POV Alice KimEu não deveria ter vindo com esse vestido.Ele era sóbrio, elegante. Mas o tecido agarrava demais na cintura. E quando Julian me elogiou no carro — com aquele olhar que não me assustava, mas também não me deixava em paz — eu percebi: eu estava fingindo de novo.Fingindo que o frio na barriga era ansiedade profissional.— Você está linda, Alice. — ele disse, puxando a cadeira ao meu lado.— Obrigada. — murmurei.Sorrisos. Painéis. Abertura com investidores estrangeiros.Blackwood Tech em alta.E então…O ar mudou.Como se o ambiente detectasse a presença dele antes de mim.Eu virei o rosto. Devagar. Como quem teme um pesadelo em plena luz do dia.E lá estava ele.POV Zion BelliniEu já sabia.Já tinham me avisado. “O evento vai ser presencial dessa vez, Bellini.”Foda-se.Vesti qualquer coisa preta. Social o bastante pra entrar. Agressivo o bastante pra que ninguém se aproximasse.Mas eu não estava preparado pra ela.Alice.Com aquele vestido vinho que abraçava o corpo com

POV ALICE KIMO evento terminou com aplausos.Gente rindo, brindando com espumante barato como se o mundo estivesse certo.Mas dentro de mim… o mundo girava torto.Zion não estava mais lá.Sumiu.Do nada.De novo.Como sempre.E dessa vez, eu nem tentei procurar.Porque eu já tinha aprendido: Zion Bellini sabia desaparecer como ninguém. Mas o estrago… esse sempre ficava.— Alice. — a voz de Julian me puxou de volta pra realidade.Estávamos no estacionamento, já de noite, e ele abria a porta do carro com aquela gentileza de sempre. Um cavalheiro britânico no meio do meu caos emocional latino.Entrei.Ele deu a volta, assumiu o volante, e ligou o motor.— Você foi incrível. — disse, com aquele tom calmo. — A apresentação, o evento… tudo. Eles amaram você.Sorri. Mas meu sorriso tinha gosto de "quase". Quase me libertei. Quase comecei de novo. Quase consegui sair ilesa dessa história.— Obrigada, Julian. Por tudo.Silêncio confortável por alguns minutos, enquanto ele dirigia pelas

POV Alice KimLia e Ben.Nossos novos vizinhos do 604. Um casal de irmãos lindos, estilosos, meio hipsters demais pra esse prédio barato. Lia tinha piercing no nariz, cabelo colorido e um sorriso fácil. Ben parecia saído direto de um comercial de perfume.— Oi, vizinha! — Lia disse, com uma sacola de cookies na mão. — A gente estava ouvindo música ali e… bem, decidimos socializar. Tudo bem?— É… claro. — eu sorri, tentando parecer menos esgotada. — A gente está trabalhando, mas…— Podemos entrar? — Ben perguntou, já espiando pra dentro. — A gente não morde.Zion apareceu na sala com a expressão de quem morde, sim. E com força.— Quem são?— Nossos vizinhos. — respondi, seca. — Do 604.Ben olhou pra ele com aquele sorrisinho de quem já sentiu o terreno instável.— Opa. Tudo certo, cara?Zion cruzou os braços, camisa justa no peito, olhar que dizia "se encostar nela eu quebro seus dentes".— Tudo.Climão? Climão.Mas Lia já tava sentando no tapete, abrindo os cookies como se morasse ali

POV Alice KimA cozinha estava quente. E não era só por causa da torradeira que insistia em queimar o pão.Era por ele.Zion, sem camisa, só de moletom frouxo, encostado no balcão como se fosse o dono da porra toda. O cabelo bagunçado do sono, a tatuagem no braço que eu já conhecia bem demais e aquele maldito cheiro — madeira, café e perigo.— Vai queimar de novo. — ele disse, com aquele sorrisinho de canto, os olhos presos nos meus. — Quer ajuda ou vai continuar fingindo que dá conta sozinha?— Eu dou conta, sim. — rebati, virando a torrada com força, só pra provar um ponto. — Você é que está aí fingindo que não está prestando atenção em como meu short está curto.Ele arqueou uma sobrancelha.— Eu tô prestando atenção. E não tô fingindo, não.O silêncio que veio depois era quase audível. Um calor subindo pela espinha, pelas bochechas, pelo meio das pernas. Inferno. Ele ainda tinha esse poder.Zion deu dois passos em minha direção. Lento. Devagar como uma ameaça boa demais pra correr.

POV Alice KimEle dormia. Ou desmaiava. Ou fugia de si mesmo mais uma vez.Zion Bellini, o furacão, o veneno, o desastre que eu amava — estendido no meu sofá como um menino quebrado, fedendo a álcool, suor e mágoas.Fiquei ali por uns minutos, ajoelhada ao lado dele. Só observando.O peito subindo e descendo devagar, como se até respirar fosse difícil.A primeira coisa que fiz foi buscar um cobertor.Cobri ele com cuidado, evitando olhar demais. Porque se eu encarasse... eu ia chorar. De novo. E ele não merecia minhas lágrimas naquela hora.Depois fui até o banheiro. Enchi uma bacia com água morna. Peguei uma toalha limpa.Voltei.Me ajoelhei ao lado do sofá, de novo, e comecei a limpar o rosto dele com cuidado. Tinha sujeira de rua. De cigarro. De algum lugar onde ele provavelmente tentou esquecer o próprio nome.— Você está se matando devagar... — sussurrei, mesmo sabendo que ele não ouviria.Limpei o pescoço. A mandíbula. As mãos. Eram fortes, calejadas... e completamente soltas, l