POV Heitor Montenegro
Eu não senti o chão quando o médico falou.
É estranho... dizem que, em momentos de choque, a mente desliga, congela, tenta proteger a gente. A minha não fez isso. A minha simplesmente quebrou.
A voz do médico parecia vir debaixo d’água, distante, como se o mundo tivesse ficado viscoso, lento, abafado.
— ...infelizmente... as duas não resistiram…
As palavras flutuaram pelo ar branco daquele corredor silencioso, cortando minha pele como lâminas invisíveis. Eu piscava, mas via tudo em dobro. Ou em nada.
Morreram.
Morreram.
MINHA MÃE.
MINHA ESPOSA.
As duas.
As. Duas.
Eu senti o estômago revirar, mas não consegui respirar. Era como se o ar tivesse me abandonado.
O médico continuava falando, mas eu não ouvia. Ou talvez eu simplesmente não entendesse mais a língua humana. Era um monte de sons sobre “hemorragia”, “traumas internos”, “tempo de resposta”, “choque hemorrágico”.
Palavras bonitas para dizer: acabou.
— Senhor Montenegro? — ele chamou.
Eu ergui os olhos. Ou te