Imagine viver em um mundo que só conhece o preto e branco. Esther enfrenta esse desafio todos os dias devido a uma rara condição chamada acromatopsia. Mas sua vida está prestes a se transformar em uma jornada repleta de mistérios e descobertas fascinantes. Em meio a essa realidade única, Esther se vê diante de uma escolha crucial: continuar sua busca por um tratamento experimental que promete trazer cores ao seu mundo ou enfrentar os desafios do ensino médio. No entanto, um acontecimento inesperado sacode sua vida quando seu melhor amigo desaparece misteriosamente, deixando-a perplexa e determinada a desvendar o enigma por trás desse sumiço. Mas a reviravolta não para por aí. Um novo aluno, um verdadeiro enigma ambulante, entra na cena na Nova República. O destino parece conspirar, aproximando Esther e esse recém-chegado de maneira irresistível. O que será que esse encontro reservará para ela? A curiosidade começa a se acender, e as respostas a esses enigmas prometem revelar segredos surpreendentes que irão abalar as fundações de sua vida. Prepare-se para mergulhar em uma história repleta de emoção, mistério e a busca pela verdade. Acompanhe Esther em sua jornada extraordinária e descubra como as cores da vida podem surgir dos lugares mais inesperados.
Ler maisCORES RARAS por Magno Novaes, 2017 - 2021 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
Não importa quantos livros e enciclopédias, Esther Ferreira leia, nenhum deles tem a resposta de quem de fato ela é, e qual a influência dela, neste mundo.
Uma verdadeira febre por saber por quê ela veio ao mundo da forma que viera, a consumia vorazmente, fazendo-a se afundar em um rio denso de dúvidas. Entretanto, a garota sempre se mostrou ser a mais entusiasta da família, e ainda que se sentisse receosa quanto a tudo o que acontecia consigo mesma, tinha fé, esperança e uma positividade corpulenta que a mantinha em ordem, mas mesmo assim parecia estar estreitamente a ponta de um precipício.
Sua mãe, Jéssica Ferreira, achava. — Ainda que ela não fosse psicóloga por título. — Que esta dúvida existencial era apenas um reflexo da excepcional adolescência da garotinha.
Pais… A “garotinha” estava prestes a completar dezoito anos. São dezoito primaveras bem vividas, mas peculiares aos olhos de Esther.
Desde que sua família se mudou há oito anos para Monteiro, ela começou a questionar ações, atitudes, coisas que ocorriam naturalmente na vida de todos, inclusive na sua. Contudo, a verdade é que ela tinha consciência do evolutivo mundo, e este, não a perdoava só devido a sua condição.
Ela olhava para as pessoas e elas demonstravam um padrão de comportamento que era sempre a favor do aparentemente impossível. Isto a fazia pensar: por que as pessoas desistiam?
Deixavam de levar seus projetos para frente, abandonavam os seus sonhos que chegavam nem sequer a tentar, cediam em seus romances quentes, que por um único deslize, era descartado como uma lata de refrigerante. Seria mais fácil abandonar um sonho e anseio e seguir o fluxo natural das coisas, mas esta correnteza é realmente natural?
Esther desenvolveu um medo, algo que era irracional e inevitável de sentir. Ela buscava entender o motivo pelo qual Fernando Rebouças. — Um dos seus melhores amigos e conselheiro. — Desistiu de tudo e todos, desaparecendo sem deixar rastros. Isso aconteceu no último dia do ano, quando todos estavam felizes e concentrados em suas próprias felicidades.
Ele inconscientemente, segundo alguns, talvez permitiu a passagem e instalação das indesejáveis sensações de desconforto, solidão, infelicidade e sobretudo medo, este último, que o roubou tudo, e ainda que Esther não entendesse muito bem, também a invadiu gradualmente, quase que sem alarme e se estabeleceu dentro dela, como uma bomba relógio prestes a detonar.
Talvez esta não seja a única coisa em que Esther deveria gastar seus neurônios em tentar consertar ou entender. No fundo, além de ter desenvolvido o medo de perder as pessoas que amava, ela começou a questionar seus sonhos e anseios, e sabia que cedo ou tarde aconteceria algo semelhante ao que ela vinha observando há tempos nas pessoas: a desistência.
