Cap. 11Lúcios sorriu de lado, aquele velho sorriso que misturava sarcasmo e desprezo. — Eu cursei medicina antes de me voltar aos negócios, por causa de meu irmão. Cirurgião, inclusive. — Ele se virou em direção ao corredor. — Então eu mesmo cuidarei. Com vinte e dois anos, eu operava soldados sob tiros. Com vinte e quatro, já enterrei mais heróis do que você conhece por nome. Já esqueceu de onde eu vim quando voltei àquela maldita casa? — disse com esforço, mas firmeza. — As empregadas ajudarão no que for necessário. Mas a responsabilidade é minha agora.— O senhor...? Ah, verdade, você tinha se tornado Capitão Médico do Exército. É uma pena que teve que abrir mão dessa carreira. Talvez, se não tivesse sido isso, você ainda estaria andando ou... se eu tivesse voltado logo para te auxiliar naquela casa... mas depois da morte de seu irmão eu tinha sido demitido... se eu tivesse descoberto naquela época que você tinha retornado à mansão... talvez... — o assistente franziu a testa, sur

Cap. 13Rafael agarrou um dos homens pela gola da camisa, os olhos arregalados em puro desespero.— Me digam que vocês a salvaram! — suplicou, com uma fagulha de esperança queimando no fundo da garganta.Os dois homens se entreolharam, confusos. O que estava sendo segurado empurrou Rafael com força.— Você ficou louco? — rosnou. — A ordem foi enterrar o corpo, não salvá-la. Se não queria que ela morresse, devia ter se certificado melhor. Agora é tarde. Ela está morta. — Fez uma pausa e sorriu com crueldade. — Se quiser comprovar, é só subir mais um pouco. Não sobrou nada pra salvar.A risada sombria do homem ecoou em Rafael como um prego sendo cravado no peito. Ele soltou um suspiro contido e assentiu, engolindo o amargo silêncio.Sem dizer mais uma palavra, voltou ao carro. Ligou o motor e seguiu estrada acima, as curvas estreitas serpenteando por uma encosta úmida. A montanha parecia sufocada por uma névoa cinzenta e espessa, como se a natureza também estivesse de luto.Parou diante

Cap. 15— Você me conhece muito bem, só não se lembra agora. — Ele comentou sem a encarar.— Mas então por que olho para você e é como se eu nunca tivesse te visto? — Ela perguntou, se aproximando e estendendo a mão para tocar seu rosto, mas ele se afastou. Em resposta, ela acabou fazendo uma carinha emburrada, cruzando os braços sem dizer mais nada.Lúcios soltou um suspiro pesado, a encarando sem conseguir acreditar.— Com certeza, se você lembrasse quem eu sou, estaria com medo — assim como na festa de casamento. — Ele comentou com um sorriso sombrio.— A gente casou? — Ela perguntou com os olhos arregalados.Naquele momento, a porta se abriu e o médico entrou, interrompendo os dois. Lúcios recuou com a cadeira, ainda demonstrando desconforto por não ter tido tempo de explicar.O médico terminou de examinar Ângela com um semblante cauteloso.A sala estava silenciosa, exceto pelo bip ritmado do monitor ao lado da cama.Lúcios observava cada movimento do profissional com olhos intens

Cap. 17Lúcios congelou por um momento, a tensão evidente em seu maxilar trincado.— O que... você está fazendo? — perguntou entre dentes, tentando manter o controle.Ângela virou o rosto por sobre o ombro, os olhos grandes e úmidos de inocência.— Só quero que seque meu cabelo... está frio... — disse se encolhendo.Ele lançou um olhar aflito à empregada, como se implorasse por alguma interferência, mas a mulher abaixou a cabeça e fez uma breve reverência.— Perdão, senhor... mas Valerius foi claro. Disse que ninguém deveria interferir entre vocês dois, que ela é sua responsabilidade.— Quem é que paga o seu salário mesmo?! — ele resmungou, irritado, mas a mulher já saía apressada, batendo a porta atrás de si antes que ele pudesse protestar mais.Lúcios levou as mãos às têmporas, massageando-as com força, os dedos rígidos de frustração e tensão.A mulher sentada sobre ele, nua sob a toalha, agindo como se fosse a coisa mais natural do mundo, era uma bomba prestes a explodir em seus ner

Cap. 19— Marido... porque esta gritando, eu estou com sono...— Não me chame de marido... acorde! — ele ordenou, mas foi em vão.Ela estava encostada nele de uma forma tão íntima que seu corpo inteiro entrou em alerta, mas... também havia um conforto ali. Um estranho conforto que o enfraquecia ainda mais do que qualquer lesão.Ele não sabia o momento exato em que ela havia entrado em seu quarto. A última coisa que lembrava era de tê-la deixado medicada, coberta e segura.Ela suspirou em sonho, murmurando algo que ele não entendeu, mas que soou como uma súplica suave. Seus dedos se moveram devagar, buscando o peito dele e repousando ali, como se quisesse ouvir seu coração.Lúcios engoliu em seco.— Isso não pode estar acontecendo…Ele pensou em se afastar, mas sentia como se qualquer movimento pudesse quebrá-la ao perceber ela gemer de dor e murmura novamente algo indecifrável.Um leve bater na porta interrompeu seus devaneios.— Senhor? Está acordado? — a voz de Valerius veio abafada