Enquanto falava, suas mãos não paravam, e ela continuava a levar os pratos para a mesa de jantar. O salário era bom, e seu único trabalho era cuidar apenas de Valentina. Ela era fácil de lidar, e o serviço era leve. Isso tornava as conversas diárias mais frequentes. Valentina calçou os chinelos, lavou as mãos e se sentou no lugar principal da mesa para começar a comer. Seu rosto exibia um sorriso com um toque de satisfação: — É claro que aconteceu algo bom, algo que pode mudar o rumo da minha vida! Naquela época, Davi ainda não tinha assumido completamente o controle do Grupo Vitalidade. Ele era jovem e impulsivo. Ouviu dizer que o pai dele tinha morrido em um acidente de carro e, segundo rumores, o Guilherme iria herdar o Grupo Vitalidade e se tornar o novo presidente da empresa. Davi seria afastado e expulso da família Santos. Se ela tivesse mantido a calma, não acreditado nos boatos e voltado ao país para confirmar a verdade, hoje já seria a esposa glamorosa e poderosa d
Era tarde da noite. Bryan já havia encerrado o expediente, e Davi, sem pedir que Gabriel o acompanhasse, pegou as chaves do carro e saiu dirigindo pelas ruas da cidade sem rumo definido. As ruas de Cidade A estavam silenciosas naquela madrugada. Quase não havia veículos, e o Maybach preto cortava rapidamente a noite chuvosa. Uma fina garoa começou a cair. Por mais que Davi quisesse evitar encontrar Sophia, de alguma forma inexplicável, ele acabou dirigindo até o hospital. A chuva logo cessou, deixando o ar fresco e úmido. Davi abaixou o vidro do carro, segurando um cigarro entre os dedos, mas sem acendê-lo. Ele girava o cigarro entre os dedos enquanto olhava para cima. Apenas algumas janelas da ala de internação estavam iluminadas, mas a janela do quarto de Sophia já estava apagada. Ele ficou sentado no carro por um bom tempo. O vento frio da madrugada começou a soprar, e a temperatura caiu, provocando um leve desconforto. Davi pensou em acender o cigarro, mas lembrou que Soph
Sophia ia se deitar novamente para continuar dormindo, mas de repente se lembrou do aviso de Lívia. Com os olhos ainda fechados, murmurou: — Lívia deixou comida pra você no balcão. Se estiver com fome, esquente e coma. Quando Davi entrou pela porta, viu a marmita térmica. Ele não esperava que Sophia tivesse se lembrado dele e deixado comida para ele. Se sentiu comovido, o coração preenchido por uma onda de calor. — Sophia, eu não esperava que você fosse deixar comida pra mim. Estou tão emocionado. Davi levantou o cobertor e voltou a se deitar ao lado dela, abraçando ela pelas costas. Sophia franziu a testa e se afastou um pouco. "Comovido com o quê? Foi a Lívia quem deixou, não eu. Mas estava com tanto sono que não quis falar nada." Isso fez com que, a cada movimento dela para se afastar, Davi a seguisse no instante seguinte. — Davi! Num calor desses, você não acha que está me incomodando? Estou com calor! Será que dá pra não encostar em mim? — Se está com calor, eu li
Às oito e meia, Lívia chegou pontualmente com o café da manhã. Era tudo o que ela gostava de comer. Enquanto Davi tomava o café, sua expressão estava séria. Lívia começou a pensar se a comida não era do agrado dele, mas, como no hospital não havia como preparar algo novo, apenas pediu que ele se ajustasse e comesse assim mesmo, se mantendo em silêncio. Depois do café, o médico veio fazer uma checagem. Tudo estava indo muito bem, e Davi finalmente concordou em deixá-la receber alta. Ele não estava preocupado com os ferimentos superficiais, mas sim com o estado psicológico dela. Isso porque, na primeira vez em que a resgatou na praia, depois que ela voltou para casa, seu estado emocional estava longe de ser bom. Ela se assustava com facilidade, acordava sobressaltada no meio da noite, e foi por isso que ele insistiu para que ela ficasse alguns dias a mais no hospital, sob observação. Na noite passada, ele havia chegado tarde, mas ela conseguiu dormir tranquila. Pelo visto, não h