Fernando tinha sonhos. Ela também. Ele tinha tudo o que poderia deixá-lo feliz. Ela também. Esther questionava um tanto egoísta ao se comparar, numa indagação profunda. Que diferença existia entre ambos? Será que ele já não enxergava as coisas de um modo surrealista como Esther havia aprendido a enxergar? Ou seriam verídicos os fatos e ele se perdeu no fundo, e estreito poço da depressão? Por mais que as pessoas jogassem toda a culpa sobre o admirável garoto, Esther sabia que Fernando era iluminado demais para ter planejado e executado uma fuga sem evidências.
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A primavera começava para Esther quando o cheiro das rosas do quintal e das outras flores do grande e extenso campo logo atrás de sua casa, chegavam suavemente até ela, entrando sem permissão pelo seu nariz e acionando um pensamento instantâneo de romance, fazendo-a lembrar das grandes praças ornamentadas com belas tulipas mencionadamente¹ amarelas, que havia no centro de Monteiro.
De todas as estações do ano, esta seguia sendo a sua predileta pelo simples fato da garota ser compensada mais em aromas e bons gostos, o que sua visão não conseguia mostrá-la com mais cor e definição.
Esther nasceu com acromatopsia, uma deficiência congênita. — Ainda que ela não considere como falha. — Que a impedia de ver o mundo como as pessoas normais o enxergavam.
Seus olhos não podiam processar as cores. Era viver no que a maioria das pessoas conhecia como: preto e branco. Não como os daltônicos, mas cem por cento preto e branco. Estas eram as suas únicas cores.
Ela foi diagnosticada muito cedo. Ainda com seis meses de vida, quando seus pais perceberam que ela apresentava irritabilidade à luz, conhecida como fotofobia.
Para ela pouco importava quão incolor eram as coisas, visto que as mesmas tivessem algum significado bom.
Nas festinhas infantis e nos aniversários de amigos, ela não enxergava a totalidade das cores dos doces, dos cartazes de felicitações ou dos balões coloridos, que para ela, não passavam de variações de preto e branco. — Ou quão belo poderia ser um arco-íris, que curiosamente não passava de listras simétricas no céu.
Tanto no passado como em dias atuais, seus pais sempre a incentivaram a sua independência, prezando uma vida absolutamente normal, e isso definitivamente mudou algo de forma positiva nela.
A mãe de Esther era uma arquiteta e decoradora que gastava toda sua inspiração na decoração de outras casas, mas que hipocritamente não fazia isso com a própria, que no fim das contas, era muito simples e sem muito aformoseamento, mas aconchegante e de bom agrado para todos de sua família.
Seu pai, Raul Ferreira, foi jogador de futebol, e agora é técnico da equipe de futebol da cidade. — O mesmo que ele jogara, tempos atrás. O esporte estava em suas veias, e é claro, o futebol não o largava. — é o que ele costuma dizer a sua família. Apesar do convívio assíduo com o esporte, Esther nunca desenvolveu interesse pelo mesmo e nem por qualquer outro, asseguro.
Ser filha única de um casal jovem e de profissões tão distintas a fez alguém com infinita inspiração, mas tendenciosa a caminhos excepcionais.
Quando Esther disse para sua mãe que gostaria de estudar astronomia, ela não compreendeu muito bem, mas gostou da ideia. Estudar astros e estrelas sempre foi seu passatempo quando criança.
Se você está confortavelmente bem com o que faz, não importa quais os contras, a felicidade e a excitação sempre cobrirão estes detalhes. Este sempre foi o lema da família: faça o que lhe faz feliz.
Veja só. Esta era a magia da vida. Você pode nascer de pais totalmente diferentes, ou ser inspirado por vários fatores, mas a seleção da natureza e da biologia humana fará de você um ser único, a partir de sua própria verdade interior.
As fotografias na parede do quarto de Esther, diziam quase que abertamente muitas coisas acerca da vida dela e sobre quem definitiva ou superficialmente era a garota P&B.
