7 anos de casamento, um ultimato: “Filho ou divórcio!”
7 anos de casamento, um ultimato: “Filho ou divórcio!”
Por: Maerley Oliveira
Capítulo 1 – 30 dias para o fim

POV Isadora Ferraz

Sete anos de casamento. Sete anos de silêncios longos, promessas vazias e beijos que mais pareciam selos funerários.

A visita de Célia, minha sogra, não foi inesperada, mas ainda assim carregava o peso de um ultimato. Como sempre, ela entrou sem pedir, como quem invade, não visita.

— Trinta dias — disse, pousando a bolsa com violência calculada sobre a mesa. — Ou você engravida, ou vamos providenciar seu divórcio. Meu filho precisa de um herdeiro. Essa história de esperar está durando demais.

Eu não respondi. Engoli a saliva como quem engole uma faca. Senti meu estômago virar chumbo, mas minha expressão permaneceu intacta. Era meu único escudo.

Quando ela foi embora, me sentei à beira da cama e encarei meu reflexo no espelho. A mulher ali parecia só um fantasma arrumado — bem penteado, bem vestido, bem calado.

Naquela noite, me arrumei como fazia nos nossos primeiros encontros. Vestido justo, maquiagem sutil, perfume de baunilha. Cozinhei o prato preferido de Heitor, dobrei os guardanapos, acendi as velas. Tudo com uma calma forjada. Um cenário montado na esperança de um toque.

Quando ele chegou, por volta das onze, trazia nos ombros o peso do terno amarrotado e no corpo... um cheiro. Doce. Floral. Familiar.

Não falei nada. Só observei enquanto ele largava a pasta sobre o aparador e desabotoava os punhos com o tédio de quem repete um roteiro.

— Jantei fora. — avisou, antes mesmo que eu dissesse "boa noite".

— Preparei seu prato preferido. — tentei.

Ele me olhou rápido, depois desviou.

— Estou cansado.

Cheguei perto, toquei seu braço. Ele não retribuiu. Toquei seu rosto, e ele virou.

— Heitor... você não quer ter filhos?

A pergunta saiu baixa. Quase um sussurro. Quase um pedido de socorro.

Ele suspirou fundo, como quem carrega um fardo antigo.

— Tentamos por tantos anos... você ainda não se cansou?

O jeito como ele falou “você” foi como se jogasse todo o peso do fracasso no meu corpo. Como se ele fosse apenas um espectador de uma tragédia biológica que era só minha.

As palavras queimaram. Como sempre. Mas eu respirei fundo.

— Os médicos dizem que comigo está tudo bem. Todas as vezes. Eles sugeriram que você fizesse exames também...

Ele virou-se com brusquidão.

— Tá me chamando de estéril agora? É isso? Você quer me expor, Isadora?

— Não é isso, eu só quero entender o que está acontecendo com a gente...

— O que está acontecendo é que você enlouqueceu! — gritou. — Vive obcecada com essa ideia de ter um filho. É como se fosse sua única função na vida. Você acha que eu quero um filho com alguém tão... frustrada? Tão fria?

— Não me chama assim... — murmurei, sentindo os olhos arderem.

Ele se aproximou com os olhos carregados de raiva.

— Você acha que sexo vai consertar alguma coisa? Olha pra você, Isadora. Até isso ficou insuportável. Você é uma obrigação. Uma mulher sem graça, sem sal, sem alma. Até sua voz me dá dor de cabeça.

Antes que eu conseguisse reagir, ele me deu um tapa. Rápido. Seco. Preciso. O lado direito do meu rosto ardeu como se tivesse sido marcado em brasa.

Cambaleei para trás, mas me mantive em pé. O gosto de sangue subiu à boca.

— Nem pra mulher você serve direito — ele cuspiu. — Você é uma frustração vestida de gente. Um útero falido com pernas.

Ele pegou as chaves e saiu. A porta bateu forte, sacudindo o ar e meus ossos.

Fiquei ali, no chão. Com o vestido justo, o batom borrado. A face latejava, o corpo tremia, mas o coração... o coração começava a endurecer.

Ali, naquele chão frio da sala que por anos chamei de lar, eu soube que não era mais esposa. Nem mulher dele. Eu era só a sobra. A sombra do que um dia sonhei ser. E por um segundo, o silêncio pareceu me engolir.

A vela acesa na mesa tremeluzia como se também chorasse por mim. A comida esfriava, o vinho azedava no ar. O vestido colado ao corpo, escolhido com esperança, agora era armadura rasgada. Eu estava sozinha. No corpo. No nome. Na vida.

Mas no fundo, uma faísca se acendia. Fraca, teimosa, resistente. Algo dentro de mim sussurrava: "Ele não te matou. Ainda não."

E então vieram os 29 dias.

Heitor não voltou naquela noite. Nem na seguinte. Quando vinha, era só para buscar roupas, carregar planilhas e deixar mais silêncio. Ele não me tocava. Não me olhava. Dormia no sofá ou saía antes do amanhecer.

Foram um desfile de ausências. Só silêncio. Aquele mesmo silêncio antigo, que morava nas paredes e agora dormia na cama vazia ao meu lado.

Toda noite eu olhava o calendário como quem observa uma bomba prestes a explodir. Um dia a menos. Um sonho a menos. Uma versão de mim que se apagava aos poucos.

Ele não me tocava. Nem com raiva. Nem com afeto. Nem com pena.

E então faltava um dia.

Um único dia.

Como se fosse possível gerar uma vida em vinte e quatro horas, quando o que restava entre nós era a carcaça de um casamento morto.

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