Aeroporto. Selma segurou as mãos de Sophia e Letícia, colocando elas juntas e sobrepostas. Com um tom solene, disse: — Letícia, cuide bem da Sophia para mim. Letícia assentiu com firmeza. — Não se preocupe, mamãe. Eu cuidarei. Sophia ficou surpresa e confusa. Só quando Selma e Frâncio embarcaram no avião é que ela teve a oportunidade de perguntar a Letícia. Letícia apenas balançou o dedo e respondeu: — Nem pergunte. Se perguntar, a resposta é destino. Minha mãe acha que você tem algo em comum com a gente. No horário do almoço, elas foram juntas a um restaurante de peixe grelhado próximo à universidade. À tarde, passearam pelo shopping e compraram algumas coisas de que gostaram. Letícia ficou muito animada e acabou comprando bastante, já que a mãe, antes de partir, havia lhe dado uma boa quantia de dinheiro. O passeio foi muito divertido, mas havia um único incômodo: dois seguranças as seguiam de perto. No entanto, Letícia resolveu tirar proveito da situação e fez co
Valentina já tinha um corpo debilitado, sofrendo de desnutrição. Agora, ao desmaiar, Davi temia que algo mais sério pudesse estar acontecendo com ela. Ele sentia preocupação, gratidão e culpa, mas não mais aquele encanto inicial que sentiu anos atrás, quando ela o salvou. Apesar de saber que não podia se casar com ela, também não queria que algo ruim acontecesse com Valentina.Às vezes, ele se perguntava: se, na época da faculdade, ele não tivesse reconhecido Valentina e, em vez disso, tivesse encontrado Sophia diretamente na praia, será que teria confundido Sophia com a pessoa que o salvou em País M? Afinal, as duas eram tão parecidas.Davi balançou a cabeça, afastando esses pensamentos. Valentina foi quem o salvou em um momento de perigo; ele não podia confundir essa gratidão, transferindo ela para outra pessoa. Valentina já havia sofrido tanto na vida, e Davi sentia que lhe devia muito.Depois de levar Valentina para fora da sala de reuniões, ficou impossível continuar o encontro
Naquele momento, um paciente passou pelo corredor onde eles estavam. Davi abaixou o tom de voz e questionou: — Você não já tinha decidido se separar da Valentina e ficar com a Sophia? — Eu vou resolver isso. Não vou deixar que a Sophia saiba. — A voz de Davi soava fria. O jantar já estava pronto, e a essa hora Davi deveria estar em casa. Mas ele ainda não havia chegado. Com a experiência da última vez, Sophia não ficou esperando à toa. Imediatamente ligou para Davi e Bryan, mas os dois celulares estavam fora de alcance. "Será que aconteceu alguma coisa?" pensou ela. Deslizou o dedo pela tela e ligou para Gabriel, mas também não teve resposta. Guardando o celular, ela baixou o olhar, pensativa. Se Davi realmente tivesse sofrido algum acidente, ela não teria meios de mobilizar ajuda. Seria melhor comer o jantar primeiro. Depois de passar a tarde com Letícia, seu estômago já estava roncando de fome. Talvez fosse melhor sair para jantar com Letícia. Acabou de enviar uma me
Davi não se moveu para enxugar as lágrimas dela. Em vez disso, permaneceu parado ao lado da cama, frio e distante, mantendo uma certa distância. Com uma voz baixa e firme, ele falou: — Vou pedir para o Samuel organizar a cirurgia. Você só precisa descansar e ficar tranquila aqui. Valentina abaixou as pálpebras. Seus longos cílios cobriram parcialmente o olhar, mas, no fundo dos olhos, brilhou uma frieza tênue. Embora aquela criança fosse de André e ela já tivesse decidido que não a teria, ouvir de Davi que ele também não queria o bebê a fazia se sentir derrotada. Ainda assim, ela não estava disposta a desistir. Ela ainda não havia conquistado a posição e a riqueza que tanto almejava. Como poderia ceder tão facilmente? O bebê seria abortado, mas isso não aconteceria silenciosamente, sem que ninguém soubesse. Na superfície, no entanto, ela manteve a aparência de uma mulher obediente e vulnerável. — Farei tudo conforme Davi decidir. Davi, ao vê-la dessa maneira, sentiu u