Fotos de sua última viagem com seus pais para a Amazônia, podem sugerir, por exemplo, que ela gostava da tranquilidade da natureza. — De fato isto é verdade. — Mas ainda que amasse as plantas e animais, anos atrás Esther descobriu ser alérgica a gatos, ou melhor, ao pelo dos bichanos. Bom, a foto inusitada de Fernando e ela jogados em cima de muitos livros na Biblioteca Pública Municipal Professora Emília de Paiva, mostrava verdadeiramente sua paixão pela leitura. Naquele ano, eles levam isso como passatempo e comumente sua paixão.
Esther se aproximou de todas as fotos que havia na parede ao lado da janela, e as analisou com amor, cada uma delas. São boas recordações. Aquilo a fez se sentir pensativa e aqueceu seu coração.
Quando ela olhou para as imagens foi como se tivesse viajado para o passado, e por segundos despercebidos, escutou internamente, as risadas gostosas em encontros de amigos, o sabor do açaí gelado que comeram no último verão e o cheiro do perfume amadeirado, um pouco fora de moda, que Fernando costumava usar.
Ela deu alguns passos à frente e desgrudou do mural a sua divertida foto da biblioteca e a colocou dentro de seu livro favorito — A Viagem ao Centro da Terra. — Enfiando-a logo em seguida em sua mochila.
Esther arfou quase sem querer, traduzindo a saudade que sentia de seu amigo naquele momento.
Ela se aproximou do espelho e colocou as lentes de contato que disfarçam as manchas que haviam em sua íris, e por fim, os óculos escuros, objeto este que evitava a passagem exagerada de luz que poderia causá-la irritabilidade.
Em seguida, pegou sua mochila que estava em cima da cama, e desceu as escadas devagar, deslocando-se para a sala, onde sua mãe estava.
Jéssica andava de lá para cá, e tinha em mãos aquelas revistinhas pequenas de fazer pedidos, algo um tanto ultrapassado, Esther pensou por um momento.
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CORES RARAS - Magno NovaesIndependentemente da quantidade de livros e enciclopédias que Esther Ferreira leia, nenhum parece ter a resposta para quem ela realmente é e qual sua verdadeira influência neste mundo. Uma incessante busca para compreender por que chegou a este mundo do jeito que chegou a consome, mergulhando-a em um mar de incertezas. Ainda assim, entre todos da família, Esther sempre foi a mais entusiasmada. Apesar das inseguranças sobre os eventos em sua vida, mantinha-se firme graças à fé, esperança e uma positividade inabalável. Contudo, frequentemente sentia-se à beira de um abismo. Jéssica Ferreira, sua mãe, acreditava — mesmo sem ser psicóloga — que essa angústia de Esther era apenas um efeito de sua tumultuada adolescência. A "garotinha" estava a um passo de seus dezoito anos, dezoito primaveras peculiares aos olhos de Esther. Desde a mudança de sua família para Monteiro oito anos atrás, Esther passou a questionar ações e comportamentos que, para muitos, pareciam
A CASA Eles entraram na rua Dr. Sales e foram direto para a casa de Fernando. Fazendo o mesmo esquema. Assim que chegaram, deixaram suas bicicletas ao lado e pegaram a chave secreta novamente. — Não ligue a luz. Não vamos chamar atenção. — Fogueira disse, quando Esther já estava prestes a acionar o botão da luz da sala. — Vamos usar a lanterna do celular.— Ah! Que burra eu sou... Está bem. — Esther respondeu, puxando seu celular do bolso e ligando a lanterna. A casa estava muito escura, mas nada que pudesse limitar a locomoção deles.— Eu não estou vendo estas caixas. — Esther disse para Fogueira, olhando para todos os cantos.— Talvez esteja no porão. — Ele sugeriu, indo até à cozinha. — Esther. Vem aqui! — Ele completou. Sua voz saiu firme e séria. — O que foi? — Ela chegou atrás dele, receosa.— Há galões com gasolina. São mais de trinta litros. — Ele falou, iluminando os galões que estavam pelo chão.— Para quê tanta g
