POV NATÁLIAEu estava sentada de frente para o seu Nestor no imenso e antiquado escritório dele. Sempre que entrava ali, sentia uma euforia — imaginando que, quando aquele matusalém finalmente batesse as botas, eu transformaria tudo em um lindo closet chiquérrimo.— Natália, você percebeu o transtorno que causou?Eu precisava fingir arrependimento. Péssimo!— Sim, seu Nestor. Eu fui muito inconsequente.— Ainda bem que sabe. Eu gosto muito da sua família e prezo por você também. Afinal, a conheço há muito tempo.Assenti.— Obrigada.— Assim que tudo isso passar, você também irá pedir desculpas à Catarina.— Desculpas??? — me alterei. — Digo… mas tem necessidade? — ri sem graça, tentando conter meu descontrole.— Ora, todos iremos nos desculpar com ela. Sem exceções.Engoli meu orgulho e sorri da maneira mais falsa que consegui.— Claro, seu Nestor. Pedirei… desculpas. À Catarina. Pobrezinha, não merecia isso tudo, né?— Não mesmo. Enfim, é só por esta tarde. Pode ir.— Sim, obrigada.

POV BRUNOEu devia ter parado pro José? Tê-lo ajudado?Talvez.Mas depois do soco que ele me deu, o que eu mais queria era que ele se ferrasse.E, além disso, eu ia encontrar a Catarina primeiro.— Mas como vou achá-la?Aí pensei: como ela foi a pé, que caminho poderia ter tomado? Não seria o mesmo que um carro.— Talvez ela tenha se guiado pelo GPS do celular. Catarina não tem cara de que seria burra ao ponto de não olhar ao menos um mapa.Parei o carro na beira da estrada e abri o Google Maps, como se estivesse a pé.Sim, havia uma trilha pelo pasto mais à frente, que reduzia bem o tempo até a estrada de asfalto.— Tem que tentar a sorte, bonitão — disse a mim mesmo.Havia um guarda-chuva no porta-luvas. Eu o peguei e desci do carro, após memorizar bem o trajeto. Era torcer para encontrar a Catarina antes de todos eles.POV JOSÉ EDUARDOEu tentava empurrar o carro daquele buraco, mas nada. Sozinho seria impossível. Minhas mãos molhadas escorregavam pela lataria.Meu pai finalmente

POV BRUNOMeia hora antesEu encontrei a Catarina desfalecida perto de uma árvore.Estava escuro, mas pelo pouco que pude ver, ela estava pálida. Meu ímpeto foi de cobri-la.— Caraca, menina, o que você tava pensando? — eu disse.Ao tocar sua pele, Catarina estava gelada feito um cubo de gelo. Percebi que tremia.— Eita, deve ser hipotermia.Não sabia muito o que fazer. Talvez abraçá-la e tentar aquecê-la com o calor do meu corpo por alguns minutos.Foi o que fiz. Eu me sentei ao lado dela e a abracei.Fiquei longos segundos ali, até ela finalmente parar de tremer.Agora era hora de carregá-la até o carro. Catarina precisava se aquecer de verdade.— Vem, vamos voltar pra casa.Por sorte, ela era leve. Pegava muito mais que aquilo de peso na academia.Finalmente consegui levá-la até meu carro.Eu a coloquei gentilmente no banco do carona e passei o cinto por s

POV CATARINAEu não ia ver aqueles dois brigando de novo.Estava ensopada, quase morri de hipotermia. Ao menos, deviam ter a decência de se comportar como dois homens adultos.Mas… será que aquilo que o Bruno disse era verdade?— Eu tô voltando pra fazenda. Se vocês dois querem ficar aí, fiquem!Eles se soltaram e se colocaram de pé.Estavam mais sujos de lama do que nunca. Haviam rolado no chão com gosto.— Eu te acompanho — falou José Eduardo.— Talvez fosse melhor a Catarina ir com alguém que tenha maturidade.— Bruno, não começa — falei.Os dois me seguiram para fora do cafezal.— Mas sabe o que é engraçado…Ia começar um dos dois.— Não. Ninguém quer saber. Os dois vão ficar caladinhos até chegarmos à fazenda. Eu quase morri e tô exausta. Então NÃO! Calem a boca.Depois desse esporro, fui pisando duro pela estrada de lama.Estava frustrada com t

POV CATARINAEu tentei recuar alguns passos, mas o corpo de José Eduardo me acompanhava.Só que, a cada segundo que passava com os lábios dele nos meus, mais eu sentia um arrepio, um calor, uma fraqueza.Era como se beijar José Eduardo fosse algo que eu tivesse precisado a vida toda, mas não soubesse. O encontro da boca dele na minha era como uma combustão que gerava uma chama intensa.— Desculpa. Desculpa — disse ele, se afastando. — Eu vim aqui só… ah, deixa pra lá. Bobagem.José Eduardo caminhava em direção à porta. Meu coração estava acelerado, me dizendo para não deixá-lo partir sem dizer o que eu tinha sentido.Mas… será que eu deveria mesmo dizer o que sentia? José era inflamável. Poderia ser apenas fogo de palha.E a Natália? Os dois não estavam juntos? Agora estava ali, me beijando.Mas, meu Deus… pareceu tão sincero. Tão visceral aquele beijo. Doce.Era agora ou nunca, Catarina.— Não. Fica — falei num impulso que não pude conter.Ele parou no meio do caminho. Estava de cost