NARRADORA
O elevador particular subiu em um silêncio veloz e assustador, engolindo os andares da Titan Investimentos. Sofia tentou inutilmente alisar o blazer amassado. Senhorita Fiels? O segurança havia errado seu sobrenome, mas era o menor de seus problemas. Ela estava prestes a encarar o homem mais poderoso da cidade, e ele a tinha visto brigar com o pai de sua filha.
O elevador se abriu no último andar, revelando um saguão de mármore branco polido e vidro, onde a luz do sol parecia filtrada por uma elegância cara. A única mesa ali era a de uma secretária executiva de aparência severa, que mal levantou o olhar.
O segurança a conduziu não à luxuosa sala do CEO, mas a uma sala de conferências com paredes de vidro que ofereciam uma vista vertiginosa e implacável da cidade. A mesa de mármore parecia um altar de sacrifícios corporativos.
Alexandre Monteiro estava de pé, à frente do painel de vidro. Ele não se virou imediatamente. Suas mãos estavam cruzadas atrás das costas, e o terno parecia ter sido costurado em sua própria pele.
— Sente-se, Senhorita Fields — ele ordenou, sua voz baixa e controlada.
Sofia engoliu em seco, sentindo-se pequena e transparente.
— O segurança disse que o senhor queria me ver. Eu sou Sofia Fields — ela corrigiu gentilmente o sobrenome.
Alexandre finalmente se virou. Seu olhar cinzento era analítico, avaliando-a como um ativo problemático.
— Eu vi uma mulher ser abordada por um indivíduo problemático na porta do meu prédio — ele começou, direto ao ponto. — E vi essa mulher lidar com a situação com a frieza de quem varre o chão. Esse nível de controle é raro. Eu preciso de uma Assistente Pessoal que não se desfaça sob pressão.
— Eu trabalho para sustentar minha filha. Não é um crime — ela rebateu, sentindo a necessidade de defender sua vida.
— Não, é uma necessidade. Que me leva ao ponto. Eu não ligo para a sua formação ou seus turnos duplos. Eu ligo para resultados. Meu último assistente saiu por não conseguir gerenciar minha agenda. O salário é 4 vezes maior do que a soma dos seus dois empregos.
Sofia apertou as mãos. Pela primeira vez em anos, a segurança de Lara estava ao alcance.
— Eu aceito, Sr. Monteiro — ela respondeu, a voz agora firme. — Qual o primeiro passo?
Alexandre esboçou um leve aceno, como se ela tivesse apenas confirmado o óbvio.
— Ótimo. Vá até a recepção e diga que você é a nova A.P. O RH cuidará da papelada. Amanhã, às 7h, sem atrasos.
Sofia saiu da sala sentindo-se flutuar. Ela seguiu as instruções e desceu dois andares para a seção de Recursos Humanos, um espaço impessoal e cheio de mesas idênticas.
Ao se apresentar como a nova Assistente Pessoal do CEO, a gerente de RH, uma mulher austera chamada Sra. Márcia, mal conseguiu disfarçar o choque.
— A assistente... do Sr. Monteiro? Mas a ficha da Sra. Peterson ainda nem foi processada! — A Sra. Márcia pegou um formulário e olhou para Sofia com desconfiança. — Nome completo?
— Sofia marian Fields.
A Sra. Márcia digitou. O sistema piscou o alerta de contratação de alto nível. — Entendido. A papelada será extensa. Precisamos de referências, exames... e a assinatura de um Termo de Confidencialidade. Qualquer informação sobre o Sr. Monteiro ou esta empresa, Fields, é de propriedade exclusiva da Titan. A quebra deste contrato significa demissão imediata e processo legal. Entendeu?
— Entendi perfeitamente — Sofia assentiu, a euforia sendo substituída por uma seriedade gelada. Ela sabia o peso do que estava aceitando.
Ela passou a próxima hora preenchendo formulários e assinando documentos que prometiam um salário que ela jamais sonhara, mas que também amarravam sua vida a regras rígidas. Ao sair do prédio da Titan Investimentos, ela não era mais apenas uma recepcionista apressada. Ela era a Assistente Pessoal do CEO, e sua vida antiga tinha que ser queimada.