Esther estava muito preocupada ao descobrir que seu amigo havia caído nas mãos de algum criminoso sujo e corrupto. Ela estava a ponto de tirar esta história a limpo, mas precisava ser cautelosa. Precisava manter sua integridade.Fogueira alertou a Esther para não envolver a polícia até ter provas suficientes dos fatos que descobriram, mas estavam prontos para acionar a polícia militar estadual, assim que encontrassem o responsável por tudo.Todas as informações levavam a um suspeito: Toupeira. O policial que estava envolvido com o esquema de tráfico na cidade. De alguma maneira, ele encobria os outros. Era o que Esther percebera naquele momento. — Você está na frente deste computador há um bom tempo. — Jéssica afirmou, ao chegar no quarto da filha. Esther estava fazendo pesquisas na web, a fim de descobrir mais alguma pista das histórias que cada vez se juntavam em uma única.— Eu já terminei. É um trabalho do colégio. — Ela disse, fechando rapidamente a aba que est
A CASA DE SHOW O sinal do colégio tocou, alertando os alunos sobre o intervalo. Esther e Elis se encaminhavam até a praça de alimentação, que já estava cheia de estudantes por todas as partes.Elas procuraram um lugar para sentar e fizeram isso, quando localizaram uma mesa livre no canto do grande salão, junto a uma janela — Você deveria me deixar mais informada sobre sua relação com o Fogueira. — Elis disse, colocando sua mochila sobre a mesa e retirando seu lanche que trouxe de sua casa. Era um suculento e saudável sanduíche de frango.— Sabe. Eu estou deixando as coisas fluírem. — Esther disse, também pegando seu lanche. — Acho que você está cansada desse papo de "deixar as coisas fluírem".— Pode ter certeza que sim. Acho que já fluiu o bastante. Parte para o plano "amasso".— O quê? Você pirou? Ele é diferente. — Esther defende o respeito admirável de Fogueira. — Tô brincando. Cuidado para não perder a vez. — Ela fez uma brincade
Esther e Fogueira, ainda que não soubessem, ou talvez não tenham percebido tão prontamente, suas histórias estavam, agora, ligadas. O destino de fato pode não existir, mas este de alguma maneira precisava uni-los para o propósito que estava prestes a acontecer. O parque estava um pouco vazio, no ápice do sol das duas da tarde, mas era fresco. Poucas pessoas faziam exercícios e passeavam por ali. Algumas optaram por descansar à sombra de uma árvore para ler um bom livro. Esther estendeu uma toalha no gramado, debaixo de uma árvore ipê-rosa, e se deitou, olhando para o contraste daquelas coisas ao seu redor. O rosa se destacava sobre o azul ciano do céu. Os pássaros cantavam e ela estava devagar e inevitavelmente entrando em um estado de relaxamento profundo ao ponto de adormecer. A leve brisa que passava derrubava as pétalas sobre seu corpo, em uma experiência cinematográfica para ela.Esther respirou profundamente e fechou seus olhos, ainda que ela tivesse feito o pro
OBSERVE O QUE O MUNDO MOSTRA Uma onda de frio naquela tarde indicava o início do que parecia um inverno rigoroso. Esther carregou sua mochila nas costas, enquanto pedalava tranquilamente até a biblioteca pública municipal. Assim que ela chegou no lugar, ela deixou sua bicicleta no espaço onde costuma repousá-la, e subiu as escadas, enquanto puxava o zíper da mochila e a abria. Ela retirou o velho livro e o folheou rapidamente antes de entrar na biblioteca, a fim de ver se não havia nada dentro que passou despercebido.A porta abriu, rangendo. Um cheiro familiar de livros e um ar tão gelado quanto do exterior, era notável no local. A bibliotecária olhou diretamente para a visita que acabara de atravessar a porta.— Boa tarde. — Esther disse, ao se aproximar do balcão da recepção.— Boa tarde, Esther. — A bibliotecária respondeu sorridente.— Desculpe. Mas eu nunca perguntei seu nome? — Esther indagou um pouco sem graça. Era estranho el
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