Sophie não apareceu no trabalho. E James, por mais que o impulso falasse alto, não ligou. Não mandou mensagem. Não procurou por nenhum sinal. Não porque não quisesse. Mas porque, no fundo, temia o que poderia encontrar. Talvez Liam estivesse ao lado dela — e a simples ideia disso o travava. Ele passou o dia como quem cumpre um papel. Trabalhou, foi educado, eficiente. Preencheu planilhas, discutiu números, revisou contratos. Tudo com precisão. Mas a cabeça andava por outro lugar. Num quarto em meio à chuva. Num corredor banhado pela luz baixa da madrugada. Na ausência de Sophie. No fim do expediente, ele voltou para o apartamento num silêncio que parecia mais denso do que o trânsito na Lexington. Tirou os sapatos ainda na entrada, como sempre fazia, e deixou o casaco cair sobre o sofá. Foi direto para o banho. A água quente bateu em suas costas com mais propósito do que qualquer pensamento que tivesse tido o dia todo. Não era sobre limpar o corpo, era sobre tentar acalmar a al

O caminho de volta ao apartamento foi feito em silêncio. James dirigia com os olhos atentos à estrada e o coração descompassado. Liam, ao lado, recostado no banco do passageiro, mantinha o olhar perdido pela janela entreaberta. O vento da noite bagunçava seu cabelo, mas ele não parecia se importar. Estava longe dali, ausente, como se a mente navegasse em mares escuros demais para que alguém o resgatasse. Ao chegarem, James o ajudou a entrar no apartamento. Liam tropeçava nas próprias pernas, confuso, tonto — e havia algo naquela vulnerabilidade toda que doía em James mais do que ele gostaria de admitir. Levou o irmão direto para o banheiro e o colocou debaixo do chuveiro, girando o registro até a água jorrar gelada. Liam reclamou, tentou sair, mas James o segurou pelos ombros. — Fique aí. Você precisa ficar sóbrio. Ele saiu dali e foi até a cozinha. Preparou um café forte, daqueles que quase ardem na garganta, e deixou pronto sobre o balcão. Minutos depois, Liam apareceu, de

Os dias passavam em silêncio para James. Não o silêncio de sons, mas aquele mais incômodo — o silêncio interno, o que fazia tudo parecer distante e vazio. Ele seguia no automático. Acordava cedo, colocava o tênis e corria pelas ruas ainda adormecidas de Manhattan como quem tenta fugir da própria mente. Depois, se trancava no trabalho, mergulhando em planilhas, relatórios, reuniões e mais reuniões, como se o excesso de compromissos pudesse blindá-lo da dor que insistia em voltar no final do dia. Chegava no escritório antes do sol nascer e saía bem depois que ele se punha. À noite, por vezes, ligava para Eric e os dois saíam para beber. Eric tentava, de todas as formas, fazê-lo rir, aliviar sua carga, mas James, ainda que grato, carregava no olhar uma melancolia que nem os goles de uísque conseguiam disfarçar. Em alguns momentos, pensava em Grace. Em como ela sempre surgia nos momentos em que ele se sentia perdido. Se questionava se era o momento de procurá-la, se talvez ela pude

Liam se aproximou devagar, o olhar colado no rosto pálido de Sophie, buscando respostas que ainda não tinha. Ajoelhou-se ao lado da cama e pegou a mão dela com cuidado, como se temesse machucá-la. — O que aconteceu, Sophie? — perguntou em voz baixa, como quem teme a própria pergunta. Ela hesitou por um segundo, mas antes que pudesse responder, James se levantou. Seus olhos cruzaram os dela por um instante, e Sophie soube o quanto ele queria ficar. Mas ele não podia. Não mais. — Eu vou indo. — disse James, forçando a voz a sair firme. — Se precisarem de alguma coisa… qualquer coisa, é só me avisar. Liam apenas assentiu, ainda de joelhos ao lado da cama. James se dirigiu à porta, sem olhar para trás. No corredor, os passos dele ecoaram entre as paredes brancas do hospital, acelerados, como se quisessem deixá-lo mais longe do que o coração permitia. Mas, antes que ele pudesse virar o corredor, ouviu os passos de Liam atrás de si. — James, espera. Ele parou. Respirou fundo

James estava parado diante de Liam, o corpo tenso como se fosse feito de corda prestes a se romper. Liam o encarava, visivelmente surpreso. As sobrancelhas erguidas, o olhar desconfiado — não agressivo, só curioso. Aquilo não era comum. Não àquela hora. Não naquele lugar. Por um instante, nenhum dos dois disse nada. Apenas se mediram em silêncio, tentando decifrar o que não era dito. Liam cruzou os braços, levemente inclinado para trás, como quem busca equilíbrio. — O que você tá fazendo aqui? — perguntou, sem rodeios. — Aconteceu algo com Sophie? James hesitou. Respirou fundo, desviando o olhar por um segundo antes de responder. — Está tudo bem com ela — respondeu, com uma calma forçada. — Eu vim ver uma outra pessoa que foi internada aqui. Soube do que aconteceu e resolvi passar pra saber como estava. Liam franziu a testa, lançando um olhar desconfiado. — A essa hora? James assentiu, com um gesto breve. — Sim. Foi um acidente. Me avisaram há pouco, então vim dire