Pov Heitor Montenegro
 A primeira coisa que senti foi o gosto. Amargo. Metalizado. Whisky e arrependimento.
 A segunda coisa foi o silêncio. Pesado, denso, como se o ar do quarto tivesse sido sugado por um vácuo invisível. E a terceira... foi o peso. Um corpo ao meu lado. Um perfume doce demais para ser natural. E uma memória que começou a se formar na minha cabeça, como um pesadelo voltando à tona.
 Abri os olhos. O teto girou por um instante, e o sol que entrava pela fresta da cortina me feriu como uma lâmina. Pisquei, tentando focar. O quarto estava uma bagunça, os lençóis revirados, uma taça caída no chão, a garrafa de whisky aberta sobre a mesa.
 E então eu a vi. Leyla. Deitada de lado, os cabelos espalhados no travesseiro, o rosto sereno, quase bonito, sob a luz da manhã.
 A respiração dela era lenta, tranquila, como se dormisse há séculos. Como se o mundo fosse apenas paz. O estômago se contraiu. A garganta se fechou.
 Afastei o lençol num movimento brusco, e o frio da manhã b