Clarence caminhou até o filho, o coração batendo em um compasso novo, cheio de coragem. Quando o envolveu em um abraço apertado, quase de menina, sua voz saiu embargada:— Obrigada, meu filho… por você estar me dando o prazer de ser livre. Obrigada por me apoiar.Adam fechou os olhos, sentindo o perfume suave da mãe, e a segurou forte, como se quisesse compensar décadas de distância emocional.— Me perdoa, mãe… — disse ele, com a voz carregada de arrependimento. — Eu demorei muito para enxergar. Foi preciso aquela moça, a Ava, jogar aquelas verdades na cara do papai… e de mim. Eu só percebi ali o quanto eu errei com a senhora. O quanto eu fui um filho omisso e egoísta.Clarence afastou-se um pouco, segurando o rosto dele com as duas mãos, os olhos marejados, mas firmes.— Mas isso mudou, meu filho. Isso mudou.Adam respirou fundo, e ela sorriu, mais decidida do que nunca.— Então vamos, meu filho. Vamos para a empresa. E

Adam chegou alguns minutos antes do horário marcado. O motorista o deixou em frente ao prédio elegante, uma fachada de vidro e linhas sóbrias, onde o letreiro discreto não denunciava a especialidade de quem atendia ali dentro. Ele entrou sozinho, carregando uma pasta de couro sob o braço e o diário que havia começado a escrever dois dias atrás. Sentia-se um pouco diferente por trazer aquilo — um caderno simples, capa preta, mas que representava um esforço íntimo de se observar.Enquanto aguardava na recepção, sentou-se numa poltrona clara e, por um momento, fechou os olhos. O silêncio da sala de espera era cortado apenas pelo som suave da água correndo numa fonte decorativa. Respirou fundo. Três noites sem ir ao clube. Para ele, parecia um milagre e uma tortura ao mesmo tempo. Cada noite em branco, cada insônia vencida apenas com os comprimidos prescritos pela psiquiatra, era uma batalha silenciosa.“É estranho…”, pensou consigo mesmo, “não sinto o mesmo

Clarence entrou no carro, ajeitou-se no banco de couro macio e soltou um suspiro longo. Adam, ainda em pé, fez questão de fechar a porta para a mãe e, antes de se sentar, tocou discretamente no painel de comando, acionando o vidro de privacidade que isolava a comunicação com o motorista. Quando se acomodou ao lado dela, o silêncio foi quebrado pela voz suave e comovida de Clarence.— Meu filho… como a Márcia está abatida. — Ela balançou a cabeça, pensativa. — Trabalhou tanto, se doou tanto, e ainda assim carrega aquele semblante de cansaço.Ela virou-se para ele, os olhos marejados, mas com um sorriso orgulhoso.— Mas você… hoje me surpreendeu. Você mostrou um lado que eu nunca tinha visto com tanta clareza. Um lado mais humano, mais justo. Não só disse que iria mudar a posição da Ava dentro da empresa, como também ofereceu uma oportunidade à irmã dela… e ainda vai pagar a faculdade daquela menina. Sem falar no emprego para o pai delas.Clarence respir

No setor de Recursos Humanos, a Ava chegou ainda meio incrédula. Os corredores pareciam os mesmos de sempre, mas a sensação dentro dela era diferente. Ao entregar seus documentos, viu que tudo já estava pronto: o contrato de remanejamento estava sobre a mesa, aguardando apenas sua assinatura.A funcionária explicou cada detalhe, e a cada cláusula que lia, Ava sentia um misto de surpresa e responsabilidade. Triplo salário, benefícios completos, auxílio para vestimenta profissional, plano de saúde ampliado. Aquilo não era só uma promoção — era uma vida nova que se abria.Enquanto assinava, avistou a irmã saindo da sala ao lado, segurando uma pasta com seu currículo.— Foi promovida, né? — perguntou a Carlinha, abrindo um sorriso orgulhoso.Ava deu de ombros, mas não conseguiu esconder o brilho nos olhos.— Sim... foi uma surpresa. Eu ainda estou processando.— Eu esqueci de te contar, mas parabéns, mana! — disse Carlinha, abraçando-a rápido.— Boa sort

A VERDADE ESCONDIDA O escritório do presidente estava silencioso quando Clarence entrou, acompanhada do filho. Adam caminhava ao lado dela com passos firmes, como se quisesse proteger cada movimento da mãe. Havia uma dignidade nova em Clarence. O vestido sóbrio em azul-acinzentado, o cabelo preso de maneira elegante, o rosto com uma maquiagem suave, mas iluminada por uma expressão de firmeza que ninguém na empresa jamais havia visto. Dr. Armand, advogado da família e da companhia há muitos anos, levantou-se imediatamente ao vê-la. Estendeu a mão com deferência. — Senhora Clarence, é uma honra recebê-la. — disse com voz grave. — Tenho aqui todos os documentos preparados, conforme as instruções dadas pelo senhor Adam. Ela retribuiu o aperto de mão com serenidade. — Obrigada, doutor. Hoje é um dia importante. Quero que seja tudo feito sem demora, e de forma clara. Adam fez um gesto em direção à mesa de reuniões. Jeffrey, já chamado por mensagem, entrou alguns minutos depois. A