Os dois dias que passei no hospital foram um borrão de exames, silêncios e uma tensão que parecia sufocar o ar ao meu redor. Minha cabeça ainda doía, mas a concussão estava sob controle, e os médicos confirmaram que o bebê estava bem.Fui mantida em observação, com o soro pingando lentamente em minha veia, enquanto tentava processar tudo. Eu não contei a ninguém, nem ao meu pai, que provavelmente estava preocupado com o meu silêncio durante esses dias; nem a Lisa, que estava me enchendo de perguntas. Eu estava sem forças para explicar, para enfrentar o julgamento ou a pena nos olhos deles.Min-ho ficou comigo o tempo todo. Ele não saiu do quarto, exceto para breves momentos de necessidades básicas, mas sempre voltando para a poltrona ao lado da cama. Ele mal falava, limitando-se a respostas curtas quando os médicos ou enfermeiras perguntavam algo, ou quando eu precisava de água, comida, ou ajuda para me levantar.O silêncio dele era pesado, não de indiferença, mas de alguém carregando

O aroma de legumes refogados e arroz recém-cozido enchia todo o apartamento, misturando-se ao som de Min-ho se movimentando para terminar de preparar nossa comida. Era algo simples: uma sopa leve com vegetais frescos e um pouco de frango desfiado, para comermos com arroz coreano. Algo que ele fez com muito cuidado, como se ele soubesse que meu estômago estava tão frágil quanto minha mente.Sentamos à mesa pequena da copa, e comemos em silêncio por um longo momento. O tilintar dos talheres contra os pratos era o único som além da música instrumental que ainda tocava ao fundo, vinda do celular dele.A sopa estava quente, reconfortante, mas cada colherada parecia um esforço imenso. Min-ho me observava de vez em quando, os olhos escuros ainda carregados de preocupação, mas ele não forçou nenhuma conversa, dando-me espaço para respirar.Finalmente, ele quebrou o silêncio, pousando a colher e se inclinando ligeiramente para a frente.— Mi-Suk, você vai mesmo encontrar com o Benjamin? — perg

Com as mãos trêmulas, atendi.— Mi-Suk? — a voz dele veio firme, porém carregada de preocupação. — Eu ouvi tudo… você está bem? Onde você está?Ao escutar Min-ho, a muralha que eu tinha erguido dentro de mim ameaçou desmoronar. As lágrimas que segurei diante de Benjamin finalmente escorreram, quentes, pela minha pele.— Eu saí… eu não aguentei ficar lá dentro. — minha voz falhou, baixa, quase em um sussurro — Ele… ele é um monstro, Min-ho.Do outro lado da linha, o silêncio dele foi breve, mas cheio de tensão.— Me diz onde você está, exatamente. — pediu de maneira firme, sem espaço para negação. — Agora.Olhei em volta, buscando um ponto de referência. O restaurante sofisticado atrás de mim brilhava como uma lembrança amarga, e na esquina próxima vi a placa de uma farmácia.— Tem uma farmácia, logo na esquina do restaurante… — falei rápido, respirando fundo entre soluços — Eu vou te esperar em frente a ela.— Fique lá dentro. — respondeu imediatamente. — Não saia do lugar, Mi-Suk. Eu

Após a noite em que desabei nos braços de Lisa, minha vida entrou em uma espécie de calmaria frágil, como se o mundo estivesse me dando um momento para respirar antes da próxima tempestade. Lisa, recém-chegada de Nova Iorque, recusou-se a me deixar sozinha, insistindo em ficar no meu apartamento por uma semana. Foi uma semana de normalidade forçada, mas bem-vinda, cheia de conversas longas, risadas tímidas e tentativas de me ancorar em algo além da dor e da raiva.Passávamos as noites assistindo séries; comédias leves que Lisa escolhia para me arrancar sorrisos, embora às vezes eu me pegasse encarando a tela sem realmente ver nada, mergulhada em pensamentos que não me davam descanso. Ainda assim, só de ouvir a risada dela ecoando pelo apartamento, algo em mim se aquietava, como se por alguns minutos fosse possível acreditar que a vida podia voltar a ser simples.Durante o dia, saíamos para caminhar pelo parque, com o ar fresco batendo em nossos rostos, e ela me puxava para tomar cafés

Os dias seguintes se arrastaram em um equilíbrio estranho entre o caos interno e a aparência de normalidade. Eu me refugiava no trabalho, mergulhando de cabeça em relatórios, revisões dos meus manuscritos e reuniões intermináveis. Era como se ocupar minha mente fosse a única forma de manter meus medos em segundo plano.Lisa, como uma sombra protetora, não desgrudava de mim. Sempre que podia, aparecia na editora ou passava no meu apartamento com sacolas de comida, filmes novos e sua presença elétrica, que conseguia iluminar até os meus silêncios mais densos. Às vezes eu reclamava, dizendo que ela tinha sua própria vida para cuidar, mas, no fundo, aquela insistência era um abraço silencioso que eu não sabia como agradecer.Min-ho, por sua vez, se tornara uma presença ainda mais constante, mesmo quando não estava fisicamente perto. As mensagens dele chegavam como pequenos lembretes deda promessa que me fez no carro:"Já tomou café da manhã?""Boa sorte na reunião de hoje.""Tenta descans