Matteo estava sentado à mesa do escritório, a janela aberta, deixando entrar o som abafado dos jardins. Alessandra entrou com uma pasta preta sob o braço e a postura meticulosamente alinhada.— A papelada está pronta — anunciou, colocando a pasta diante dele. — O juiz foi confirmado. Vem até a mansão amanhã, no fim da tarde. Discreto, profissional… e bem recompensado.Matteo abriu a pasta e folheou os documentos com a calma de quem lia uma receita de veneno.— Um casamento sem aplausos… mas com todas as promessas que importam — murmurou.Alessandra o observou por um momento. A testa levemente franzida denunciava um incômodo contido.— Ela sabe com quem está se casando? — perguntou enfim, num tom que misturava curiosidade e alerta.Matteo ergueu os olhos. Havia uma sombra de ironia, mas não hostilidade.— Não importa. O importante é que eu sei com quem estou casando.Alessandra inclinou levemente a cabeça, como se admitisse a resposta, mas não concordasse com ela.— Você a ama, Matteo?

O quarto de Matteo estava mergulhado em uma penumbra dourada da tarde que entrava pelas cortinas entreabertas. Sobre a escrivaninha, repousava uma pequena caixa de veludo escuro, aberta, revelando as duas alianças reluzentes. Ele estava sentado diante dela, os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça baixa.Segurava uma delas entre os dedos como se fosse uma arma sagrada. O metal frio contrastava com o calor que queimava sob sua pele. Por um instante, Matteo pegou o celular. Desbloqueou a tela. Procurou por um nome. O polegar parou sobre o contato de Benedetta. Seus olhos escureceram. Bloqueou a tela. Guardou o telefone.Caminhou até o espelho da cômoda. Encostou-se à moldura e fitou o próprio reflexo. A expressão firme, o maxilar tenso.— Hoje ela deixa de ser promessa — murmurou. — Vai carregar meu nome. Meu sangue. Meu destino.Guardou as alianças na caixa. Fechou a tampa com um estalo seco. Vestiu o paletó preto com a precisão de um ritual. Ajustou os punhos da camisa, apertou os

Matteo estava de pé junto à janela do escritório, a camisa branca semiaberta revelando parte do peito e os punhos dobrados até o antebraço. O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas, dourando o ambiente enquanto ele observava a cidade ao longe com um misto de determinação e satisfação.— Quero uma casa — disse, rompendo o silêncio. — Longe daqui. Num condomínio fechado. Um lugar só meu e dela.Alessandra, sentada diante da mesa, ergueu os olhos do tablet. Surpresa. Quase deixou escapar um sorriso.— Isso é… o mais romântico que você consegue ser?— Quero essa casa antes do bebê nascer — continuou ele, ignorando a provocação. — E quero longe de qualquer sombra de Benedetta.— Considerando a sombra que Benedetta projeta, vamos ter que mudar de continente — murmurou Alessandra.Matteo soltou um meio sorriso. Depois se virou, pegando um copo de café.— Alguma novidade sobre Ferraro?Alessandra balançou a cabeça.— Nada ainda. Mas ele vai ao evento dos Carbone.— Então descobriremos lá. —

Bia andou até a lateral da casa, e encontrou Isadora rindo com duas primas perto da mesa de doces.— O que foi? — Isadora perguntou percebendo o olhar triste da amiga.— Ele tá estranho. Antes rebatia minhas provocações, mas agora… Aconteceu alguma coisa.— Fala de Henrique? — Isadora limpou os dedos de glacê com um guardanapo.Beatriz olhou de lado a outro, preocupada, e Isadora entendeu que ninguém deveria saber da paixonite da amiga pelo policial.— Será que é algo no trabalho? Às vezes Matteo também fica de cara amarrada.Bia riu. — Deve ser. Mas sei la. Hoje é dia de festa, por que eles não esquecem essas coisas por um minuto?Isadora deu de ombros e Bia suspirou.— Por que não chama ele pra dançar?— Acha que não já tentei?— Bom, e se a gente inventa uma… competição?— Oh! Boa ideia. Uma competição de casais. E você pode participar com Matteo. — Ele não vai ficar feliz comigo pisando em seu pé novamente.Bia riu.— Vamos procurar por eles. As duas caminharam até o ponto onde

Horas depois, a porta se abriu com um estalo suave. Matteo entrou no escritório com os ombros tensos, os olhos marcados pelo desgaste do dia. Parou ao ver Isadora deitada no sofá, o vestido com a fenda revelando mais do que escondendo, o perfume dela ainda presente no ar.Seus traços endurecidos vacilaram. Um meio sorriso surgiu nos lábios. Aquele tipo de sorriso que nunca mostrava aos outros.Aproximou-se em silêncio. Ajoelhou-se ao lado dela e tocou de leve o rosto. Os olhos estavam um pouco inchados. Ela havia chorado. Seu coração apertou.Sem despertá-la, a tomou nos braços com cuidado. Isadora se remexeu levemente, a cabeça encostando em seu peito, e ele a levou para o quarto com passos silenciosos.Ao deitá-la na cama, ela acordou parcialmente, os olhos semicerrados, a respiração lenta.— Fica comigo… por favor… — ela murmurou, segurando o terno dele com dedos fracos.Matteo hesitou. Tocou o rosto dela com a ponta dos dedos, a voz saindo baixa:— Estou ocupado.Mas ela não o sol