundo longo, pesado de algo que ele não queria admitir — talvez nem para si mesmo.

Antes que pudesse responder, Lorenzo tocou meu braço, pedindo que eu voltasse à brincadeira. Eu me abaixei para ajudá-lo, mas ainda sentia o olhar de Dante sobre mim, denso e cheio de significados não ditos.

***

Mais tarde, levei Lorenzo ao jardim. O sol criava manchas douradas sobre o chão, e o menino correu entre colunas e árvores como se estivesse explorando o mundo inteiro. Ele parecia mais leve comigo por perto — como se sentisse segurança na minha presença. Isso me tocava de um jeito difícil de explicar.

Quando ele finalmente cansou, sentou-se ao meu lado nos degraus de mármore.

— Vou buscar água — disse, levantando-me devagar. — Já volto, tá?

Ele assentiu.

No instante em que me virei, Dante estava parado na porta da varanda. Como se tivesse surgido do nada. Como se soubesse exatamente quando eu iria me mover.

— Para onde vai? — perguntou, com a voz controlada, mas claramente tensa.

— Pegar água para seu filho — respondi com naturalidade. — Por quê?

— A cozinha interna é mais perto — argumentou — e você ainda não conhece perfeitamente os corredores.

— Eu sei onde fica a cozinha, obrigada.

— Quer que eu acompanhe? — insistiu.

Arqueei uma sobrancelha.

— Eu trabalho aqui, senhor Valverde. Não sou uma hóspede perdida.

Ele fechou brevemente os lábios, como se precisasse conter alguma resposta mais direta.

— Como quiser — murmurou.

Mas não se moveu. Ficou parado na porta, observando cada passo que dei. Não saiu da posição até eu desaparecer no corredor. Era como se sua postura rígida, o olhar fixo e o queixo tenso revelassem o que ele não dizia: preocupação demais, vigilância demais, algo que ultrapassava limites de chefe e funcionária.

À noite, depois que Lorenzo dormiu profundamente, caminhei pela sala de brinquedos organizando os blocos e brinquedos espalhados. A mansão estava mergulhada naquela quietude noturna que amplifica sons pequenos e pensamentos grandes. Empilhei livros, guardei carrinhos, dobrei um cobertorzinho azul.

Foi quando senti — antes mesmo de ouvir — a presença dele.

Dante entrou na sala sem anunciar. Seu andar era silencioso, mas carregado de intenção. Virei de costas para ele, fingindo que ainda estava ocupada, mas senti o impacto da sua proximidade mesmo sem vê-lo.

Ele parou perto demais. Tão perto que eu podia sentir a mudança da temperatura do ar ao redor.

— Laena — chamou, com um tom que não era de repreensão, nem de rotina.

Virei devagar.

Ele me observava como quem tenta decifrar algo que o incomoda e o atrai ao mesmo tempo.

— Não sorria assim para qualquer pessoa — disse, a voz baixa e firme, mas estranhamente contida.

Minhas mãos se aqueceram. Meu peito também.

— Assim como? — perguntei, quase sem voz.

Os olhos dele desceram devagar até minha boca — não de forma vulgar, mas intensa, como se estivesse catalogando o gesto, memorizando, tentando entender o que aquilo provocava nele.

— Assim — respondeu, num sussurro quase imperceptível.

O tempo pareceu parar entre nós. Havia uma tensão tão forte que eu podia senti-la na pele, no ar, no som do próprio silêncio.

Mas então, como se tivesse recuperado a razão a contragosto, Dante se afastou. Virou-se sem dizer mais nada e saiu da sala como se precisasse fugir de algo que ele mesmo havia provocado.

O perfume dele ainda pairou no ar por longos segundos.

E, naquele instante, eu entendi algo que vinha crescendo desde o primeiro dia: ele estava sentindo ciúme. Ciúme real. Daqueles que ele jamais admitiria. Daqueles que mudam histórias inteiras.

E eu não sabia se estava preparada para o que isso significava.

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