Anthony narrandoDesde que aquele moleque cruzou meu caminho lá na frente do hospital, minha cabeça não parou mais. Era como me ver menor, tipo um espelho do passado. Mas o que mais mexeu comigo foi o jeito da Ana Kelly. Ela é observadora, ela sente as coisas. E desde aquele dia, algo nela mudou.Hoje, enquanto ela colocava a TomTom pra brincar com os brinquedos novos, eu me aproximei, sentei do lado dela no tapete da sala e soltei:— Tá acontecendo alguma coisa, Kelly? Tu tá estranha desde aquele dia no hospital.Ela respirou fundo, como se estivesse segurando aquilo havia tempo.— Eu sei que se ele fosse teu filho, Anthony… — ela começou, me encarando com os olhos cheios de verdade — ...ele tem dez anos. Dez. Eu nem pensava em te conhecer há dez anos atrás. Eu ainda nem pensava em homem, pra ser bem honesta. Mas...— Mas...? — incentivei, já sentindo o nó se formando no peito.— Mas tua mãe tá desconfiando que esse menino pode ser filho do teu pai. E aí, Anthony... é uma traição. Tu

Sr. Carter narrandoEla tava aqui… minha mulher, minha vida, minha paz e minha tempestade. Encostada na beira da cama, me olhando com aqueles olhos que me desmontam desde o primeiro sim.Me aproximei devagar, como quem manuseia uma joia rara. Minhas mãos tocaram os ombros dela, puxando a blusa com cuidado, sem pressa. A pele dela arrepiou assim que os dedos encontraram o colo. Beijei aqui, com calma… como se fosse a primeira vez. E em certo sentido, era. Era a primeira vez depois da dúvida. Depois da dor.Ela fechou os olhos, suspirando.— Arthur… — ela murmurou baixinho, como se o nome tivesse peso, saudade e desejo ao mesmo tempo.Soltei o fecho do sutiã dela com um toque preciso, e deixei o tecido escorregar pelos braços dela. Levei meus lábios até o pescoço, beijei o ombro, desci devagar, saboreando cada pedaço daquele corpo que conheço há mais de duas décadas e ainda me enlouquece como se fosse novo.Ela gemeu baixinho quando minha língua contornou o bico do peito. Chupei devagar

Anthony Narrando O último dia sempre chega rápido demais quando a gente tá cercado de paz. Acordei com o som das risadas vindo do lado de fora, o cheiro de café invadindo o quarto e aquele calorzinho no peito que só a família é capaz de trazer. Me espreguicei devagar, virei pro lado e vi Ana Kelly ainda dormindo, com a TomTom enroscada nela, as duas do jeitinho que Deus mandou. E foi aí que caiu a ficha de novo… Eu tenho tudo.Levantei devagar, deixei elas ali e fui pra varanda da sede principal. A grama ainda úmida pelo sereno da madrugada, o sol nascendo devagar por trás das montanhas. Olhei em volta e vi: a família que antes era resumida ao meu pai, minha mãe, a Josefa… agora é uma constelação inteira.Marcelo e Jéssica rindo enquanto organizavam o piquenique com a ajuda da dona Esmeralda aqui é uma senhora, que sempre que a gente está hotel fazenda, ela vem para ajudar a Josefa e a minha mãe. O Vítor com a Marcela nos braços, cochichando alguma coisa que fez ela rir baixinho. Es

Luísa narrandoO relógio já marcava meio-dia e vinte quando estacionei no prédio das Empresas Carter. A manhã tinha passado voando entre os cuidados com a TomTom, algumas mensagens pendentes no celular e o coração ainda apertado por tudo que a gente vinha tentando resolver. Eu precisava olhar nos olhos do Arthur. Precisava estar ali, perto, mesmo sem saber explicar por quê.Subi direto. Conhecia aquele prédio como conheço minha própria casa. Quando passei pela porta do escritório, o barulho das minhas sandálias ecoando pelo chão de mármore chamou atenção.O Arthur levantou na mesma hora da poltrona, os olhos grudados em mim com aquele olhar que só ele tem quando percebe que alguma coisa não tá certa.— Meu amor… tá tudo bem? — ele perguntou, vindo até a porta com a testa já meio franzida.Assenti com um sorriso discreto.— Tá sim. Eu só vim almoçar com vocês… achei que seria bom.Anthony se levantou também, ajeitando a camisa dentro da calça com um gesto impaciente.— O que que tá aco

Anthony Narrando Eu fiquei aqui, olhando pra Camila e pro menino — o Álvaro — e tentando organizar os pensamentos. O sangue parecia quente demais pra ficar só correndo nas veias. Era como se cada batida do meu coração viesse com um soco. Não era só surpresa. Era indignação, era raiva, era… decepção.— Eu não acredito… — falei, quase sem voz. — A Bárbara teve essa coragem.— Como é que ela teve acesso a essas informações? — foi a Luísa quem perguntou, com a voz embargada, olhando pra mim e depois pro meu pai.Engoli seco, puxei o ar com força.— Bárbara sempre foi uma pessoa de confiança. — disse. — Quando ela entrou pra Carter, virou minha secretária particular em menos de três meses. Ela sabia de coisas que ninguém mais sabia. Agenda, compromissos, contratações, dados pessoais… até o lugar onde o meu pai mantinha o material genético congelado pra doação, por precaução, em caso de doença no futuro.Ana Kelly soltou uma gargalhada amarga. Aquela risada que vem quando a dor já é grande