— Eu… vou tentar — repetiu, agora com mais convicção. — Vou aprender, vou me adaptar. Mas preciso que me ajude a entender vocês. A matilha. Tudo.Hendrick inclinou a cabeça, o sorriso carregado de ternura e paciência. — Então começaremos por etapas. Primeiro, observe. Conheça cada um de nós, cada rotina, cada função. Aprenda sobre nossos instintos, nossa disciplina, e aos poucos verá que o que sente por nós, e nós por você, não é algo que você precisará temer. É algo que se constrói.Ela assentiu, sentindo-se, pela primeira vez desde que chegara, parte de algo maior. Algo que não apenas sobrevivia, mas existia com propósito. Hendrick estendeu a mão, convidando-a a caminhar com ele pela vila.O sol da tarde aquecia levemente, e a brisa trazia o aroma da floresta misturado à fumaça da lenha das casas. Cassie caminhou ao lado dele, observando como cada detalhe da vila parecia pensado para funcionalidade e conforto: a casa dos Kent com a academia improvisada e equipamentos d

O crepúsculo pousava sobre a vila como um cobertor de bruma quando o cheiro dela voltou a incendiar a noite. Mason Kent estava junto ao muro lateral de sua casa, empilhando lenha com um rigor que beirava o castigo. Cada toras sobrepostas, cada respiração calculada para distrair o corpo da verdade: Cassie dormia ali dentro, sob seu teto, e o perfume dela escapava pelas frestas como um sussurro doce e quente que nenhum lobo poderia ignorar. Ele apertou os dedos contra a madeira até os nós embranquecerem. Era inútil. A fragrância de pele recém-banhada, sabão simples e algo próprio, floral, vivo, instintivo percorria a vila como uma linha invisível ligando todos os sentidos da matilha. Mesmo quando o vento mudava, ela permanecia. Mesmo quando o silêncio caía, a lembrança do calor dela insistia. Hendrick St. John aproximou-se em passos firmes, o cheiro de fumaça e resina colado ao casaco. O alfa não precisou falar; a sobrancelha erguida, a calma treinada, diziam mais que qualquer repree

A noite caiu silenciosa sobre a vila, mas não dentro da mente de Cassie.Ela se revirava na cama, o corpo inquieto, a respiração acelerada. O quarto parecia menor, o lençol pesado demais contra a pele. Quando finalmente adormeceu, o sonho a envolveu como se fosse real.No devaneio, ela estava outra vez diante da cachoeira. O som da água ecoava, e os homens surgiam um a um, a pele molhada, os músculos reluzindo sob a luz prateada da lua. Não havia roupas, não havia barreiras. Os olhos deles a fitavam com fome, e ela, em vez de recuar, se deixava tocar pelo desejo estampado em cada olhar.Mason foi o primeiro a se aproximar, o corpo quente, o hálito marcado por um ciúme possessivo que a arrepiou. Logo depois, Nick sorria malicioso, deslizando os dedos pelo braço dela como quem pede permissão — e já a tem. Ao fundo, Hendrick a observava, não como líder, mas como homem que esperava o momento certo de reivindicar o que julgava seu. Cassie não fugia. Sua pele queimava, seus lá

O cheiro de ferro aquecido, óleo e madeira impregnava o ar da oficina, uma mistura que Cassie começava a associar ao refúgio. Havia um certo conforto no caos organizado dos White: ferramentas penduradas de forma irregular, pedaços de metal empilhados num canto, engrenagens que brilhavam sob a luz mortiça das lamparinas. Ali, a dureza da vida da matilha se dissolvia em algo mais leve, quase doméstico. Nick, o mais velho, estava curvado sobre a bancada, martelando uma peça de ferro que parecia ser parte de uma armadilha — ou talvez algo que apenas ele entendesse. O ritmo constante do martelo preenchia o espaço, um compasso que lembrava o coração da casa. — Não olha assim pra bagunça, Cassie — disse Tyler, um dos gêmeos, com um sorriso enviesado que parecia habitual. — Pra gente, isso é organização. — Ah, claro — respondeu ela, arqueando a sobrancelha. — Eu só estava tentando descobrir se essa pilha é sucata ou uma escultura moderna. Taylor, o ou

A noite caiu sobre a vila como um manto espesso. O ar já trazia o frio que anunciava a proximidade do inverno, e o crepitar da fogueira no centro do pátio parecia o coração pulsante que reunia todos ali. A chama alta iluminava os rostos, projetando sombras dançantes nas paredes das casas e no tronco das árvores que rodeavam o espaço. Cassie se aconchegou no banco de madeira, segurando o pequeno pote de sobremesa entre as mãos. A textura cremosa e doce contrastava com o vento gelado que serpenteava por entre as casas. Olhou ao redor: os lobos estavam dispersos em torno do fogo, cada um com seu próprio pote, rindo baixo ou apenas observando as chamas. Era um momento de trégua, quase doméstico. Tyler foi quem quebrou o silêncio agradável. — Cassie… — chamou, com aquele sorriso maroto que ele parecia carregar sempre. — Canta pra gente? Ela se engasgou levemente com a colher, surpresa. — O quê? — Canta. — Tyler apoiou o cotovelo no joelho