As sombras da mansão se alongavam com a tarde preguiçosa, enquanto os últimos raios de sol se filtravam pelas janelas, criando faixas douradas nos cômodos. O suave eco de uma melodia distante, proveniente do piano na sala, contrastava com a inquietação de Jeffrey, que se encontrava absorto em suas anotações no escritório. O relógio antigo marcava o compasso lento de suas preocupações. Desde o nascimento dos gêmeos, algo em Lilibet o perturbava profundamente. Não era apenas a sua frieza em relação aos filhos; era a maneira como ela se movia, como se cada gesto, cada palavra e olhar fossem cuidadosamente calculados, sempre com um interesse oculto por trás deles. “Uma mulher que vê números onde deveria haver amor é perigosa”, refletiu, apertando as têmporas.O barulho de passos no corredor interrompeu seus pensamentos. Ivy entrou, segurando uma pasta. — Papai, trouxe os relatórios da assistente social — anunciou, colocando os papéis sobre a mesa.

A fumaça do cigarro pairava no ar do pequeno apartamento, envolvendo o ambiente em um manto de tensão e desespero. Clarice, sentada à beira da cama pequena e desgastada, observava sua filha Lilibet, que andava de um lado para o outro, suas palavras jorrando em um fluxo incessante e angustiado, como um rio transbordante. A inquietação era palpável em suas mãos trêmulas, refletindo seu estado emocional instável, enquanto seu olhar perdido parecia buscar clareza em um mundo que a desprezava. — Eu não suporto mais, mãe! — gritou, sua voz ecoando como um clamor de socorro e revolta. — Eles me olham como se eu fosse um lixo! Aquela santa da Ivy, o Leon… o papai que só acredita nela! Clarice permaneceu em silêncio, os dedos pressionando o filtro do cigarro com tanta força que suas unhas brancas se destacavam na escuridão dos próprios pensamentos. O que antes era uma filha cheia de esperança agora se transformara em uma mulher transtornada, apris

Havia algo diferente no ar naquela manhã. O céu estava limpo, com o sol surgindo lentamente no horizonte, deixando para trás a escuridão da noite anterior, mas a mansão parecia mergulhada em uma névoa silenciosa — uma calma que não era paz, e sim presságio. Com cada passo que dava, Ivy caminhava pelo corredor principal com uma xícara de café nas mãos, o aroma forte da bebida quente misturando-se ao frescor da manhã, trazendo consigo pequenas promessas de conforto em meio à incerteza. Contudo, aquela tranquilidade quase superficial não podia esconder o desconforto que se instalara em seu peito. Após uma noite mal dormida, seus sonhos foram invadidos por vozes distantes e passos ecoando no quarto dos gêmeos, um lembrete inquietante de que aquela casa, por mais majestosa e segura que parecesse, guardava uma atmosfera opressiva, como se alguém estivesse vigiando-os, como sombras em um teatro. Ao vê-la parada diante da janela, com a luz suave do sol refleti

O tribunal emanava um silêncio pesado, quase palpável, que parecia envolver todos os presentes como uma névoa densa. As paredes brancas, imaculadas mas frias, refletiam a luz dura das lâmpadas fluorescentes, criando sombras que dançavam suavemente ao longo do chão de ladrilhos polidos. O ar-condicionado gelado fazia uma batalha silenciosa contra a tensão que permeava o ambiente, enquanto o tique-taque intermitente do relógio ecoava como um metronomo, marcando o tempo com uma cadência insidiosa que acentuava a ansiedade. Era uma atmosfera quase suffocante, onde cada pequeno som parecia se amplificar, reverberando nas mentes inquietas dos envolvidos. Lilibet chegou com sua típica altivez, como se estivesse atravessando um palco iluminado por holofotes. Usava salto alto, que clicava assertivamente no chão, enquanto seus óculos escuros oculta um olhar que poderia muito bem ser indestrutível. O perfume doce que exalava, uma combinação de flore

Ela sorriu — e o sorriso era duro, mais cortante que vidro, como uma armadilha que guardou pacientemente como prevenção contra sua presa. A mão de Clarice foi sozinha até a caixa de veludo, onde repousavam a história e as armas físicas e emocionais que a definiram. Abriu-a com uma paciência quase ritualística, como se quisesse adentrar um santuário de segredos.Dentro da caixa, fotos amareladas e recortes de jornal desbotados pelo tempo rememoravam vidas passadas, enquanto um anel de pedra negra brilhava como uma promessa esquecida. Do fundo, Clarice retirou uma caderneta fina onde Lilibet anotava minuciosamente contatos: números, nomes, endereços, alcunhas de clientes cujas vidas se entrelaçavam de forma obscura e sutil. O papel amarelado tremulou em suas mãos, como se fosse uma carta de convite para um baile de máscaras onde a verdade não tinha lugar. Clarice apoiou o caderno no colo e, sozinha, riu, uma risada sem alegria que ecoou nas pare