Continuação. O resto da manhã passou arrastado. Cada vez que o telefone tocava ou alguém batia na porta da minha sala, eu esperava que fosse ela. E, claro… era. Olívia entrou com uma pilha de relatórios pra eu assinar. A postura impecável, o salto batendo com força no chão, o olhar fixo nos papéis… como se eu fosse só mais uma tarefa burocrática no dia dela. Mas eu conhecia cada uma daquelas expressões. A forma como ela evitava olhar pra mim era o jeito mais claro de dizer que ainda estava remoendo tudo. Peguei os documentos das mãos dela, mas antes que ela saísse, falei: — Não vai perguntar se eu estou bem? Ela parou na porta, sem se virar. — Achei que você já tinha assistência suficiente pra isso — respondeu, com veneno na voz. Levantei o olhar, estreitando os olhos. — Está falando da Alice? Ela deu um sorriso cínico, ainda de costas pra mim. — Você largou tudo… e todos… por ela ontem. Não lembra? Antes que eu pudesse responder, ela saiu, batendo a porta com mais força

Otávio Narrando Tentei manter a pose enquanto conversava com o Matheus. Ele falava alguma coisa engraçada, como sempre fazia pra me distrair, mas a verdade era que eu mal conseguia prestar atenção nas palavras dele. Minha cabeça ainda estava lá… naquela sala… naquele beijo… e naquele maldito tapa. Eu tremia por dentro. Minhas mãos ainda estavam geladas, o coração disparado. Toda vez que eu fechava os olhos, lembrava do jeito que ele me encostou na porta, das mãos dele na minha cintura… da respiração dele misturada com a minha. Mas ao mesmo tempo… a raiva ainda queimava. — Olívia…? — Matheus chamou, rindo. — Tá me ouvindo ou tá hipnotizada? Forcei um sorriso, tentando disfarçar. — Tô ouvindo, tô ouvindo… Menti. Claro que menti. Mas foi aí… foi exatamente aí… que eu senti. Aquele arrepio gelado subindo pela minha nuca. Como se meu corpo tivesse percebido antes de mim. Virei o rosto devagar, e lá estava ele. Otávio. Saindo da sala dele. Com o paletó jogado por cima do omb

Olívia narrando Já estava difícil manter a compostura perto de Otávio depois daquele beijo… e agora, pra piorar, íamos ter que passar a noite no mesmo quarto. Sério… alguém lá em cima só pode estar se divertindo com a minha vida. Pegamos a chave na recepção e seguimos juntos pelo corredor, em um silêncio constrangedor. Cada passo parecia pesar uns dez quilos… e o clima entre a gente estava tão tenso que dava pra cortar com uma faca. Quando abrimos a porta, a primeira coisa que vi foi a cama. Enorme. De casal. Com aqueles lençóis branquinhos, travesseiros fofos e uma iluminação suave que deixava o ambiente com um ar… romântico demais pro meu gosto naquela situação. — Que lindo! — exclamei, girando no meio do quarto, tentando disfarçar meu nervosismo. — Realmente… bem aconchegante… pra uma cidade pequena — Otávio respondeu, mexendo no celular como se o quarto não fosse nada demais. Corri até o banheiro pra fugir da presença dele por alguns segundos. Quando abri a porta e vi uma ba

Otávio Narrando Depois de mais um dia caótico de reuniões, relatórios e tentativas frustradas de conversar com a Olívia, eu finalmente estava me preparando pra ir embora. Já passava das oito da noite. O escritório começava a esvaziar… as luzes de algumas salas já estavam apagadas… só a minha e a da Alice ainda acesas. Terminei de organizar alguns papéis quando ouvi a voz dela na porta. — Posso entrar? — Alice perguntou, com aquele tom doce, mas que eu já sabia muito bem que era tudo menos inocente. — Claro. — Respondi, tentando não demonstrar cansaço. — Alguma pendência? Ela entrou, fechou a porta atrás de si como sempre fazia quando queria alongar a conversa. — Na verdade, não. Só… queria conversar um pouco. — Ela sorriu, vindo até a mesa. — Faz tempo que a gente não tem um momento só nosso, né? Suspirei, já imaginando onde aquilo ia parar. — A gente trabalha junto todos os dias, Alice. — Disse, dando um sorriso rápido só pra aliviar o clima. Ela deu uma risadinha b

Otávio Narrando.O jantar terminou… enfim. Mas o clima estranho ficou ali, pairando no ar como uma fumaça difícil de dissipar. Quando Olívia se levantou, pegando a bolsa e agradecendo com aquele sorriso educado demais pra ser sincero, eu sabia que era a minha deixa. Me aproximei devagar, tentando parecer casual. — Eu te levo em casa — soltei, com a chave do carro já girando nos dedos. Na mesma hora, Alice se adiantou. — Ah, não precisa! O Thalisson pode deixar ela. Né, Thali? Ela lançou aquele olhar todo animado pro irmão, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Thalisson, claro, não perdeu tempo. — Posso sim, claro! Sem problema nenhum — disse, já pegando o paletó. Mas antes que qualquer um dos dois seguisse com a ideia, eu fui mais rápido. — Não, tá tranquilo. Eu levo. Até porque… — lancei um olhar de lado pra Olívia — Eu preciso conversar com ela assuntos relacionados ao trabalho. Falei de um jeito leve, mas deixei claro que não era um convite. Era um fato. Alice a