O jantar transcorreu com uma normalidade forçada, o tilintar de talheres e o murmúrio de conversas enchendo o jardim opulento da casa de Amelia. As mesas estavam cobertas com toalhas brancas impecáveis, decoradas com arranjos de orquídeas e velas que tremeluziam, refletindo nas taças de cristal. Eu mantinha um sorriso tenso, tentando ignorar a náusea que ainda revirava meu estômago, enquanto meu pai, sentado ao meu lado, continuava a me lançar olhares preocupados. Lisa, à minha direita, segurava minha mão sob a mesa com uma força constante, para me provar que não me abandonaria por nada nesse mundo.— Mi-Suk, tem certeza de que está tudo bem? — perguntou meu pai, a voz baixa, inclinando-se para mim enquanto um garçom servia o prato principal, um filé mignon com molho de vinho tinto. Ele franziu o cenho, os olhos castanhos cheios de preocupação. — Você tá estranha desde que Benjamin e Amélia passaram por aqui. O que tá acontecendo? Que conversa estranha foi aquela de vocês dois?Eu for

O carro de Min-ho acelerava pelas ruas escuras, o ronco do motor abafando parcialmente o som do meu choro enquanto eu me encolhia no banco do passageiro. A humilhação no jantar de noivado, as mentiras de Benjamin e Amelia, os seguranças me arrastando para fora, os olhares dos convidados, tudo queimava como uma ferida aberta, latejando em cada lembrança. O gosto amargo da injustiça pesava na minha língua, como se tivesse engolido veneno.Min-ho, ao volante, mantinha o rosto sério, os olhos fixos na estrada, mas a tensão em seus ombros dizia que ele estava tão furioso quanto Lisa. Suas mãos estavam firmes no volante, os nós dos dedos brancos, e eu sabia que dentro dele um furacão estava pronto para explodir. No ponto no meu ouvido, agora inútil, a voz dele ainda ecoava em minha mente: “Eles vão pagar por isso.”Chegamos ao meu apartamento, e Min-ho estacionou em silêncio. Ele desligou o motor, mas ficou ali por alguns segundos, respirando fundo, antes de se virar para mim. O olhar dele

As semanas seguintes passaram como uma correnteza suave, um contraste bem-vindo ao caos que havia dominado minha vida. A décima semana de gravidez deu lugar à décima primeira, depois à décima segunda, e aos poucos, comecei a encontrar um ritmo novo, mesmo com as manchetes e os comentários nas redes sociais ainda zumbindo como moscas irritantes.Decidi seguir o conselho de Lisa e desativei minhas contas, deixando o celular de lado para me concentrar em mim mesma, no bebê, e nas pessoas que realmente importavam. Minha carreira ainda estava abalada, mas as palavras do meu pai: “Você é forte, Mi-Suk”, ecoavam, dando-me coragem para seguir em frente.Min-ho se tornou uma presença constante, não mais apenas nas mensagens diárias, mas fisicamente, aparecendo quase todos os dias com um sorriso gentil e algo para compartilhar: uma sacola de frutas frescas, um livro que achou que eu gostaria, ou até uma playlist que ele dizia ser “perfeita para relaxar”. Ele respeitava meu espaço, nunca forçand

Minha gravidez, agora com 20 semanas, estava mais visível. A curva suave da barriga era um lembrete constante da vida que crescia dentro de mim. Cada movimento, cada pequeno chute que sentia, parecia me dar forças, uma razão para continuar, apesar das manchetes cruéis que ainda circulavam, tentando minar minha coragem.Eu me agarrava às pessoas ao meu redor: Lisa, sempre pronta para transformar dias cinzentos em risadas e apoio, meu pai, cuja presença era firme e silenciosa, mas reconfortante, e, cada vez mais, Min-ho, cuja constância se tornava um porto seguro em meio à tempestade. Ele nunca pressionava, nunca insistia; apenas ficava ali, perto de mim, compartilhando pequenos momentos que começavam a preencher o vazio que Benjamin deixara.Naquela noite, eu estava na festa de lançamento de um romance histórico de um colega da editora, realizada em uma livraria chique no centro da cidade. As estantes de madeira polida refletiam a luz suave dos abajures, o aroma de papel novo misturand

O ar no meu apartamento estava carregado, como se a energia da nossa conversa no passeio tivesse se transformado em uma corrente elétrica, pulsando entre nós, impossibilitando qualquer distância.Min-ho trancou a porta com um movimento firme, o clique ecoando como um ponto final em qualquer hesitação. Antes que eu pudesse processar o momento, ele se aproximou, os olhos escuros faiscando com um desejo voraz, misturado a uma ternura que me fazia derreter, e algo mais profundo, um amor que se revelava em cada olhar.— Mi-Suk… — sussurrou ele, a voz rouca e grave, como se as palavras estivessem sendo arrastadas do fundo da garganta.Sua mão subiu até o meu rosto, os dedos quentes e ásperos traçando a linha do meu queixo com uma delicadeza que contrastava com a intensidade do seu olhar. Minha pele arrepiou instantaneamente, um formigamento elétrico se espalhando do ponto de contato até a base da minha espinha, fazendo meu corpo inteiro despertar.Eu me inclinei para ele, o coração martelan