Narrado por BrunaA pressa nos guiava, e tudo o que conseguimos fazer foi pegar as coisas essenciais e sair do Brasil, sem sequer dar uma última olhada ao nosso redor. O sentimento era de urgência, de que cada segundo contado poderia ser o último. O que nos restava agora era fugir, fugir para um lugar onde os fantasmas do passado não pudessem nos alcançar.No aeroporto, a adrenalina tomava conta de mim. Estava tremula, sem saber ao certo o que o futuro nos reservava, mas o que importava era que precisávamos sair. O mais rápido possível. O medo estava presente em cada passo que dávamos, mas ao mesmo tempo, havia uma sensação de libertação. Ao olharmos para o embarque, as luzes do avião já estavam piscando, chamando-nos para o desconhecido.A fila do check-in era longa, mas rapidamente conseguimos passar, sem mais delongas. A única coisa que nos restava era seguir em frente. No momento em que passamos pelo scanner, o peso da responsabilidade se intensificou, mas, em silêncio, seguimos p

Narrado por Maitê Fazem seis meses desde que deixamos o Brasil. Seis meses sem ouvir a voz de Fumaça, de Lúcifer ou do meu avô. Seis meses tentando me encontrar. Durante tanto tempo, eu me perdi de mim mesma, mas agora, lentamente, estou conseguindo me erguer. Cada passo é um esforço, uma tentativa de recuperar a mulher que um dia fui. Eu sei que poderia ter ligado, mas o medo de ser rastreada me consumia. O risco de ser encontrada era grande demais, e, por mais que eu quisesse, a ansiedade me impedia de fazer aquilo que, no fundo, sentia que deveria fazer.Bruna, por outro lado, ficou sabendo de todas as fofocas do Brasil. O Instagram de fofocas do morro, que sempre alimentou as especulações, não deixou passar nada. JP, que sempre jurou amor a ela, não resistiu à tentação da vida fácil e, em menos de três meses, estava de volta à vida de solteiro, à vida que sempre conheceu. E, em apenas seis meses, assumiu um novo relacionamento. Mas não pense que Bruna se abalou com isso. Nos prim

Narrado por Maitê Aquela ligação, a que eu e Bruna esperávamos com tanto desejo, não saiu como imaginávamos. Mesmo depois de encontrarmos um lugar onde, aos poucos, conseguimos nos encaixar, não significa que a saudade do Brasil e a ânsia por um lar ainda não estejam presentes. O que é nossa vida agora, se não a tentativa desesperada de esquecer quem éramos antes? A decepção em meu peito se agrava ao ver as lágrimas de Bruna, e a frustração se transforma em culpa.É tudo culpa minha. Se eu nunca tivesse entrado na vida dela, Bruna ainda teria uma família. O pensamento me corrói por dentro, um veneno invisível que me consome. Sei que a dor que ela carrega também é minha, mas por mais que eu queira, não posso mudar o passado. Tenho tentado me segurar, encontrar formas mais saudáveis de lidar com os monstros internos. E pela primeira vez, não estou fugindo de mim mesma, nem da dor. Estou tentando encarar tudo de frente.Decido ir para a academia. Já sei que o exercício físico não apaga

Narrado por Cobra A noite no México estava carregada com uma vibração estranha. Depois de uma negociação tensa, finalmente consegui os medicamentos e as armas para enviar ao Brasil. Mas, ao invés de voltar para a base, decidi acompanhar a chefia para uma vila. A música alta e o som da tequila sendo derramada nas mesas pareciam distantes, como se fossem parte de outro mundo, um mundo onde as pessoas dançavam e riam sem preocupações. Todos estavam felizes, como bons mexicanos, celebrando a vida no ritmo pulsante da música. Cada mesa estava em êxtase, e tudo parecia um contraste absurdo com o caos que me consumia por dentro.Por um momento, imaginei como seria viver ali, como aquelas pessoas, com uma felicidade simples e genuína. Um pedaço de mim desejava poder viver aquela vida, longe das armas, das drogas, e da violência. Eu poderia estar com meus filhos, proporcionando a eles uma vida diferente da que eu havia lhes dado. Mas, então, o pensamento se dissipou como uma névoa, e a realid

Narrado por MaiteEu quero que você ouça.— Pela primeira vez em anos, eu vivi. Conheci lugares, bebi sem ver o sangue do meu irmão escorrendo pelos meus dedos. Desejei, de todo o meu coração, poder voltar ao Brasil, abraçar e dizer ao Lúcifer o quanto eu gostaria de viver ao lado dele. Pela primeira vez na vida, achei que, por um só segundo, a vida poderia ter sentido, que eu poderia ser feliz. Então, você reapareceu, trazendo todos os meus medos e monstros junto com você. Então me diz, Cobra, como ser feliz tendo um genitor como você? Como superar todas essas marcas em meu corpo? Como me livrar de um passado terrível como o meu? Você está de parabéns. — Digo, com a voz despedaçada, sentindo a raiva e a dor tomar conta de mim de uma forma que eu nunca imaginei.Você conseguiu destruir toda a sua família, todos aqueles que você tanto dizia amar. Cada vez que eu olho para você, me sinto mais quebrada. Então, se quiser me matar, vai lá, pode começar com suas brincadeiras, porque aqui, n