POV Zion BelliniSaio da casa da Júlia com as mãos no bolso. O mundo lá fora parece normal demais. Gente passando, carros buzinando, crianças rindo. Mas por dentro? Eu tô um cemitério. O ar pesa nos pulmões como concreto molhado. Cada passo é uma luta contra a vontade de voltar, agarrar ela, beijar até faltar ar, gritar que eu esperei cada maldito dia, que eu contei cada madrugada me perguntando se ela ainda sonhava comigo. Mas eu não volto. Eu continuo andando. Um, dois, três passos.Respiro fundo. O cheiro do asfalto quente invade o peito, me queima. Penso na empresa. Penso nos códigos, nos servidores, nas reuniões que eu uso pra me esconder. Penso nas tatuagens, cada uma um grito mudo que ninguém nunca ouviu. Dois anos. Dois anos tentando esquecer aquela porra de risada, o jeito que ela ajeitava o cabelo, a mania irritante de corrigir minha postura. Dois anos me convencendo que eu não merecia, que ela estava melhor longe.E aí ela aparece. Ali. Linda, viva, madura. Mas os olhos… os

POV Zion BelliniEla para tão perto que sinto a respiração dela roçar na minha pele. O peito dela sobe e desce devagar, os bicos duros marcando o tecido fino. Eu fecho os olhos, tento lembrar de quem eu sou, de quem eu prometi ser. Mas tudo se apaga. Ela estica a mão, passa devagar pela minha mandíbula, os dedos frios, macios, queimando como fogo.— Zion… — ela sussurra, tão baixo que parece um pensamento.Eu abro os olhos. O rosto dela tá colado no meu. O cheiro do banho, o perfume leve, o calor. Eu passo a mão na cintura dela, puxo devagar, só um centímetro. Ela arqueia, a boca se abre, o ar falha.— Não… — murmuro, mas a voz sai sufocada. — Não faz isso comigo.— Eu não tô fazendo nada… — ela repete, os lábios quase encostando nos meus.O pau pulsa, duro, quase rasgando a calça. Meus músculos tremem, os dedos afundam na cintura dela. Ela encosta a testa na minha, o nariz roçando no meu.— Então me solta… — ela desafia, o sussurro carregado de veneno doce.Eu grunho, um som baixo, a

POV Alice KimO beijo vai morrendo devagar. Os lábios inchados, a respiração rasgada, o peito colado no dele. Quando a gente se afasta, só um pouquinho, eu vejo o rosto dele tão perto que parece meu. O olhar dele desliza no meu rosto, para na minha boca, depois volta pros meus olhos. As mãos dele ainda seguram meu quadril, forte, como se fosse me ancorar no mundo.O silêncio pesa. Mas não é aquele silêncio confortável. É um silêncio que grita, que empurra, que rasga. Eu abro a boca, mas não sei o que dizer. Ele também não. O corpo dele treme. O meu também. E, por um segundo, parece que a gente vai se beijar de novo. Mas ele solta meu quadril, dá um passo pra trás. O ar gelado invade meu corpo, me faz estremecer.— Isso… — ele começa, a voz falha. — Isso não devia ter acontecido.— Zion… — eu sussurro, o peito implodindo. — Não fala isso…Ele passa a mão no rosto, puxa o cabelo pra trás, respira fundo, como se estivesse se segurando pra não quebrar tudo ao redor.— Eu não sou bom pra vo

POV Alice KimA conversa flui. Ou pelo menos, parece. Lorenzo fala alguma piada boba, minha mãe gargalha alto, meu padrasto bate na mesa, Júlia quase cospe o suco. Eu tento acompanhar. Mas toda vez que Lorenzo encosta a mão na minha, ou ri pra mim, ou olha no fundo dos meus olhos, eu sinto o fogo queimar do outro lado da mesa.Zion.Ele finge comer, mas os olhos dele me atravessam como lâmina. Ele bebe água com força, os dedos estalam no copo. Minha mãe percebe. O olhar dela me segue, depois vai pro Zion, depois volta pra mim. Ela engole em seco, tenta puxar outro assunto. Eu não aguento mais. Levanto devagar.— Com licença… vou ao banheiro.Ninguém responde de verdade. Apenas Lorenzo me observa sair. Eu subo devagar, o coração batendo tão alto que ecoa nos ossos. Entro no banheiro, fecho a porta. Me apoio na pia, respiro. Olho no espelho. Os olhos vermelhos, o rosto pálido, a respiração toda errada."Ele disse que não era bom pra mim." Repito baixinho, como se fosse um mantra. Uma me

POV Zion Bellini— O que vocês acham de uma música? A viagem se tornaria mais rápida… — solto, casual, como se estivesse falando sobre o tempo.Alice me olha, os olhos arregalados, o peito subindo e descendo rápido. Meu pai se anima, minha madrasta também.— Ótima ideia! — meu pai fala, sorrindo. — Vamos colocar um jazz, pode ser?Eu rio, um riso baixo, falso, a mão ainda enterrada no short dela.— Claro. — digo, balançando a cabeça. — Jazz é perfeito.Eles começam a mexer no celular, empolgados, falando de playlists, shows antigos. A música suave enche o carro. Um sax chorando no fundo, uma voz lenta e grave.Perfeito. O disfarce perfeito. Eu volto pro meu foco. Deslizo os dedos mais fundo, devagar, sentindo cada centímetro quente, pulsante. Ela estremece, quase bate a cabeça no vidro.— Shhh… — eu murmuro, encostando a boca na orelha dela. — Aproveita.Eu sinto o tremor percorrer a espinha dela. Ela abre mais as pernas, como eu mandei. Boa garota. Sempre minha boa garota. Meus dedos