CAPÍTULO 20 Quando a dor encontra o luxo, e o coração não sabe mais o que sentirJa eram dezoito horas quando Eduard chegou em casa.A senhora Judite se aproximou devagar.— Senhor Eduard, sua noiva chegou ontem, não comeu. Hoje também, até agora, só tomou dois copos com água.— Onde está Caio?— Não chegou da escola ainda.— Tá, obrigado. Vou falar com ela.Eduard dá três toques na porta. Ela não abre.Ele se aproxima e pensa: Preciso mudar a estratégia.— Alinna. Vamos passear um pouco? Quero conhecer você, saber do que gosta... eu quero te agradar.— Não, Eduard. Eu sei meu papel na sua vida, e já é o suficiente.— Quer visitar seus pais? Levar flores?Ela o olha com um sorriso.— Podemos?— Claro, amor. Você se sacrificou por mim. Agora quero te fazer feliz. E quem sabe... não nos apaixonamos — ele acaricia o rosto dela e a olha nos olhos.Ele pensa: Se não for assim, ela vai mostrar pro Caio que não estamos juntos. Preciso quebrar ela.— Vamos?Alinna se levanta, um pouco sem g

CAPÍTULO 22 A saudade tem cheiro, gosto e silêncioCaio entrou em casa às 23h em ponto. A mansão estava mergulhada num silêncio incômodo, quase agressivo. Nenhuma voz, nenhuma risada, nenhum som de passos. Apenas a luz discreta da escada acesa, como um sussurro distante dizendo “ela não está aqui”.Ele largou as chaves sobre o aparador com um baque seco e caminhou devagar pelo hall. Cada cômodo que atravessava parecia mais vazio que o anterior. Na cozinha, apenas o cheiro do café da manhã que não foi servido. Na sala, almofadas intactas. No ar, a ausência dela.Sem saber exatamente o porquê, seus pés o levaram até o quarto de hóspedes. O quarto dela.A porta cedeu com um leve rangido, e ele entrou como quem invade um tempo que já passou. A cama estava arrumada, mas o travesseiro ainda guardava um vinco sutil, uma marca tênue do último corpo que repousou ali.Caio se aproximou devagar. Sentou-se na beirada do colchão e passou a mão pela colcha clara, sentindo a textura, buscando nela

CAPÍTULO 24 Quando o silêncio também toca a peleA noite já havia se instalado quando eles voltaram para a casa na Toscana. As estrelas brilhavam alto, e a brisa fresca balançava as cortinas da varanda. O caminho de volta foi em silêncio, mas um silêncio que dizia mais do que palavras. Alinna olhava pela janela, pensativa. Eduard, de mãos firmes no volante, desviava o olhar vez ou outra para observá-la.Ao chegarem, ele desceu primeiro e correu para abrir a porta do carona para ela. Estendeu a mão.— Venha, meu amor. Ainda quero te mostrar uma coisa.Ela aceitou sem dizer nada. Ele a conduziu até os fundos da casa. Um jardim iluminado por tochas discretas, flores aromáticas e uma rede estendida entre duas árvores antigas. Havia uma bandeja com chá e biscoitos sobre uma mesa de ferro forjado.— Você preparou isso? — ela perguntou, surpresa.— Eu… Pedi para preparar. Mas pensei em cada detalhe. Quis que tivesse um pouco do que você merece. — Ele segurou as duas mãos dela. — Paz.Ela so

Capítulo 26Subtítulo: O peso do que nunca foi esquecidoA madrugada avançava silenciosa na Toscana.No quarto de hóspedes, Alinna dormia de lado, encolhida. Mas o corpo não descansava. A testa franzida, os lábios entreabertos murmurando palavras partidas.— Não... por favor, não... não…As mãos dela tremiam.Dentro da mente, as imagens vinham em rajadas.Um portão se abrindo com violência.Homens entrando aos gritos.O pai, de joelhos, com o rosto coberto de sangue.A mãe, desesperada, empurrando Alinna para dentro de um armário.— Filha, se esconde… eles vão bater em mim de novo.A menina, pequena demais para entender, grande demais pra esquecer, via tudo pela fresta.Um dos homens agarrou sua mãe pelos cabelos, ergueu a mão. O tapa ecoou como um trovão.— MÃE! — gritou Alinna, mesmo dormindo, o corpo agitado.No corredor, Eduard passava em direção à biblioteca quando ouviu o som abafado. Parou. Voltou os passos.— Alinna?Ele abriu a porta devagar e a viu contorcendo-se na cama, su

CAPÍTULO 28 Porque para sobreviver ao luxo, ela precisou enterrar o amorO céu era de um azul limpo quando o jatinho particular cortava as nuvens em direção à Suíça.Alinna estava sentada de frente para Eduard, pernas cruzadas com leveza, corpo ereto, um sorriso discreto desenhado nos lábios.Ela segurava uma taça de água com limão, os olhos vagando pela janela, como se estivesse completamente em paz.Eduard a observava.Com fascínio.Com dúvida.Com receio.Quem era essa mulher elegante, distante, mas tão gentil? Onde estava a Alinna de antes?Quando pousaram em Genebra, ele pegou sua mão com firmeza, entrelaçando os dedos.Desceram juntos, lentamente, degrau por degrau.No último, com os pés tocando o solo suíço, ele se inclinou em sua direção, sussurrando:— Aqui começa nossa vida de casal.Ela se virou levemente, mantendo o sorriso.— Sim. Aqui na Toscana... eu enterrei a Alinna.As palavras entraram nele como uma faca afiada.O coração de Eduard apertou sem aviso.Mas ele não d