POV Isadora Ferraz
Acordei com o som da chuva batendo contra a janela. Quase como naquela época. No nosso primeiro apartamento. O da goteira na cozinha. O da ilusão ainda viva.
Me levantei devagar. Fui até o espelho. A mulher ali me olhou com desconfiança. Como quem se pergunta todo dia se ainda é ela mesma ou só uma versão reprogramada pra sobreviver.
O quarto ainda cheirava a perfume de mentira. E na minha cabeça… as palavras de Heitor ecoavam como um refrão maldito:
"Sinto sua falta."
"Você ainda é linda."
"Me deixa tentar."
Tomei um banho rápido. Sentei na penteadeira. Peguei o rímel, mas minhas mãos pararam no ar. Ele sentia minha falta? Ou sentia falta do que podia controlar em mim? Da Isadora submissa, da que sorria para agradar, da que escrevia agradecimentos num livro que ele nunca leu?
Será que... por um segundo... ele foi sincero?
Respirei fundo. Me forcei a focar. Tinha uma rotina a cumprir. Um plano em curso. E Dante me esperava no outro lado do silêncio.
Vesti uma calça