POV Alice KimA última coisa que eu esperava naquela noite era encontrar Zion Bellini no mesmo bar que eu.Mas ele estava ali.Encostado num balcão secundário, olhar sombrio, camiseta preta amarrotada, como se a vida tivesse batido nele e ele tivesse deixado.Fazia menos de uma semana desde a madrugada em que eu o encontrei destruído. Drogado. Vulnerável. Pela primeira vez, despido da arrogância.Ele me mandou embora.Gritou comigo como se eu fosse o problema — e não a única pessoa tentando ficar.E agora, estava ali. Inteiro por fora. Mas eu sabia.Sabia o que aquele silêncio escondia.Julia estava do meu lado. Vitor também. Julian, mais distante, conversando com alguém da antiga equipe. Eu só queria uma noite leve. Um sorriso fácil.Mas meu corpo já sabia que não seria assim.Fui ao banheiro pra respirar.E ele veio atrás.Literalmente.A porta se fechou. Trancou. E antes que eu pudesse falar qualquer coisa…— Você veio. — ele disse.— Eu vim ao banheiro. — rebati, seca.— Sabia que

POV ALICE KIMTrês dias. Três dias inteiros fingindo que o vídeo não existia. Que Matheus não tinha aquele olhar de cobra. Que Zion não andava pela casa como um fantasma prestes a quebrar o espelho mais próximo.Mas nada me preparou pra sexta-feira de manhã.Julian entrou na minha sala com um sorriso discreto — aquele que ele reservava pra anúncios de "boas notícias".— Temos um novo reforço pra equipe de desenvolvimento — disse, entregando uma ficha impressa.Olhei o nome.Engoli em seco.Matheus Bennett.A garganta secou. A espinha congelou.— Ele tem um bom portfólio e já trabalhou com sistemas de segurança e otimização de servidores. Achei que seria útil pro novo módulo do projeto.Ele não fazia ideia. E eu? Eu não conseguia esconder a cara de pânico.— Algum problema? — Julian perguntou.— Não… só uma surpresa.Matheus apareceu minutos depois.Sorriso de plástico. Camisa arrumada. Cabelo penteado.Mas os olhos? Ardiam como quem sabia exatamente onde atingir.— Alice — ele disse, a

Dia seguinte...POV ZION BELLININão sei o que foi pior.Ver o nome dele no crachá da empresa, andando pelos corredores como se tivesse esquecido tudo que fez.Ou vê-lo se aproximar dela. De novo.Matheus Bennett. A porra da cobra com terno engomado e aquele sorrisinho de merda, como se não tivesse gravado nosso beijo. Como se não estivesse com a faca nas mãos e o veneno no bolso.Eu vi.Vi quando ele chamou Alice pra sair no corredor. Vi o jeito como ela desviou o olhar, cruzou os braços e disse "não". Curto. Seco. Definitivo.Mas Matheus… Matheus nunca aceitou não como resposta.Minutos depois, a notificação acendeu a tela do meu celular.Um link.Redes sociais.Vídeo.Beijo. Nosso beijo. A gente, colado num canto escuro do bar. Minhas mãos no rosto dela. A boca dela na minha. A porra da explosão que deveria ter sido só nossa.Agora viral.Na legenda?"Quando os ‘irmãos’ se amam demais… 👀🔥"Meu sangue ferveu.Meu coração travou.E minha mente só repetia: Ele fodeu com tudo.O cel

POV Alice KimA mão tremia.Eu sabia que precisava ligar. Sabia que não podia fugir disso.Mas, ainda assim, fiquei encarando o nome “Mãe” na tela por alguns segundos antes de apertar o botão verde.O telefone tocou uma vez.Duas.Na terceira, ela atendeu.— Alô?A voz dela. Calma. Sempre tão calma. Até quando o mundo estava pegando fogo.Engoli em seco.— Mãe… sou eu.— Eu sei, filha.Silêncio.Daquele tipo que preenche o espaço entre duas pessoas que se amam, mas não sabem por onde começar a costurar os pedaços.— Eu vi. — ela disse, por fim. — O vídeo.Minha garganta secou de novo.— Mãe, eu…— Não. Deixa eu falar primeiro. — interrompeu, com firmeza. — Eu não tô ligando pra te julgar, Alice. Eu tô ligando porque sou sua mãe. E porque vi o jeito como ele te beijava naquele vídeo. Não era só desejo. Era desespero. E você… você não tava assustada. Tava entregue.A lágrima veio. Silenciosa.— Eu errei, mãe. Errei em tudo. Eu não devia ter me envolvido. Eu devia ter... controlado isso.

POV ALICE KIMDepois da conversa com Julian, voltei pra minha mesa tentando fingir que o coração não estava balançando como um lustre em meio a um terremoto.As horas seguintes passaram lentas, como se o tempo também tivesse sido atingido por toda essa bagunça emocional.Eu revisei documentos. Ajustei artes. Tentei responder e-mails com a calma de quem não quase desabou numa sala de vidro vinte minutos antes.Mas nada me preparou pra ele.Zion.Cruzamos no corredor perto da copa. Ele com uma pasta na mão, camisa preta dobrada até o cotovelo, o olhar escondido atrás da franja recém cortada.Não falamos nada.Mas os olhos dele grudaram nos meus por tempo suficiente pra tudo dentro de mim tremer — só que dessa vez, não cedi.Assenti com a cabeça, formal.Ele respondeu com o mesmo gesto, quase impessoal. Quase.Só que quando passou por mim, senti. O peso. A presença. O olhar que veio por cima do ombro antes dele dobrar a esquina.Foi como levar um soco interno e disfarçar com um suspiro.N