Corações em ConflitoO vento soprou com força quando Rafael surgiu diante de nós, como se a própria floresta prendesse a respiração. O tempo pareceu parar. Eu podia sentir a energia que exalava dele: uma mistura de domínio absoluto, serenidade perigosa e algo mais profundo... algo que fazia meu lobo estremecer de reconhecimento e anseio.Korran rosnou em silêncio dentro de Marco, se erguendo como um escudo. E Yelena... Yelena ficou dividida. Uma parte dela queria correr para Zahor. A outra queria proteger Korran. E eu, no meio de tudo isso, sentia meu coração quase se partir ao meio.— Rafael... — sussurrei, com o corpo ainda colado ao de Marco, que não se moveu nem um milímetro.Rafael não respondeu de imediato. Ele apenas observou, como se quisesse absorver cada detalhe daquela cena — nossos corpos entrelaçados, a conexão selvagem que transbordava entre nós, e o silêncio que dizia mais do que qualquer palavra.— Ele a tocou — disse por fim, num tom tão sereno que doía mais que um gr

O Despertar da EssênciaA mansão estava mais silenciosa do que o normal. Como se ela mesma segurasse a respiração, aguardando o que viria a seguir. Rafael colocava os últimos elementos no chão da sala ritualística, traçando runas em círculos concêntricos com um pó prateado que brilhava mesmo sem luz. Ao centro, eu. Vestida apenas com uma túnica fina de linho branco, os pés descalços tocando o chão frio. Meus cabelos soltos caíam pelas costas, e minha pele ardia onde as marcas lunares pulsavam como pequenos sóis prateados.Marco se recusava a sair de perto, mas sabia que não podia interferir. Korran rosnava inquieto sob a pele dele, sentindo que algo ancestral e maior do que qualquer um de nós estava prestes a emergir. Zahor, dentro de Rafael, estava silencioso demais. O tipo de silêncio que precede a erupção.— Está pronta? — perguntou Rafael, os olhos verdes sérios, mas gentis.Assenti. Mas a palavra “pronta” parecia pequena para o que estava prestes a acontecer.O ar ficou mais dens

Ecos de Verdades e Promessas RoubadasA madrugada parecia sussurrar através das frestas da mansão. A floresta, imóvel, assistia ao silêncio que seguia o furacão que havíamos sido. Nossos corpos ainda entrelaçados sobre os lençóis bagunçados, quentes, marcados pelo suor, pelo desejo e pelas verdades que finalmente haviam escapado pelas rachaduras da nossa resistência.Marco estava deitado ao meu lado, os olhos voltados para o teto como se carregassem o peso de constelações extintas. Um homem e um lobo presos dentro da mesma pele, ambos agora em guerra com o que haviam deixado acontecer. Eu sabia que ele lutava consigo mesmo, mas naquele instante... ele também lutava por mim.Eu me virei de lado, passando a ponta dos dedos pelo contorno de seu rosto. Ele piscou devagar, e por um breve momento, não era o Alfa que eu via ali — era apenas um homem ferido, nu de armaduras.— Você me parece mais humano agora. — murmurei.Ele sorriu de canto, mas sem alegria.— Não sei se isso é um elogio...

A Floresta dos Ecos e a Primeira VisãoO sol mal havia tocado o meio do céu quando fui conduzida à parte mais antiga da floresta. As raízes ali pareciam respirar, grossas como serpentes adormecidas. A vegetação densa cobria os caminhos, e o silêncio era tão absoluto que eu podia ouvir a batida do meu próprio coração. Rafael e Marco queriam me acompanhar, mas o conselho fora claro: o Despertar só poderia ser enfrentado sozinha.Mesmo assim, os olhos deles me seguiram até onde a floresta engoliu meus passos.Vestia uma túnica branca, leve como névoa, e nenhuma arma. Apenas a coragem e a marca da lua que ardia em meu ventre. Naira, dentro de mim, parecia mais desperta do que nunca. Cada batida do meu coração era ecoada por ela. Sentíamos juntas.As árvores começaram a se fechar em círculos, como se me escolhessem. Um portal natural, feito de galhos trançados e folhas douradas, se ergueu diante de mim. Ao atravessá-lo, senti como se o tempo dobrasse — o mundo ao redor perdeu a cor, tornou

A Sombra Entre os Dois MundosO uivo que cortou o céu não era apenas um som. Era uma ferida aberta no tecido do tempo. Era agonia, era chamada, era profecia.Rafael se levantou antes mesmo que eu pudesse respirar fundo, os olhos verdes em chamas. Zahor estava à flor da pele. Eu o sentia reverberando no peito de Rafael como um trovão preso, prestes a se libertar.— Esse som... — sussurrou ele, enquanto vestia a capa vermelha que o marcava como Supremo. — Não é de nenhum dos nossos. Não é lobo puro.Meus pés já estavam se movendo antes que minha mente decidisse. Marco. Eu precisava encontrar Marco. Algo dentro de mim dizia que aquele uivo... aquele rasgo de dor e desespero... era dele.Corremos juntos, Rafael e eu, como sombras cortando a floresta. As árvores pareciam se afastar para nos deixar passar, reconhecendo a urgência em nossos passos. O ar estava pesado, carregado de uma presença que não pertencia a este mundo.Quando chegamos à clareira onde deixei Marco, ele não estava mais l