Narrado por Maitê Uma vez, ouvi dizer que “quando as decepções surgem umas atrás das outras, a tristeza passa a fazer parte da nossa rotina.” E eu nunca tinha ouvido uma frase que fizesse tanto sentido quanto agora. A dor parecia algo que eu já esperava, um espectro constante que me acompanhava em cada passo, como se fosse parte de mim, do meu ser.A última coisa que me lembro foi do Lorde segurando minhas mãos, pedindo para eu não fechar os olhos, mas a escuridão que me chamava parecia mais convidativa. O silêncio que se seguia me trazia uma paz que eu não sentia há muito tempo. A ideia de escapar, de não sentir mais nada, me parecia a única solução.Mas enquanto estava inconsciente, algo mudou. Uma cena apareceu diante de mim, vívida, como se fosse real. Eu me vi diante de uma casa, uma casa que parecia tão familiar, embora eu soubesse que nunca a tivera. Ao entrar, vi minha mãe e meu irmão sentados à mesa, rindo e conversando. Eles olhavam para mim, sorrindo, como se esperassem al

Narrado por Lorde Por causa da transfusão de sangue e da gravidade da lesão, Maitê teria que ficar internada por dois dias. Durante esse tempo, enquanto ela descansava, decidi ir até a sala da Bete para esclarecer algumas coisas que estavam me incomodando.Quando entrei, ela me olhou com surpresa, os olhos arregalados, como se tentasse entender o que eu estava fazendo ali.— Oi, Lorde, pode entrar. Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, tentando disfarçar a apreensão na voz.Sem dar tempo para ela se recuperar do susto, comecei a falar com raiva, a frustração tomando conta de mim.— Isso é exatamente o que eu estou querendo saber! Que história é essa que os moradores têm que pagar remédio e não têm acesso a cirurgia sem pagar? Tu tá roubando minha comunidade, porra? — Gritei, fazendo Bete se encolher, ainda mais surpresa e confusa.— Lorde, eu… eu não sei do que você está falando, deve ser um engano. — Ela disse, tremendo, claramente nervosa.— Engano, porra nenhuma! Eu já estou sa

Narrado por Lorde Após conversar com Maitê, sinto um alívio ao saber que, apesar de toda a violência ao nosso redor, ainda tenho um lugar para voltar. Alguém me espera em casa, alguém que, mesmo com todos os riscos, ainda tem esperanças de me ver voltar vivo. Isso me mantém focado, com uma motivação renovada.Os tiros começam, os fogos de artifício explodem no céu, mas ainda não sabemos quem é o atrevido que está subindo o meu morro. Quem teve a ousadia de desafiar o meu comando? Eu não sou apenas o dono do território; sou o líder, e quem ousar enfrentar nossa força vai pagar caro.Desço o morro com o coração pesado e a mente tensa, determinado a descobrir quem está por trás dessa afronta. Avisto Cobra subindo com alguns dos seus parceiros da Maré. Não hesito, dou uns tiros até me aproximar dele.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, apontando a arma para ele.— Alguém se importa muito contigo a ponto de engolir o orgulho e me chamar para ajudar. Ela disse que me daria a chance

Narrado por Maitê É difícil para as pessoas entenderem, mas esta é a primeira vez desde a morte do meu irmão que enfrento um tiroteio, e saber que o Lorde está lá, no meio de tudo isso, sem saber se ele está bem ou não, é sufocante. Cada segundo parece durar uma eternidade. A ansiedade me consome, e a incerteza sobre sua segurança me atormenta. Não sei se ele está vivo ou morto, e isso me destrói por dentro.Já se passaram horas, e a situação não parece melhorar. A tensão só aumenta. Então, finalmente, ouvimos o som do cofre sendo aberto. Meu coração dispara. Levanto os olhos e lá está ele, parado na frente do cofre, como se nada tivesse acontecido. O alívio invade meu corpo como uma onda inesperada.Sem pensar, corro para os braços dele, apertando-o com força, como se a vida dependesse disso. Sinto os olhares ao redor, mas não me importo. O que importa é que ele está ali. Quando olho ao redor, vejo Cobra também, o que me lembra da promessa que ele fez de vir me ajudar, e isso traz u

Narrado por Lorde Vou pro postinho tirar a bala que ficou cravada no meu braço. Sei que a Maitê vai pirar quando souber, mas por enquanto preciso resolver isso. Pego o celular e ligo pro Cobra, certeza que ela esqueceu o telefone na correria.— E aí, parceiro? Tudo tranquilo? — pergunto.— Maitê tá prestes a ter outro surto. Tenta falar com ela um pouco, cara. Não comeu nada desde que chegou, não conversou com ninguém, só chorou. Queria ajudar, mas sei que se chegar perto, vou acabar só piorando as coisas.— Leva o celular pra ela.Converso com ela, mano, nem sabia que tava com tanta saudade da voz dela. É louco, parece que não percebia o quanto tava sentindo falta dela. Enquanto falo com ela, vou indo pra casa. O medo dela dos tiros é real, e a parada é que a gente ainda não sabe quem invadiu e por quê.Chego em casa, me jogo na cama. Mesmo com ela do outro lado da linha, não é a mesma coisa. A solidão do quarto toma conta, sem o cheiro dela pra me tranquilizar. Ela desliga o telefo