Narrado por BrunaMeu nome é Bruna, mas os mais próximos me chamam de Bubu. Sou morena, tenho 1,63m de altura, cabelos pretos e ondulados, e um sorriso que, apesar de tudo, insiste em resistir à dor. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, continuo tentando manter minha essência: alegre, carinhosa e divertida. Estou no último semestre do curso de Enfermagem. Cada aula, cada estágio, é uma tentativa de construir um futuro diferente — um onde a dor do passado não defina quem eu sou.Houve um tempo em que minha vida era, de certa forma, tranquila. A gente sabia dos perigos ao nosso redor, claro. Afinal, eu sou filha do homem mais temido do Complexo. Mas mesmo com a tensão constante, a rotina era boa. Éramos unidos, tínhamos nossos momentos. Minha mãe, meu pai, meu irmão e eu.Nunca fui de ter muitas amigas. As poucas que se aproximavam, na maioria das vezes, queriam mesmo era chegar perto do meu irmão. E mesmo assim, éramos felizes… até o dia em que tudo desabou.Já ouviu aquela frase: “Na

Narrado por MaitêSonolenta, acordo percebendo que a noite foi mais longa do que eu pretendia. O silêncio do quarto me envolve, até que ouço a voz do Lorde ao telefone. Mesmo relutante, escuto parte da conversa.— Pode deixar, velho. Vou zelar pela Maitê como se fosse da minha própria família. Ninguém vai tocá-la, vou mantê-la segura, custe o que custar. Mas me responde uma coisa… por que tanta preocupação, além dela ser sua afilhada?O coração aperta. Fico sem entender o contexto da história, mas algo naquela fala me inquieta. Sinto que há muito mais por trás dessa pequena conversa. Só queria entender o porquê de tudo isso. Por que todos escondem tanto de mim? Não percebem o quanto isso me afeta?Tenho vontade de me levantar e sair dali. Afinal, eu também escondo mais do que gostaria. Provavelmente ele estava falando com o meu padrinho… Mas eu não entendo nem metade do que acontece na minha própria vida.Antes que eu pudesse sair da cama, ele retorna ao quarto. Então, finjo que acabe

Narrado por Lorde Percebo que minha irmã fica em choque quando peço para ela dizer que a Maitê dormiu com ela. Mesmo com a expressão indignada, ela parece não compreender completamente que estou fazendo isso para evitar que a vida da pequena diaba se torne um tumulto indesejado. A tensão no ar persiste, mas a urgência de protegê-la prevalece sobre o desconforto momentâneo.Levanto-me e sigo para o meu quarto, preciso de um banho antes de ir ao QG verificar o faturamento do baile. A água quente escorre pelo meu corpo, tentando levar embora a tensão acumulada da manhã. Enquanto estou no banho, ouço a voz da Maitê ao telefone, falando com o Fumaça. Ela pede para ele buscá-la. Sua voz soa fria, decidida.Quando saio, ela já não está mais no quarto. Já arrumado, desço as escadas à sua procura. Encontro-a perto da porta, olhando para fora. Suas últimas palavras são cortantes, afiadas como navalha, e o pior de tudo é que nem entendo o motivo real daquilo. Então, sem olhar para trás, ela se

Narrado por LordeA revelação ainda paira no ar do escritório, impregnando cada canto com um peso sufocante. O silêncio é cortante, até mesmo o som da respiração parece alto demais. Por fora, tento me manter sereno, mas por dentro… sou um redemoinho de raiva e incredulidade.— E o King aceitou isso numa boa? — pergunto, tentando entender onde, exatamente, tudo desandou.— Sim — responde meu pai, com a voz grave. — O morro era do Cobra. Ele entregou o controle ao irmão com uma única condição: que ele cuidasse da filha dele.O choque me faz perder o chão por um momento. Uma parte de mim se recusa a acreditar. Outra sabe que faz sentido demais.— E o Fumaça sabia disso o tempo todo? — viro para encarar o segurança, meu olhar carregado de desconfiança.— Sim, eu sabia — ele responde, sem hesitação. — Minha função sempre foi protegê-la. Proteger ela e o segredo. E, no fundo, eu sabia que o dia da verdade chegaria.Cada nova resposta pesa mais que a anterior. Porra, o morro inteiro viveu um

Narrado por Maitê Pensei ter encontrado um caminho, uma saída, mas nunca consigo escapar da escuridão que me invade a cada instante. Essa luta interna, constante e sem fim, parece ser a única companhia que tenho. Tento me convencer de que, um dia, encontrarei a luz, mas, por enquanto, me vejo aqui, deitada nesta cama, sentindo-me pequena, como uma boneca sem sentimentos, cuja vida é apenas uma fachada.O que fiz de tão ruim na vida passada para estar vivendo assim? Essa pergunta me assombra a cada dia, cada hora, e a cada suspiro de dor. Por que sou condenada a carregar tanto peso? Onde está a justiça, se é que ela algum dia existiu?Quando conseguirei cicatrizar a dor que arde em meu peito? A dor de ser abandonada, de ser deixada para trás como se fosse um objeto sem importância. Como ele teve coragem de fazer isso comigo? Ele me tratou como se eu fosse apenas mais uma coisa descartável. Sem que eu percebesse, meus olhos já estavam inundados mais uma vez pelas lágrimas.Ouço alguém