O céu rasgou-se como um véu de seda queimado. A rachadura brilhava em púrpura escuro, e dela escorria uma névoa que parecia gritar em silêncio. As árvores morreram ao toque do vento que desceu. O chão tremeu. Até o tempo hesitou.Brianna caiu de joelhos, sentindo a força que se aproximava como uma maré arrastando tudo. Sua marca queimava como nunca antes. Thanar cambaleou, com sangue escorrendo dos olhos.— Não é Ak’Zhar... — sussurrou ele. — É um dos Generais do Vazio. Um arauto. Eles mandaram um antes. Para limpar o caminho.A fenda sobre Myrdhall se abriu por completo, e dele surgiu algo que não tinha forma humana — pelo menos não completamente. Era alto, coberto por uma armadura viva, pulsante, como se carne e sombra tivessem se fundido. Seus olhos eram fendas de luz negra, e onde pisava, a terra apodrecia.Mas o pior era sua voz.— Trindade... finalmente encarnada. — Ele falou direto dentro da mente deles. — Cheguei para anunciar a queda. Não com palavras. Mas com fogo.Peter se

A floresta respirava com um silêncio raro. Após os horrores do confronto, os Guardiões haviam recolhido os corpos e reforçado as barreiras. Estavam seguros... por ora.Brianna encontrou Peter junto ao riacho, as mãos apoiadas em uma pedra grande e escura. Ele estava de costas, os músculos tensos, o dorso nu marcado por arranhões e cicatrizes ainda abertas.Ela não disse nada. Apenas se aproximou.Peter a sentiu antes mesmo de ouvi-la. Seu corpo inteiro reagia a ela como a terra ao toque da chuva.— Eu tentei me conter — disse ele, sem se virar. — Mas quando vi aquele demônio se aproximando de você, alguma coisa... quebrou.— Você me salvou — respondeu ela, sua voz baixa como um feitiço sussurrado.Ele se virou, os olhos dourados faiscando. Não havia ali apenas desejo. Havia dor. Ciúme. Medo.— Klaus sempre parece tão no controle. Tão seguro. Eu não sou isso, Brianna. Eu sou fúria, instinto. Se você me quiser, precisa me aceitar assim.Ela caminhou até ele. Sem responder com palavras,

A clareira ainda guardava os resquícios da madrugada, envolta em um silêncio úmido e expectante, como se a própria natureza soubesse que algo decisivo estava prestes a acontecer. As folhas das árvores pareciam conter a respiração, e a névoa rasteira se esgueirava entre as raízes, como véus de um altar prestes a ser consagrado.Brianna os convocara ao nascer do dia. Não fora um pedido — havia peso em sua voz, um chamado que exigia resposta. Peter foi o primeiro a aparecer, o corpo ainda marcado pela noite intensa que compartilhara com ela, as sombras da paixão mal dissipadas de sua pele. Klaus chegou logo depois, emergindo das sombras com o semblante firme e os olhos fixos nela… e também no rival que ele jamais conseguira ignorar completamente.Eles pararam frente a frente. O ar ao redor vibrava, carregado de eletricidade emocional — ciúmes mal resolvidos, lembranças ainda frescas e o peso de um conflito que se arrastava há tempo demais. A tensão era quase palpável.Brianna permaneceu

A noite chegou sem estrelas. O céu era uma sombra sólida sobre Raventon, espelhando o que todos sentiam por dentro: a iminência de algo imenso e irreversível.Na clareira, o selo brilhava suavemente, pulsando em um ritmo lento, como se estivesse vivo. Mas, por ora, havia silêncio. Uma calma densa, quase cruel, como o suspiro profundo antes de um grito.Os aliados estavam espalhados pelos arredores. Cada grupo em sua vigília, cada ser se preparando da maneira que conhecia. Mas mesmo em meio à tensão, o calor da união começou a nascer.Brianna caminhava entre eles, sentindo o peso da responsabilidade, mas também a força invisível dos laços que cresciam. Era como se o próprio mundo estivesse alinhando as peças para a última jogada.Nara, a loba prateada, estava sentada sobre uma rocha, afiando uma lâmina de prata com o olhar perdido nas chamas da fogueira. Quando Brianna se aproximou, ela ergueu os olhos.— Ele ainda a ama, sabe? — disse Nara, sem rodeios.Brianna não fingiu não entender

O nascer do sol não trouxe alívio.O céu parecia em brasas, tingido de vermelho pálido e cinzas dançantes. A floresta ao redor de Raventon sussurrava em línguas esquecidas, como se a própria natureza se preparasse para o que estava por vir.Dentro do antigo círculo de pedras, Thanar estava ajoelhado, traçando com precisão os últimos selos no chão com sangue de draco e pó de obsidiana. Sua expressão era de exaustão contida, mas os olhos dourados mantinham um brilho sereno.Brianna se aproximou, ainda sentindo o eco da noite anterior em seu corpo. Peter e Klaus caminhavam logo atrás, ambos silenciosos, mas a tensão entre eles parecia ter dado lugar a algo mais profundo. Um respeito desconfiado. Uma trégua implícita.— Os símbolos estão quase prontos? — perguntou Brianna.Thanar assentiu. — O círculo maior já está completo. Falta ativar as runas com sua energia e estabilizar os três pontos de ancoragem. Depois disso… não haverá volta.— E os outros? — perguntou Klaus. — Você disse que re